A Bolsa de Valores de São Paulo fechou 2019 com um crescimento de mais de 30% e os analistas esperam para 2020 novas altas, graças à redução das tensões internacionais, à queda nas taxas de juros e às reformas pró-mercado do presidente Jair Bolsonaro.
Este é o quarto ano consecutivo de ganhos do Ibovespa, que passou de 87.887 pontos no final de 2018 para 115.645 pontos no fechamento do último pregão do ano, na segunda-feira (30), com um aumento de 31,5%.
Na quinta-feira, o Ibovespa atingiu seu recorde histórico de 117.219 pontos ao longo do dia e de 117.203 no fechamento.
Desde 2016, quando o ciclo começou, o Ibovespa avançou 166%.
Este ano foi o segundo ano de crescimento mais rápido da década, após a disparada de 37% em 2016. Esse salto ocorreu após a queda de 12% em 2015, quando o país estava afundando em uma recessão de dois anos e na crise política.
Seguiram-se um aumento de 27% em 2017 e 15% em 2018, apesar do fato de a economia ter tido um crescimento fraco de 1,3% nesses anos.
A Bolsa brasileira não foi a única com altos rendimentos este ano, fortalecidos nas últimas semanas com os sinais de um acordo para acabar com a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.
Em Wall Street, o Dow Jones e o Nasdaq acumulam ganhos de 23% e 35%, respectivamente. Na Europa, o DAX de Frankfurt ganhou 31% e o CAC 40 de Paris 26%.
Em busca do consumo perdido
As baixas taxas de juros na Europa e nos Estados Unidos também contribuíram para o rally brasileiro, levando os investidores a buscarem colocações de maior risco.
O Banco Central do Brasil (BCB), com inflação controlada, reduziu a taxa Selic em dezembro para um nível recorde de 4,5%.
Refletindo a maior facilidade de acesso ao crédito, entre os setores mais rentáveis em 2019 estão as vendas no varejo e a construção civil, além de proteínas animais. Também o da energia, diante da perspectiva de privatização da Eletrobras.
O índice do setor imobiliário subiu este ano 70% e o do consumo varejista, 56%.
Os gigantes brasileiros tiveram comportamentos variáveis. A Petrobras, imersa em um vasto plano de vendas de ativos, valorizou-se 28% desde janeiro.
A Vale, que afundou mais de 15% após a tragédia mineira de Brumadinho (270 mortos) em janeiro, registrou um ganho de 6,5%.
O fator Bolsonaro
Em 2019, as operadoras ficaram de olho no cumprimento do programa de ajuste e privatização prometido por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Não temos como não falar da eleição: um presidente mais liberal com uma equipe liberal mudou a perspectiva do país. O governo deu direcionamento a reformas que vinham sendo adiadas por vários governos”, diz Jefferson Laatus, da consultora Laatus.
O mercado chegou a temer que as polêmicas provocadas pelos setores mais ideológicos do governo de direita enfraquecessem essa aliança, mas se tranquilizou quando o Congresso aprovou, em outubro, a reforma previdenciária, que prevê uma economia de 800 bilhões de reais em dez anos.
Agora pressiona por outras reformas, como a administrativa ou a tributária.
“A expectativa para 2020 é muito grande, 2019 foi um ano base para o Brasil arrumar a casa e tomar medidas que ainda vão render frutos. O ano de 2020 tende a ser muito melhor, com mais reformas e privatizações, e medidas que tendem a acelerar a economia”, acrescenta Laatus.
Além disso, com a queda nas taxas, as empresas podem “pedir empréstimos mais baratos e começar a investir”.
O crescimento econômico mostrou sinais de maior dinamismo no terceiro trimestre, principalmente no consumo, e as vendas de Natal confirmaram que a tendência se reforçou no quarto.
“Os dados macroeconômicos dão sustentação para que o Ibovespa continue crescendo”, diz Alberto Ajzental, executivo financeiro do setor imobiliário, que menciona projeções que elevam o índice a 130.000 pontos.
Fernando Bergallo, diretor de operações cambiárias da FB Capital, acredita que, caso o cenário externo melhore, o Ibovespa poderá exceder os 200.000 pontos “em um horizonte de um ou dois anos”.