O presidente argentino, Alberto Fernández, obteve no último sábado (21) um apoio crucial do Congresso, que aprovou a lei de emergência econômica com a qual almeja tirar o país da pior crise em duas décadas.
Segundo a AFP, o governante peronista de centro-esquerda enviou o projeto de lei ao Parlamento na terça-feira para o trâmite urgente, em seu primeiro projeto legislativo desde que assumiu a presidência em 10 de dezembro, depois derrotar o liberal Mauricio Macri no primeiro turno da eleição.
A maioria peronista venceu com o apoio de aliados e aprovou a lei na madrugada deste sábado por 41 votos a favor do texto, 23 contrários e uma abstenção no Senado. A Câmara dos Deputados aprovou o texto na quinta-feira.
A lei estabelece aumentos de impostos para setores das classes alta e média, concede incentivos fiscais à produção, benefícios de impostos para as classes mais desfavorecidas e concede faculdades ao Poder Executivo para renegociar a dívida pública, entre outros pontos.
O governo pretende frear a queda da economia, que enfrenta uma recessão, com 3,1% de baixa do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, inflação de 55% em ritmo anual, 40% da população na pobreza e uma dívida que representa quase 90% do PIB.
Urgência
A lei foi examinada sem atrasos no Senado, que não fez alterações no texto aprovado na Câmara dos Deputados.
Os votos contrários foram todos do opositor Juntos pela Mudança, do ex-presidente Macri, que no entanto permitiu o debate no Senado ao proporcionar o quorum.
De modo paralelo ao debate, conduzido pela ex-presidente do país e nova presidente do Senado Cristina Kirchner, Fernández pediu à oposição para “deixar de lado a soberba”.
“Os que dizem estar preocupados com as pensões dos aposentados hoje são os que em quatro anos de governo fizeram com que eles perdessem 20% do salário real”, acusou Fernández.
O projeto havia sido aprovado na Câmara dos Deputados na quinta-feira por 134 votos a favor e 110 contrários, após a eliminação de um artigo polêmico que concedia amplas faculdades ao Poder Executivo para modificar a estrutura do Estado.
A lei, chamada de Solidariedade Social e Reativação Produtiva, declara emergência em 11 áreas, da econômica até a saúde, e terá vigência até 31 de dezembro de 2020.
O governo de Fernández deve enfrentar uma negociação da dívida que se aproxima de 90% do PIB, depois que o país perdeu o financiamento dos mercados em 2018.
Na sexta-feira, as agências de classificação de risco Fitch e S&P anunciaram que a Argentina entrou em default seletivo e rebaixaram a nota da dívida depois que o governo adiou, de modo unilateral, até agosto o pagamento de quase 9 bilhões de dólares de vencimentos em títulos.
Neste sábado, somou-se a SP Global, que alertou para “as crescentes vulnerabilidades de crédito da Argentina” e rebaixou para default seletivo a classificação da dívida de curto prazo, e de CCC- para CC a de longo prazo.
O presidente disse que, embora a Argentina tenha a vontade de pagar, não está em condições de cumprir os vencimentos de uma dívida de quase 330 bilhões de dólares, o que inclui desembolsos do FMI por 44 bilhões.
No contexto de escassez de divisas, a nova lei estabelece um imposto de 30% sobre as operações de compra de moeda estrangeira e de aquisição de bens e serviços em divisas, em dinheiro ou por cartão de crédito, enquanto mantém o teto de compra de 200 dólares por pessoa ao mês.
Também busca um financiamento urgente para um plano de combate à fome com cartões de alimentação gratuitos para mais de dois milhões de pessoas, em um país com 44 milhões de habitantes.
A lei faculta ao governo a possibilidade de aumentar os impostos sobre as exportações de grãos e oleaginosas, uma medida que gerou tensão com o setor agropecuário.