Neto do ex-presidente Lula, Thiago Trindade, estudante de Ciências Sociais, segue pendurado no gabinete de Vicentinho (PT) na Câmara dos Deputados. Salário? Segundo a revista Veja, ele recebe R$ 4.361,33 e os auxílios de R$ 982,29 e fica lotado no gabinete de São Bernardo do Campo.
“Apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, mas com parentes importantes.”
Segundo a revista Época, a descrição bem-humorada acima — uma referência a Belchior — está no perfil do Instagram de Thiago Trindade Lula da Silva , neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , reflete bem a saga do jovem até aqui: se antes era avesso à fama e aos palanques de atos políticos, a alcunha de “neto do Lula” não o permitiu escapar dos holofotes.
No dia 7 de novembro, um dia antes da soltura do ex-presidente , sua conta na rede social possuía menos de 7 mil seguidores.
No dia 9, quando o avô o apresentou como neto em seu discurso na sede do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, em São Bernardo do Campo, já eram mais de 20 mil.
Thiago tornou-se o novo “crush” dos seguidores de Lula : nas redes sociais, todos queriam saber se ele “também estava livre”.
Hoje com 23 anos, o filho de Marcos Cláudio Lula da Silva — filho da ex-primeira dama Marisa Letícia e adotado por Lula — e de Carla Ariane Trindade da Silva passou a adolescência distante da política.
Em 2012, seu pai, Marcos Lula da Silva, foi candidato a vereador em São Bernardo do Campo — e acabou eleito.
Amigos próximos garantem que, à época, Thiago buscava não se envolver na campanha do pai. Não queria fama e assistia a tudo pela televisão. Ia pouco a manifestações e comícios.
Mesmo na época em que o avô era presidente, a família preferia ser vista como pessoas comuns. Não gostavam, por exemplo, da escolta de seguranças, embora, pela fama do pai e do avô, isso fosse necessário. “O envolvimento dele com a política começou depois que tornou-se adulto e que o avô foi preso”, diz uma colega.
De fato, da infância de Thiago, a única notícia que o relaciona com o avô é a obtenção de um passaporte diplomático, em 2010, que acabou devolvido.
O então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, determinou que Marcos, Thiago — que era então menor de idade — e também Luís Cláudio Lula da Silva, outro filho de Lula, ganhassem o documento que apenas autoridades têm direito.
O argumento era de que os três se encaixavam no “caráter excepcional”, “em função do interesse do país”. Ele também enviou mensagem à embaixada norte-americana solicitando visto de turismo em caráter especial, alegando que eram parentes do então presidente da República.
O Ministério Público Federal considerou irregular a concessão dos passaportes e solicitou ao Itamaraty que recolhesse os documentos. Eles foram devolvidos em junho de 2011.
Início de militância no PT
Apesar de discreto, Thiago filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) em agosto de 2012, próximo a seu aniversário de 16 anos.
Há registros de sua participação em eventos do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da Juventude do PT nos últimos anos.
A partir de abril de 2018, quando o avô foi preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá, São Paulo, Thiago passou a aparecer cada vez mais como neto do ex-presidente e não apenas como um estudante de ciências sociais.
Nos últimos anos, Thiago tem se destacado nas articulações do PT. Divide a militância entre São Bernardo e São Paulo, onde se reúne mais frequentemente a CNB, corrente majoritária do partido intitulada Construindo um Novo Brasil.
“Thiago, por ser quem é, sempre participou de alguma forma da vida política, mas ele começou a participar mais efetivamente nos três últimos anos. É uma pessoa discreta. Não esconde que é neto do Lula, mas também não sai anunciando isso por aí”, disse Anderson Lopes Menezes, secretário da juventude do PT em São Bernardo do Campo.
O jovem não é o primeiro familiar de Lula a despontar no PT: em 2015, Bia Lula, a neta mais velha do ex-presidente, também ganhou os holofotes.
No partido, ninguém se arrisca a apostar se Thiago será uma nova liderança nacional na sigla, mas afirmam que é visível que o jovem tem se dedicado a se tornar um grande militante.
“Ele tem se preparado, está fazendo formação política. Nem o Lula, assim como as outras nacionais, foi produzido artificialmente no partido. Por isso, acho que nem a família está pensando nisso. É um processo, e o caso do Thiago é por aí: ele tem participado e tem construído um caminho”, conta Menezes.