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sexta-feira 18 de outubro de 2019 às 06:53h

Em mensagem, procurador diz que TCU tem ‘bandidos infiltrados’

POLÍTICA


Registradas em 17 de abril de 2016, elas envolvem o procurador do Ministério Público junto ao TCU Júlio Marcelo de Oliveira e o chefe da força-tarefa em Curitiba Deltan Dallagnol. O assunto naquela manhã era delação do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), que havia sido preso na 28ª fase da operação dias antes.

Às 7h48, Júlio Marcelo mandou a primeira de quatro mensagens a Deltan em que sugeriu uma espécie de roteiro com dicas de investigação e alvos a serem explorados no TCU, caso o Argello, com notório trânsito no tribunal, decidisse confessar seus pecados.

“Meu amigo, se o Gim Argello for realmente delatar, queria fazer uma sugestão/pedido: incluir com detalhes e provas os ministros do TCU. Certamente Vital do Rego teve papel importante na CPI da Petrobras para ela não dar em nada, mas suspeito que eles dois tinham articulações importantes no TCU (Cedraz, Nardes e Carreiro, com a participação de Tiago Cedraz e/ou Carlos Juliano Nardes)”, escreveu Júlio Marcelo.

A revista Veja diz que preservou o conteúdo das mensagens como constam nos arquivos do site The Intercept Brasil, a fonte consultada para confirmar a integridade do material em circulação no TCU nos últimos dias — e que revelou a existência dos arquivos de Deltan e da Lava-Jato em junho. VEJA e outros veículos de imprensa já publicaram reportagens sobre o assunto em parceria com o site. Os dados também estão em poder da Polícia Federal e de gabinetes de ministros do Supremo.

Na sequência da mensagem, o procurador explicou a Deltan o seu interesse ao sugerir que a Lava-Jato fosse para cima de ministros do TCU: “Precisamos limpar o TCU. O papel do TCU é importante demais para que ele fique infiltrado por bandidos. Lembro que Nardes apoiava a ida de Gim Argello para o TCU e só mudou de lado aos 45 do segundo tempo.”

Às 8h01, Marcelo direcionou o foco para um ministro em especial no TCU. Bruno Dantas, que antes de chegar à Corte construíra carreira no Senado no período de comando de caciques do MDB como Renan Calheiros, e como consultor jurídico da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de Benjamin Steinbruch.

O procurador apresentou a Deltan suas “suspeitas” sobre relações criminosas entre Dantas e Calheiros (MDB-AL) que também poderiam ser consideradas em uma delação de Gim Argello — notório parceiro de Renan no Senado – na Lava-Jato.

“Me preocupa ainda a atuação, como longa manus do Renan, do Bruno Dantas. Aqui é uma mera suspeita: ele se licenciou do Senado para ser diretor jurídico da CSN, comandado por Benjamin Steinbruch, com salário mensal quase equivalente ao que recebe anualmente no TCU. Isso não faz sentido financeiro, nem profissional, já que a área de interesse dele é direito processual”, diz Marcelo.

Na sequência, o procurador detalhou ainda mais o assunto: “Minhas suspeitas na verdade são duas: 1) a de que ele estava na CSN como mero canal legalizado de pagamento de propinas do Benjamin Steinbruch para o Renan (o Steinbruch comanda a Transnordestina, que não fica pronta nunca e apenas aumenta de preço a cada orçamento) A maior parte do salário pago ao Bruno Dantas pela CSN seria na verdade entregue por ele ao Renan. 2) no TCU ele atua para concretizar dentro do TCU os interesses político-econômicos do Renan.”

Às 8h03, Marcelo fez votos de que, “se a delação do Gim jogasse luz sobre o TCU também seria muito bom para o país”. “Alias, isso vale não só para o Gim, qualquer delação ainda não finalizada (OAS e Odebrecht)”, escreveu.

Dois minutos depois, às 8h05, o procurador encerrou a sequência de mensagens: “Desculpe incomodá-lo, mas a causa é nobre. Desde logo agradeço pela atenção que puderem dispensar a essas conexões. Grande abraço”.

Deltan Dallagnol só responderia às considerações do procurador do TCU mais tarde, às 11h04, com um texto curto: “Com certeza, JM. Conte conosco. Obrigado pelas infos preciosas. Abs”.

“A exemplo de Deltan, o procurador Julio Marcelo não reconheceu, em conversa com o Radar, a legitimidade das mensagens. “Não tenho como comentar nada sobre uma conversa privada, ocorrida já há um bom tempo, cujo sigilo foi violado de forma criminosa”, diz.

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