Na primeira vez em que falou sobre a morte da menina Ágatha Félix, 8, Wilson Witzel (PSC) fez questão de mostrar que não está sozinho. O governador do Rio levou oito autoridades para a entrevista, agradeceu a presença de deputados de sua base, afirmou ter recebido a ligação do presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), e disse que havia passado o final de semana em contato com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e com o ministro da Justiça, Sergio Moro.
O episódio simboliza a estreia de Witzel, ex-juiz federal eleito em 2018 na onda da antipolítica, como articulador no cenário da política tradicional. O governador vem se dedicando pessoalmente à montagem de um palanque, com o objetivo de garantir a governabilidade e viabilizar seu sonho de chegar à Presidência da República em 2022. Aliados afirmam que Witzel quer mostrar ao eleitor que representa uma direita mais palatável do que a do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a quem apoiou na eleição do ano passado. Witzel tem pressa por dois motivos: para deter o avanço do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que também almeja o Palácio do Planalto, e para tirar proveito da fragilidade do governo Bolsonaro.
O governador considera, ainda, que pode aproveitar a exposição que ganhou com o caso do ônibus sequestrado na ponte Rio-Niterói no mês pasado. Em cena memorável, ao descer de um helicóptero ele comemorou com socos no ar o desfecho —que teve a morte do sequestrador pelas forças de segurança. Muitos aliados dizem acreditar que o governador se precipitou ao anunciar a intenção de chegar logo à Presidência. No entanto, lembram que Witzel foi um azarão e que não tinha garantias quando deixou a toga para concorrer ao governo do Rio. O ex-juiz é obstinado e está obcecado com a ideia de se tornar presidente, vendo na direita um espaço a ser conquistado em uma disputa com Doria.
Witzel investe nas relações com dois tradicionais aliados do PSDB —DEM e PP— para evitar que eles já fechem uma aliança com Doria. Com assentos no governo paulista, nenhum dos dois partidos se comprometeu por enquanto a apoiar o tucano para a Presidência. Ao PP Witzel ofereceu a Secretaria da Agricultura de seu governo. A Rodrigo Maia, com quem está em frequente contato, ofertou uma supersecretaria de Infraestrutura, reunindo obras e habitação. Bruno Kazuhiro, presidente nacional da juventude do DEM e pupilo de Cesar Maia (pai do presidente da Câmara dos Deputados e ex-prefeito do Rio), deve ser indicado para comandar a pasta. As informações são da Folha de São Paulo.