No livro que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot está prestes a publicar, “Nada menos que tudo”, onde ele promete esmiuçar os “bastidores da operação [Lava Jato] que colocou o sistema político em xeque”, há um capítulo dedicado à sua relação com a então presidente da República, Dilma Rousseff (PT), que o indicou ao cargo conforme reportagem do site Metrópole.
Em especial, ele conta segundo o site, como foi o dia em que foi comunicado pela petista de que seria o nome escolhido. Ele revela que, na ocasião, teve que forçar um vômito para eliminar resquícios do vinho que havia bebido no almoço. “Foi um estrago”, relembra. Da presidente, recebeu um aviso: “Sua vida não vai mais ser sua”.
Algumas passagens antecipadas do livro de Janot provocaram uma verdadeira hecatombe no meio político-jurídico de Brasília na semana passada. Nelas, o ex-procurador-geral confessa que esteve por um fio de dar um tiro no ministro do Supremo Tribunal federal (STF) Gilmar Mendes. Janot ainda disse que, após cometer o ato tresloucado, pretendia cometer suicídio.
Outro estrago
A revelações causaram um outro estrago na vida de Rodrigo Janot, que foi impedido pelo também ministro do STF Alexandre de Moraes de ir ao Supremo e ainda teve uma busca da Polícia Federal em seu apartamento, onde foi apreendida uma arma.
Em trechos com tons bem mais amenos, Janot fala que, após encabeçar a lista tríplice de candidatos à PGR da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), teve que suportar, até sua indicação formal, “quatro meses de angustiante espera”.
Até que, finalmente, numa tarde de sábado, em agosto de 2015, o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o convocou, por telefone, para uma reunião com a presidente Dilma. Algumas taças de vinho acompanharam o almoço de Janot, que estava em casa com a esposa e um amigo.
Vinho, café com sal e vômito
“O telefonema gerou um corre-corre para eu me aprumar para o encontro com a presidente”, relata. “Eu tinha que chegar ao Alvorada sem qualquer vestígio de bebida alcoólica”. Para rebater o efeito do vinho, o amigo sugeriu beber café com sal. “Topei a sugestão e ingeri a mistura. Foi um estrago. Tive engulhos e corri para o banheiro. Vomitei o que bebera e algo mais”, revela.
Ao chegar ao Palácio do Planalto, a bordo do Fiat Punto da filha – “mais apresentável que o meu Peugeot 2003” -, cometeu uma trapalhada: errou a entrada do estacionamento e foi parar no “meio do mato”. “Vi um dos seguranças correndo, gesticulando na minha direção e gritando: ‘Volta, volta!’”.
Janot fala de Dilma com uma certa reverência. Na conversa em que foi informado sobre a escolha de seu nome, o agora ex-PGR ressalta que houve referências ao papel do Ministério Público. “Ela [Dilma] demonstrou ter perfeito conhecimento da estrutura da instituição, de seus pontos positivos e de seus problemas”, conta.
Preleção de Dilma
Segundo Janot, a presidente esperava que em sua gestão o Ministério Público tivesse uma atuação independente, institucional e dura. “Como Cardozo e Adams [Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União] não falaram, a conversa virou quase uma preleção da presidente”, pontuou.
Após a confirmação do novo procurador-geral da República, a presidente, segundo relembra Janot, ofereceu algo para beber. “Lembrando das taças de vinho do almoço, achei que não era conveniente aceitar. Polidamente, recusei a oferta e disse que estava com pressa de voltar para casa e falar com minha mulher”.
Um inferno
Nesse ínterim, Dilma já havia feito um alerta para Janot: “Se o senhor preza a sua vida privada, ligue agora para sua mulher, porque essa notícia vai sair daqui a pouco no Jornal Nacional e sua vida vai deixar de ser sua”. Na saída, mais uma trapalhada: esqueceu o celular no Alvorada, prontamente resgatado por um auxiliar da presidente.
Finalmente em casa, o agora procurador-geral da República apressou-se em confirmar a novidade para a esposa: “Ela [Dilma] disse que a minha vida vai virar um inferno”.