No plenário Orlando Spínola, na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), as habituais discussões políticas concederam lugar à arte nesta última sexta-feira (16). Instrumentos de sopro e percussão deram o tom da sessão especial que comemorou, na data, os 105 anos da Filarmônica União dos Artistas de Bom Jesus dos Passos, proposta pelo deputado Marcelino Galo (PT). Responsável pela homenagem, o parlamentar subiu à tribuna de honra para destacar o valor do trabalho artístico e social desenvolvido pelo grupo musical.
“Este evento é para celebrar a cultura da Bahia e de Bom Jesus dos Passos. Nossa ilha tem esse instrumento de inclusão pela arte, que traz oportunidade a filhos de pescadores e marisqueiras de se desenvolverem pela música. As filarmônicas, sobretudo, são instrumentos de resistência, que podem ser vistos como escolas da democracia, pelos trabalhos de inclusão que são desenvolvidos com seus participantes”, afirmou o petista.
Fundada no dia 27 de julho de 1914, a filarmônica passou por momentos delicados ao longo da história. Após um conflito entre os integrantes da primeira formação, o grupo quase chegou ao fim. Hoje, embora não conte com apoio financeiro da administração pública, a situação é bem diferente, como ressaltou o maestro e presidente da associação que gere a filarmônica, Josias Monteiro.
“A União dos Artistas de Bom Jesus dos Passos é cultura da Bahia. Estou muito feliz por essa homenagem. Isso para mim e para o grupo representa um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido com tanto carinho. Por isso, a filarmônica precisa seguir forte. Mesmo com nossas dificuldades, jamais deixaremos esta cultura morrer”, disse Monteiro, durante o discurso.
Ainda segundo o maestro, além das atividades da filarmônica, a associação oferece também oficinas de flauta doce e canto coral. O objetivo é afastar as crianças e jovens do tempo ocioso e do caminho da marginalidade, ofertando conhecimento musical, ocupação e perspectivas de crescimento, oportunidade que Vinícius Sacramento não deixou escapar. Antes de ingressar no projeto, o jovem de 25 anos ainda não tinha ideia do que gostaria de fazer profissionalmente no futuro, mas hoje não tem dúvidas: quer ser professor de música.
“Quero fazer licenciatura em música e passar adiante o que eu aprendi com o professor Josias. Ele deu um norte na minha vida com a arte. Quero poder fazer isso por outras pessoas, deixar a minha semente”, afirmou Vinícius, que toca saxofone.
Com o passar dos anos, a Filarmônica União dos Artistas tem transformado a vida da juventude local, como um vetor de desenvolvimento pessoal para os filhos da ilha. Gabriela Rezende, de 20 anos, conta que não tinha amigos por timidez e não confiava no próprio potencial. “Eu não achava que podia entrar na música e nem tinha facilidade para me relacionar com as pessoas. Hoje, as coisas mudaram. Toco clarinete na filarmônica e tenho confiança nos membros do grupo, que são meus amigos”, explicou.
Ao todo, a filarmônica conta com 55 integrantes, 35 homens e 20 mulheres. Para participar, é fácil e não envolve custos. Matrícula, uniforme e instrumentos são gratuitos. Para o maestro e diretor-geral do Neojiba, Ricardo Castro, o acesso facilitado à música é um dos segredos para o desenvolvimento da comunidade. “Esta atividade é fundamental para o crescimento do indivíduo. A arte, com certeza, tem sido um dos elementos estruturantes da nossa sociedade. Por isso, parabenizo a filarmônica de Bom Jesus dos Passos e defendo que se tenha filarmônicas em todas as escolas. Com elas, a gente aprende a ouvir o outro, a dar atenção ao outro. E isso é maravilhoso”, opinou.
Nascido em Bom Jesus dos Passos, o cantor e compositor Gerônimo Santana aproveitou a sessão especial para expressar o seu orgulho dos seus conterrâneos. “A Ilha de Bom Jesus dos Passos é pequena e muito populosa. Praticamente todo mundo se conhece, e vem junto buscando um caminho na arte. Isso é muito bonito. Digo sem medo de errar que esta filarmônica é uma grande família”, disse o artista.
Além dos já citados, participaram do encontro, o vereador de Salvador, Antônio Carolino, que no ato representou o deputado federal João Carlos Bacelar; o regente da banda da PM, maestro Wanderley; Tenente Freitas, da Polícia Militar da Bahia, que representou o comandante-geral da PM-BA, coronel Anselmo Brandão; a professora Agolinda Passos; o presidente da Associação das Filarmônicas Unidas da Bahia, Roberto Franco; e o professor Juarez dos Santos