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sexta-feira 9 de agosto de 2019 às 06:15h

Márcio Meirelles recebe Comenda Dois de Julho

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O diretor teatral e ex-secretário da Cultura Márcio Meirelles foi homenageado na manhã de quinta-feira (8) com a Comenda Dois de Julho, maior honraria entregue pelo Legislativo baiano.
Presidida em revesamento pela deputada Neusa Cadore (PT) e pelo deputado Marcelino Galo (PT), proponentes da outorga, a sessão especial aconteceu no Plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), com um auditório repleto de importantes nome das artes e da política no Estado.
Primeira a discursar, Neusa Cadore destacou que, “em um tempo marcado pelo crescimento do ódio e da intolerância, celebrar a vida e a trajetória de alguém que tem se dedicado integralmente às artes, à defesa da cultura em toda a diversidade, ao respeito às diferenças, à democracia, em si, já é um ato revolucionário”.
“Vivemos um momento tenebroso, de autoritarismo, de perseguição aos intelectuais e aos saberes, mas tenho certeza de que a arte tem um papel muito importante na construção do pensamento crítico, na formação de novos olhares e questionamento da realidade. Por isso, obrigada Márcio Meirelles, por possibilitar esse encontro tão simbólico e reenergizante das nossas forças coletivas”, declarou.
Ao deputado Marcelino Galo, ficou o papel de explanar sobre a vida e obra de Meirelles, desde seu nascimento, em 26 de maio de 1954, até os dias atuais, da encenação, no Teatro Castro Alves, do espetáculo Embarque Imediato, em homenagem ao ator Antônio Pitanga. Também este ano, Meirelles foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Universitário da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Entre os pontos de destaque, Galo ressaltou a atuação de Meirelles à frente do Teatro Vila Velha (TVV), ao longo dos anos, a criação do Bando Teatro Olodum, em 1990, e as passagens como diretor do TCA, em 1987, e como secretário da Cultura, durante os quatro anos do primeiro mandato do governador Jaques Wagner.
“Meirelles, o nosso homenageado, o novo comendador da Bahia, faz do teatro, sua vida, um instrumento da política para propor mudanças, discussões, reflexões”, elogiou Galo, para quem a comenda proposta por ele e pela companheira Neusa Cadore é um reconhecimento à importância de Meirelles na preservação da cultura do Estado e na sua elevação.
Muito emocionado e com a voz embargada, Márcio Meirelles iniciou seu discurso saudando os mais antigos, que não podiam mais estar ali. Destacou os indígenas, o seu avô, Anóbio, o seu pai, Virgílio, e quatro mulheres negras, que lhe foram mestras: “Dilu, Candolina Rosa, Makota Valdina e Luiza Bairros. Eu sei que eles estão aqui, mas não nesse tempo”, declarou.
Meireles disse estar muito feliz pelo fato de a proposição da outorga da Comenda Dois de Julho ter partido de, para ele, dois parlamentares tão especiais, “de trajetória reta e clara. Agradeço por terem sido vocês e pela Assembleia ter acatado a proposição. Isso significa que a Bahia, através de sua representação aqui na sua Casa, concede uma comenda à arte, a um artista. Não importa que seja eu. Poderia ter sido outro aqui, outros anormais como eu. E eu me sinto todos aqui. Eu me sinto muitos, não consigo me sentir só. Não consigo entender que é para mim isso daqui, porque tanta gente trabalhou para esse momento acontecer. Entendo também que sou eu muito por causa da minha trajetória política, de gestor público da Secretaria de Cultura. O que também torna essa verdade quase que absoluta. Era uma equipe incrível trabalhando coletivamente”, disse.
A construção e aprovação, posterior, da Lei Orgânica da Cultura, na Assembleia, após amplo debate em todos territórios de identidade do Estado foi definida, por Meirelles, como um grande marco de sua gestão à frente da Secult-BA. Segundo ele, o papel dos atores políticos é transformar o discurso em ação, assim como acontece com o artista. “Eu sou de Xangô, e a injustiça me incomoda. Eu tenho que trabalhar para reverter esse quadro”.
Por fim, o homenageado argumentou que é preciso desmontar o ódio dos dias atuais. “O projeto de país atual é desestruturar o país inteiro, é botar uns contra os outros, fomentar o ódio e estabelecer o caos. Eu não quero que aquelas crianças (do colégio Escolas Municipal André Rebouças, em Patamares, que ocuparam a galeria Paulo Jackson durante a sessão) sejam vítimas desse projeto de país, para serem catequizados, robotizados, manipulados, injustos uns com os outros”, lamentou Meirelles, que encerrou o discurso conclamando: “Ajudem os menores, deem a mão a eles, salvem eles, salvem o país”.
Também presente à Mesa da sessão especial, a coordenadora do Programa de Formação do TVV, a atriz Chica Carelli voltou o seu discurso para o papel da dramaturgia. “Desejamos que a arte dramática não possa nunca ser considerada como instrumento de propaganda, um comércio ou um tráfico; desejamos que a educação dê justo título ao teatro, a arte dramática, para que ele permaneça sendo o que ele sempre foi: uma oferta, uma troca de amizade e amor entre os homens. É na sua independência, na sua universalidade que deve estar o ponto de partida das nossas preocupações. Que os deuses do teatro te protejam, Márcio Meirelles, e o teatro Vila Velha, espaço de liberdade e de comunhão humana”, declarou.
 Também compuseram a Mesa a diretora-geral da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Renata Dias, o secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, o vice-reitor da Ufba, Paulo Miguez, a conselheira do TVV e esposa de Meireles, Cristina Castro, a defensora pública Sinara Fernandes e a ex-primeira dama do Estado, Fátima Mendonça.
Prestigiaram a sessão, os deputados Jurandy Oliveira (PP) e as deputadas Jusmari Oliveira (PSD), Maria del Carmen (PT), Fátima Nunes (PT) e Olívia Santana (PCdoB). A solenidade contou ainda com apresentações musicais e de dança, com homenagens a Meirelles prestadas pelo pelo Bando Teatro Olodum e pela Universidade Livre de Teatro e com a exibição de vídeos sobre o homenageado.

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