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quinta-feira 25 de julho de 2019 às 06:51h

Uma deputada, uma desembargadora e uma vereadora: mulheres negras baianas lutam por espaços representativos

POLÍTICA


Elas concordam sobre os avanços conquistados, mas não se dão por satisfeitas

O reconhecimento através do estabelecimento de uma data no calendário nacional tornou 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, uma data política e representativa. Essa é a avaliação da deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), primeira auto declarada negra e com uma pauta antirracista a ser eleita para a Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA).

“A gente tem que enfrentar o racismo, o sexismo e as desigualdades econômicas que são brutais”, destacou Olívia. “O racismo no Brasil é cromático, quanto mais pele preta você tem, mais você sente a exclusão, ela é muito mais brutal”, lamentou a parlamentar, que ressalta que mesmo em posição de poder ainda sente o preconceito racial na pele. Um episódio emblemático ocorreu ainda antes das eleições, em fevereiro do ano passado. Na época secretária Estadual de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Olívia foi vítima de racismo durante um evento em um hotel de luxo da capital baiana.

Por casos como esse que viveu, a deputada ressalta em publicação no Bahia Notícias, que o preconceito racial é estrutural e se revela cotidianamente. “Eu sei exatamente como ele se apresenta. Eu não posso baixar a guarda pra ele, nem ter a ilusão de que ter cargos pode blindar as pessoas de sofrer discriminação racial”, destaca, acrescentando que nenhum negro “escapa” do racismo porque conquistou um posto de poder, ainda que considere imprescindível que a população negra também garanta acesso a esses espaços.

Olívia Santana é deputada estadual da Bahia pelo PCdoB | Foto: Divulgação/Agência AL-BA

Diante desse contexto social, a desembargadora baiana Neuza Maria Alves, primeira negra a compor os quadros do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, acredita que a data evidencia “o valor e a intrepidez da mulher negra”. “Bem ou mal, estamos vivendo uma situação em que continua tudo difícil, mas antes era na esfera do impossível”, frisou a ex-magistrada ao lembrar que “no mais das vezes veladamente, o racismo nunca deixou de ser presente” em sua trajetória.

A presença reduzida de mulheres negras nos espaços de poder, seja Executivo, Legislativo ou Judiciário, é vista como um obstáculo a ser vencido por essa parcela da população, que hoje está na base da pirâmide social. Tanto no Tribunal de Justiça da Bahia quanto no Legislativo estadual, é possível contar nos dedos quantas já assumiram tais cargos de poder. Na Câmara Municipal de Salvador (CMS) não é diferente. Atualmente, há apenas duas vereadoras negras, Marta Rodrigues (PT) e Ireuda Silva (PRB), em um universo de 43 vereadores.

Para Ireuda, o fato de ser negra e mulher torna difícil e necessário “driblar” obstáculos. “Quando é pra ocupar os espaços de poder, o nosso estereótipo, o estereótipo do negro, é de que ele não é competente. Não veem capacidade nem competência em nós, e essa aí é a batalha diária”, destacou a parlamentar.

Além de serem mulheres negras que ocupam ou ocuparam espaços de poder e notoriedade na sociedade, Olívia, Neuza e Ireuda concordam sobre os avanços conquistados por essa população nos últimos anos, mas não se dão por satisfeitas. É unânime entre elas a avaliação de que, muito embora os avanços sejam lentos, eles precisam ser mantidos e expandidos para que futuramente mais e mais mulheres negras tenham condições de disputar e garantir lugar de destaque. “Eu me sinto muito honrada, mas ainda considerando que essa é uma fatia da batalha, porque essa luta é árdua”, completou Ireuda.

A vereadora reconhece que para que ela alcançasse esse posto, outras mulheres “corajosas, ativistas, que tiveram coragem de lutar” foram essenciais.

Ireuda Silva é vereadora de Salvador pelo PRB | Foto: Divulgação

O mesmo é destacado por Olívia, que exalta o trabalho dos movimentos de mulheres negras, que, organizadas, participam e fazem debate político, combatendo ainda o feminicídio e a violência. O racismo institucionalizado esteve e está presente na trajetória dessas mulheres, assim como de todas as outras negras no Brasil.

Positiva e espiritualizada, Neuza Maria acredita que a determinação e a fé são as chaves para superar as dificuldades. “Não se pode colocar limites”, aconselhou a pioneira, que nesta quinta-feira está entre as homenageadas do “Prêmio Mulheres Negras Contam suas Histórias”.

Neuza Maria é desembargadora aposentada e ocupou o posto no TRF1 | Foto: Reprodução/TV BAhia

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um comentário

  1. A discriminação da cor da pele, o recismo começa pela própria população, e quando mulher mais ainda. O voto é livre, várias mulheres colocam seus nomes e mesmo o Estado tendo a maioria da população de cor preta não votam nelas. Por que esse fenômeno ocorre e ainda a cota para o sexo feminino. No país que tenta através de leis fazer o impossível acontecer tudo pode acontecer. Inclusive nada!

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