Auxiliares do presidente Lula da Silva (PT) estão preocupados com a disparada do preço do cacau, que eleva os custos da produção de chocolate, a um mês da Páscoa. O resultado é o aumento dos preços dos tradicionais ovos de chocolate no comércio.
Com o diagnóstico de que o aumento do valor dos alimentos tem gerado prejuízos à imagem do presidente junto aos brasileiros, integrantes do governo que observam de perto a oscilação dos itens do supermercado já preveem que o aumento do principal insumo do chocolate deverá gerar novo flanco de desgaste a Lula.
O preço internacional do cacau disparou 190% em dois anos, conforme a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O item em alta já tem refletido no valor do chocolate em barra e do bombom, que subiu 16,5% no período de 12 meses até janeiro. O chocolate e o pó achocolatado já estão 12,4% mais caros, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O produto valorizou devido à diminuição brusca de oferta de matéria-prima, com crise climática e sanitária na África, reduzindo a oferta global do cacau. O Brasil tem produção nacional, mas plantações na Bahia não são suficientes para atender a demanda do mercado interno.
Integrantes do Ministério da Agricultura já aguardam uma alta ainda maior do chocolate até a Páscoa, em 20 de abril, e até já precificam o mau humor da população ao se deparar com os novos preços.
Como já foi debitado politicamente em Lula nas primeiras semanas do ano o aumento da carne, frente a promessa de picanha barata na campanha de 2022, e do café, que motivou ataques da oposição, a expectativa é de que o mesmo ocorra com o chocolate no momento do ano em que ocorre maior procura pelo doce.
O peso da inflação dos alimentos sobre a imagem de Lula ligou o sinal de alerta no Palácio do Planalto desde os primeiros dias de janeiro e fez o presidente acionar ministros para buscar soluções já nos primeiros dias do ano.
Desde então, alguns itens já têm dado sinal de queda. O preço da carne teve redução de 3,5% e da soja, de 1,46% em março, de acordo a Inflação ao Produtor Amplo (IPA). Porém, a disparada do ovo tem feito sombra as pequenas reduções dos demais itens. Na última sexta-feira, Lula afirmou que “alguém está passando a mão no preço do ovo”:
— Estamos agora com um problema de alimento, vocês sabem, o ovo está caro. E até hoje não encontrei uma explicação para o ovo estar caro. Não tem explicação. Alguém está passando a mão. E nós queremos saber quem é. A carne vai baixar, vocês podem ter certeza de que vocês vão voltar a comer picanha outra vez — afirmou o petista durante evento em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Com publicou o jornal O Globo, desde que Sidônio Palmeira passou a comandar a Secretaria de Comunicação Social (Secom), em 14 de janeiro, Lula multiplicou por dez as menções a inflação e alta de alimentos.
A estratégia pretende conectar o presidente ao sentimento dos brasileiros ao se deparar com preços nas prateleiras dos supermercados, mostrando que Lula tem empatia pelos problemas enfrentados pelo consumidor.
Em outra frente, integrantes do Ministério da Agricultura trabalham na formulação de uma tabela comparativa de preços de alimentos no Brasil e nos Estados Unidos. Uma das comparações vai mostrar que enquanto o preço do ovo subiu 10% no Brasil, disparou 90% para os norte-americanos em um ano. Também deverão mostrar que nos EUA, um ovo já custa o valor de um dólar.
O objetivo é reforçar junto à população a mensagem que o ovo está caro não por culpa do presidente, mas devido a um cenário internacional. Nos EUA, pesa principalmente a questão da gripe aviária, que despencou a produção americana do produto. Já as exportações de ovos do Brasil saltaram 57,5% em fevereiro, o que deu fôlego ao aumento do preço do ovo no mercado interno.
Só os Estados Unidos compraram, em fevereiro, 503 toneladas, uma alta de 93,4% em relação ao mesmo mês do ano passado.