As Forças Armadas de Israel anunciaram na madrugada desta terça-feira (noite de segunda no Brasil) que estavam realizando “ataques extensivos” na Faixa de Gaza, os maiores desde a pausa nas hostilidades em meados de janeiro. Segundo a Defesa Civil do território palestino controlado pelo grupo terrorista Hamas, ao menos 330 pessoas morreram. Alvos foram atingidos na Cidade de Gaza, Khan Younis, Rafah e Deir al-Balah.
– Mais de 330 mártires, a maioria crianças, mulheres e idosos, são o saldo inicial da agressão – declarou Mahmud Basal, porta-voz da entidade. Ele especificou que mais de 82 mortes ocorreram na cidade de Khan Younis, no Sul do território, e as demais entre Nuseirat (Centro), Cidade de Gaza e o Norte da região.
A ação acontece em meio ao impasse nas negociações de uma segunda fase do acordo de cessar-fogo, que deveria ser implementada após o término da primeira, no início deste mês. Nesta etapa, a trégua previa alcançar um cessar-fogo permanente, além da libertação — ou devolução de corpos — de todos os reféns ainda em Gaza e retirada total das forças israelenses do território palestino, medida esta rejeitadas por Israel.
Em uma postagem no Telegram, o Exército israelense disse que estava “realizando ataques extensivos a alvos terroristas pertencentes à organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza”. Logo depois, as autoridades israelenses cancelaram as aulas hoje em escolas nos arredores de Gaza, indicando que uma operação mais ampla pode estar a caminho.
Segundo o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ele e o ministro da Defesa, Israel Katz, “instruíram as Forças Armadas a agir com força contra a organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza” alegando que o grupo se recusou “a libertar nossos reféns” e rejeitou as propostas do enviado do governo americano, Steve Witkoff. O enviado do presidente Donald Trump queria estender a primeira fase até meados de abril, mas autoridades do Hamas rejeitam a proposta alegando que se libertarem todos os reféns sem obter a trégua permanente, ficarão sem moeda de troca com Israel.
Segundo o comunicado, “Israel vai, de agora em diante, agir contra o Hamas com força militar cada vez maior”.
À agência Reuters, um alto funcionário do Hamas disse que os ataques israelenses significam que Israel está pondo fim de forma unilateral ao cessar-fogo em Gaza, iniciado em 19 de janeiro.
Em comunicado, o Hamas disse que “Netanyahu e seu governo nazista estão renovando a agressão e a guerra de extermínio contra civis”, acrescentando que o governo israelense deu um “golpe contra o acordo de cessar-fogo, colocando em risco o destino dos reféns em Gaza”.
O grupo, que governa desde 2007 a Faixa de Gaza, cobrou os mediadores — Egito, Catar e Estados Unidos — a responsabilizarem Netanyahu por violar a trégua. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, o governo Trump foi consultado pelos israelense antes dos ataques em Gaza.
Segundo a Secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, o governo do presidente Donald Trump foi consultado pelos israelense antes de realizar os ataques em Gaza.
— Como o presidente Trump deixou claro, o Hamas, os Houthis, o Irã, todos aqueles que buscam aterrorizar não apenas Israel, mas os EUA, terão um preço a pagar, e o inferno vai explodir — disse Leavitt, em referência às declarações inflamadas de Trump contra o Irã nesta segunda-feira, em meio à tensão com o grupo rebelde no Iêmen.
Na sexta-feira passada, o Hamas anunciou que estaria disposto a libertar um refém israelense-americano e a entregar os corpos de outras quatro pessoas com dupla nacionalidade, como parte da nova rodada de negociações sobre o cessar-fogo entre Israel em Gaza. Israel, por sua vez, acusou o grupo de não “ceder nem um milímetro” nas discussões que até então estavam em andamento em Doha, no Catar.
Desde o mês passado, quando Netanyahu encontrou-se com Trump em visita a Washington, a imprensa de Israel, citando fontes no governo, indica que o premier não tem interesse em “em encerrar a guerra” e “não está interessado” em adotar a segunda fase do acordo. “Sua coalizão vai desmoronar se for aprovada”, disse uma fonte ao Haaretz, citando as desavenças entre os membros mais radicais de seu Gabinete, que exigem a reocupação de Gaza.
Para Mouin Rabbani, do Conselho do Oriente Médio para Assuntos Globais, não está claro se os ataques representam “um único ataque ou o início de uma campanha maior”.