O presidente Lula da Silva (PT) e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), voltaram a trocar farpas nesta terça-feira (11), desta vez durante um evento em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Zema esteve no palanque de Lula, depois de receber críticas por faltar a eventos no Palácio do Planalto.
Zema discursou antes do presidente e fez uma referência indireta ao tamanho do Ministério de Lula, com 38 pastas.
— Estamos fazendo no governo de Minas o que qualquer empresa faz. Todo o meu secretariado foi selecionado igual a Fiat contrata. Apesar de sermos o segundo estado mais populoso do Brasil, somos o que tem o menor número de secretarias, 14. Mas para um time ganhar campeonato não precisa colocar 20, 30 jogadores em campo, precisa de 11 craques, e é o que nós temos feito aqui. Agradeço à minha equipe de secretariado que pegou um estado que qualquer um teria recusado.
Ao falar, Lula respondeu a provocação ao afirmar que mais importante era discutir a qualidade do que a quantidade das pessoas que integram sua equipe:
— O importante não é discutir se você tem um ou dez, importante é discutir a qualidade das pessoas que você tem. Não quero só um cara formado em filosofia, engenharia… É muito importante o diploma, mas quero antes de tudo pessoas que tenham sensibilidade no coração para entender o problema da sociedade brasileira — disse o presidente.
Em seguida, Lula citou o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que cresceu 3,4% em 2024, para alfinetar o governador mineiro:
— Precisei voltar à Presidência para que a economia voltasse a crescer. Ela não crescia há quanto tempo? O Zema não lembra há quanto tempo a economia não crescia 3%. Nem o Zema, nem os economistas.
Histórico de farpas
No início do ano, Zema foi criticado por Lula e ministros após a ausência em um evento no Planalto. Durante cerimônia de assinatura do contrato de concessão da BR-381, localizada em Minas, o ministro dos Transportes, Renan Filho, criticou o governador.
Assista:
— Para mim, é uma pena que o governador de Minas não esteja aqui nesse momento, porque nunca nenhum governo deu tanta atenção a Minas Gerais quanto o senhor (o presidente Lula) está dando agora. Vi o governador de Minas cobrando investimentos, no governo passado, mas não o vejo aqui nesse momento. Parece que a cobrança é mais política e menos pela obra. Isso apequena o gestor público — disse Renan Filho.
No mesmo evento, Lula disse que o governador deveria lhe dar um prêmio por sancionar o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), que pode zerar os juros para o pagamento das dívidas dos entes com a União.
— Para falar a palavra obrigado tem que ter grandeza, caráter e humildade. Esse acordo das dívidas de Minas Gerais, o governador deveria vir aqui me trazer um prêmio, um troféu de primeiro presidente da República que ele tem conhecimento, que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador, de nenhum prefeito por ser contra ou por ser oposição — disse Lula, completando: — O que nós fizemos para os estados que não pagavam dívida, talvez só Jesus Cristo fizesse se concorresse à presidente da República.
Depois, o governador rebateu. Nas redes sociais, ele disse que Jesus Cristo “jamais cobraria juros abusivos de quem ajuda a construir o Brasil”.
Lula e Zema acirraram o embate político segundo O Globo, em meio à mobilização do governo para cacifar o petista à reeleição em 2026. Uma das estratégias do Palácio do Planalto é usar os integrantes do primeiro escalão para atuar na linha de frente contra o político do partido Novo.
Lula considera, segundo auxiliares, que quem melhor tem desempenhado esse papel, até o momento, é o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Zema é citado como possível candidato à Presidência da República na próxima disputa.
Os embates com Zema foram fundamentais, na avaliação de aliados, para que o ministro de Minas e Energia se cacifasse com Lula. Em conversas internas, o petista costuma elogiar a postura do auxiliar mineiro de tomar à frente na posição de defesa do governo.