A eleição presidencial será apenas em outubro de 2026, no entanto, a direita já movimenta o tabuleiro político conforme Maria Eduarda Portela e Daniela Santos, do portal Metrópoles, ao ventilar alguns nomes como possíveis candidatos ao Palácio do Planalto. Do outro lado, a esquerda mantém o foco na reeleição do presidente Lula da Silva (PT), ainda que ele mesmo condicione a candidatura a algumas questões, como o seu estado de saúde.
Entre os nomes da direita que buscam se cacifar, destacam-se o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasiz), o do Paraná, Ratinho Jr (PSD), o de Minas, Romeu Zema (Novo), e o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Correm ainda por fora o cantor Gusttavo Lima e o ex-coach Pablo Marçal.
Apesar das construções em diferentes estágios, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030 por crimes eleitorais, mantém influência na direita e não se mostra disposto a abrir mão de tentar se candidatar no próximo pleito.
No entanto, a construção de um cenário para que Jair Bolsonaro consiga lançar candidatura para retornar ao Palácio do Planalto está cada vez mais acirrada. O ex-presidente foi denunciado, semana passada, pela Procuradoria-Geral da República (PGR), pelos crimes de organização criminosa e tentativa de golpe de Estado.
No caso de não concorrer, Bolsonaro tem sinalizado que prefere lançar algum familiar, como os filhos Flávio, senador pelo PL-RJ, ou Eduardo, deputado pelo PL-SP.
Entenda o cenário posto
- Apesar de eleição presidencial ainda estar distante, a direita já discute possíveis candidatos, enquanto a esquerda mantém o foco na reeleição de Lula.
- Inelegível até 2030, Jair Bolsonaro enfrenta dificuldades para viabilizar candidatura, ainda mais depois que foi denunciado pela PGR por crimes como organização criminosa e tentativa de golpe.
- O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é o nome favorito dentro do PL para substituir o pai em eventual candidatura presidencial, por ser visto como menos radical que os irmãos.
- Lula é a opção da esquerda, mas enfrenta quedas de popularidade. Outros nomes cogitados são os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Camilo Santana (Educação), que encontram resistência dentro da base governista.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro, disse em entrevista ao Metrópoles que tem o desejo de votar “em um Bolsonaro”, em 2026, caso o ex-presidente não consiga reverter a inelegibilidade.
“Eu gostaria de votar em um Bolsonaro. Não sei se é possível. Jair é o meu candidato, mas, se não, minha preferência está na família Bolsonaro”, disse o senador.
O Metrópoles apurou com integrantes do PL que o nome favorito entre os membros da família Bolsonaro para disputar a eleição presidencial de 2026 é o do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O político é tido como um bom articulador e menos radical, em comparação aos irmãos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ).
No campo da esquerda, Lula, que tem acumulado repetidas quedas de popularidade, desponta como a principal opção. Entre os aliados do petista, há quem cogite a candidatura dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Educação, Camilo Santana. Apesar disso, os nomes deles enfrentam dificuldades até mesmo dentro da base governista.
Haddad disputou a eleição presidencial de 2018 e foi derrotado por Jair Bolsonaro. O nome dele foi colocado à disposição depois que Lula foi preso, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
No caso de Camilo Santana, a principal dificuldade é em viabilizar o nome do ministro nacionalmente. Senador pelo Ceará, o titular do MEC foi eleito governador do estado em 2014 e reeleito em 2018.
Robson Carvalho, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), avalia que um cenário em que há apenas um candidato de esquerda facilita a reeleição de Lula, visto que não há divisões no espectro político.
“Se nós considerarmos que Lula seja apenas uma pessoa do campo da esquerda, a situação está muito melhor para ele, porque ele concentra um bloco político, ele concentra um polo político sem divisões. E o outro lado, se tem vários candidatos, você pode ter divisões. Então, o lugar mais coeso tem mais probabilidade de vencer”, disse Robson Carvalho.
O pesquisador da UnB aponta que há maior viabilidade para possível candidatura à reeleição de Lula, uma vez que ele conseguiu construir o governo com o apoio de diferentes nomes da política, do centro e também do lado mais à esquerda. Ele destaca ainda que não se pode caracterizar a gestão do petista como um governo de “esquerda”, e sim algo mais ao centro-esquerda.
“Não é uma situação fácil, não é porque você tem nomes ou pessoas que querem se colocar ou são colocadas por grupos de interesses que simplesmente vão se transformar em políticos de expressão nacional com capilaridade no país inteiro de um dia para a noite. Não é assim que funciona. Então, nisso é que eu enxergo uma vantagem importante do próprio presidente Lula”, complementa Robson Carvalho.
Paulo Henrique Cassimiro, professor de ciência política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pontua que Jair Bolsonaro ainda não consolidou um sucessor para disputar a eleição presidencial de 2026. Com isso, a direita tradicional, representada por Caiado, enxergou uma possibilidade de tentar conquistar o Palácio do Planalto, conquistando os votos da extrema-direita, sem embarcar no discurso deste espectro.
“Esse campo tem um líder muito forte que não pode ser candidato. E ao mesmo tempo é um líder que não consagrou um sucessor. Porque, entre outras coisas, ele é uma pessoa difícil de transigir. Ao mesmo tempo, e essa me parece a grande questão da política brasileira hoje, é que a direita tradicional, na qual a gente pode colocar o Caiado, por exemplo, ela entendeu que os custos de embarcar num discurso de extrema-direita são muito altos”, enfatiza Paulo Cassimiro.
“Se a direita vai para o segundo turno com a esquerda, ela tem voto da extrema-direita, do eleitorado bolsonarista mais radical ou desses outros líderes da extrema-direita que estão surgindo, como o [ex-coach Pablo] Marçal. Se ela vai para o segundo turno com essa extrema-direita, ela tem o voto da esquerda”, finaliza o professor da UERJ.