O destino de Nísia Trindade está praticamente selado, e é muito difícil que ela consiga reverter a tendência de Lula de substituí-la no Ministério da Saúde. O presidente resistiu durante quase dois anos às tentativas do Centrão, capitaneado por Arthur Lira, para ter a pasta mais rica da Esplanada. Mas a demora da ministra em tirar da prancheta o programa Mais Especialidades, a despeito de cobranças reiteradas e explícitas do presidente, pesou pela decisão de trocá-la.
A saída nem se concretizou e já abriu uma nova disputa, entre os grupos de Fernando Haddad e de Rui Costa. O titular da Casa Civil se pôs em campo para tentar atravessar a articulação para a ida de Alexandre Padilha para a pasta que já ocupou, pelo fato de o atual ministro das Relações Institucionais ser muito próximo de Haddad.
Em seu lugar, Costa passou a defender a nomeação de Arthur Chioro, que também foi ministro da Saúde no governo de Dilma Rousseff. Chioro conta ainda com a simpatia de outros petistas, como Luiz Marinho e Humberto Costa.
Antes mesmo de Sidônio Palmeira assumir a Secom, ele teve reuniões com Nísia, ainda no ano passado, explicando do potencial do Mais Especialidades de se tornar a grande marca do governo Lula 3, mas que está tão desconectado dessa ideia que tem o burocrático nome de Mais Acesso a Especialistas.
A ministra argumenta que o programa está andando, mas na reunião ministerial de janeiro deste ano apresentou uma série de senões bucrocráticos que fizeram Lula perder a paciência. A avaliação é que nem o Pé de Meia nem o Desenrola, marcas imaginadas para ter grande apelo popular nesta gestão, conseguiram ter o mesmo impacto que o PAC, o ProUni e o Mais Médicos tiveram nos governos petistas anteriores, sem falar no Bolsa Família.
Com o caminhão de dinheiro da Saúde, o Mais Especialidades seria uma forma de usar algo que hoje é um problema para o governo –o grande volume de emendas nas mãos do Congresso– a seu favor. Mas Lula queria uma roupagem mais midiática para o programa, longe do que seus aliados chamam da “abordagem clássica do SUS” adotada por Nísia. Algo próximo do que José Serra conseguiu criar com os genéricos e os mutirões, exemplificam observadores das conversas palacianas.
A ida de Padilha para a pasta que já ocupou, e sobre a qual mantém grande ascendência política ainda hoje, resolveria a demanda por abrir um novo espaço na articulação política. A vaga é disputada pelo Centrão, que lançou os nomes do deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e do atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Fillho, e pelo próprio PT, que quer José Guimarães na cadeira –o que ajudaria a facilitar a eleição de Edinho Silva para a presidência do PT e fortaleceria ainda mais o grupo de Gleisi Hoffmann no Palácio, uma vez que ela deve assumir em breve a Secretaria-Geral da Presidência.
Acontece que a ida de Padilha para a pasta-vitrine do terceiro mandato não agrada a Rui Costa, uma vez que ele é hoje o ministro mais próximo de Haddad, e a disputa entre o chefe da Casa Civil e o da Fazenda não é segredo para ninguém. Daí ele ter passado a advogar o nome de Chioro, respaldado por outras figuras do PT.
Lula deve fazer a reforma em três tempos: primeiro vai mexer na cozinha, ou seja, no Planalto, um movimento que começou pela Secom e deve se estender à SRI e à Secretaria Geral. Depois nos ministérios do PT, dos quais a Saúde será o primeiro (pode até ser simultaneamente à mexida do Planalto, se Padilha for mesmo para o lugar de Nísia).
Só então, e, portanto, depois do Carnaval, pode vir uma terceira etapa, destinada a contemplar os desejos dos partidos. Esta, por sua vez, ainda está bastante crua na cabeça do presidente.