A Petrobras voltou a ceder a pressões políticas na sua definição de preços e perdeu credibilidade no mercado, avaliam especialistas ouvidos pela imprensa. A decisão da empresa de reduzir o preço do diesel em 10% por 15 dias diante da greve de caminhoneiros foi mal recebida pelos investidores. As ações da companhia chegaram a cair quase 15% em um dia e a empresa perdeu R$ 45 bilhões em valor de mercado em 1 dia.
Para o professor do Instituto de Economia e membro do Grupo de Economia da Energia da UFRJ Edmar Almeida, a decisão da Petrobras sinaliza que ela perdeu a autonomia conquistada.
“O que a gente está vendo é que a greve dos caminhoneiros criou um ambiente político no Brasil que está, pelo menos no curto prazo, inviabilizando a política de preços da Petrobras. Isso está colocando em xeque a ideia de preços liberalizados e legitimando a ideia de que o governo deve intervir para fixar uma política de preços na empresa”, avaliou.
Na avaliação da pesquisadora da FGV Energia, Fernanda Delgado, a medida anunciada pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, pode ser classificada como “desesperada” e, portanto, dá uma sinalização ruim para o mercado.
“A medida vai contra o que o governo vem pregando, contra a própria linha da empresa que era de se manter alheia às questões políticas”, afirmou Fernanda. “A medida da Petrobras desagrada ao investidor e ainda não contempla o consumidor final.”
Um dia após o anúncio, analistas cortaram a recomendação dos papéis da companhia, citando preocupação com aumento dos riscos de interferência política na estatal. Entre as casas que rebaixaram a avaliação dos papéis estão Credit Suisse, Morgan Stanley e Itaú BBA.
“Mais do que as perdas financeiras, (a redução do preço do diesel) pode representar uma mudança na gestão da política de preços, que acreditamos que pode levar a uma possível revisão da margem de combustível a longo prazo. A empresa está negociando pela primeira vez abaixo da paridade de importação desde que a nova política foi implementada”, disseram os analistas do banco UBS .
Independente – ou não?
Quando assumiu a presidência da Petrobras para reerguer a empresa após a Lava Jato, o executivo Pedro Parente ressaltava que faria uma gestão sem interferências políticas. Uma das principais ações nesse sentido foi a mudança da política de definição de preços da estatal em julho de 2017, que passou a anunciar reajustes até diários nas refinarias em linha com o cenário internacional.
Pela nova regra, o preço do combustível sobe, geralmente, quando o valor do barril do petróleo aumenta e a cotação do dólar. O dólar está no maior valor em 2 anos e o petróleo atingiu o maior preço desde 2014. Como resultado, o combustível teve sucessivas altas no Brasil, o que provocou a revolta de caminhoneiros, que organizaram uma greve geral e ameaçam o abastecimento de produtos e serviços no país.
O relatório do UBS lembra que, na época da mudança, a Petrobras disse que não teria mais ingerência do governo na sua política de preços. Mas que os analistas temiam que o governo decidisse intervir na Petrobras para segurar os preços dos combustíveis.
Petrobras diz que não cedeu
Na quarta-feira, quando anunciou a medida, Pedro Parente negou que tenha cedido a pressões políticas. Ele classificou a medida como sendo um gesto de “boa vontade” da empresa.
“Não tivemos pressões do governo ou de movimentos sociais. Estamos fazendo uma avaliação realista da situação do país”, explicou.
“É uma medida de caráter excepcional. Não representa uma mudança de política de preço da empresa”, afirmou, durante entrevista coletiva. “São 15 dias para que o governo converse com os caminheiros”, acrescentou.