A Secretaria de Política Econômica (SPE), vinculada ao Ministério da Fazenda, reduziu sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, de 2,5% para 2,3%, refletindo principalmente os efeitos da alta dos juros. A projeção de desaceleração da atividade consta no documento 2024 Em Retrospectiva E O Que Esperar de 2025, publicado pela pasta nesta última quinta-feira (13). No mesmo documento, a SPE manteve sua projeção para a inflação neste ano, em 4,8%, ainda acima do teto da meta – que é de 4,5%.
As projeções da Fazenda tanto para o PIB quanto para o IPCA continuam distantes das estimativas feitas pelo mercado. De acordo com a última versão do boletim Focus (que compila as projeções dos analistas), divulgada na segunda-feira, 10, a projeção para o IPCA subiu pela 17.ª vez seguida, para 5,58%, enquanto a previsão para o PIB está em 2,03%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Ao justificar a mudança na expectativa para o PIB, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, afirmou que ela decorre, em grande medida, dos efeitos defasados da política monetária. “Nós estamos atravessando um ciclo de aumento de juros, que tem impacto no ritmo de atividade, e esse ciclo da política monetária afeta particularmente aquilo que chamamos de atividades cíclicas, que têm relação com o ciclo econômico”, disse o secretário.
No documento divulgado ontem, a SPE afirma que as atividades mais dependentes das dinâmicas de crédito, massa de rendimento e transferências devem ser mais impactadas pelo aumento nos juros e a diminuição dos estímulos fiscais do governo. Por outro lado, continua o texto, atividades como a agropecuária e a indústria extrativa devem crescer em ritmo expressivo neste ano – avanços que na visão da Fazenda devem garantir que o crescimento real (acima da inflação) não se distancie do potencial, com um efeito desinflacionário pela maior oferta de produtos. “As atividades não cíclicas tendem a ter um ano mais positivo em 2025 do que em 2024. Então, uma coisa compensa parcialmente a outra”, acrescentou Mello.
Setores produtivos
Entre os setores produtivos, a Fazenda manteve sua projeção de crescimento de 6% para a atividade agropecuária. “Temos dados hoje que reforçam essa nossa visão, de uma safra muito positiva para o Brasil, o que ajuda não apenas na atividade, mas também no controle do preço dos alimentos”, observou Mello.
Na direção oposta, impactadas pelos efeitos do ciclo de alta dos juros do Banco Central, a SPE prevê desaceleração para a indústria – a projeção para o setor foi revisada de avanço de 2,5% para 2,2% – e os serviços – cuja expectativa recuou de 2,1% para 1,9%. Segundo Mello, ainda, já há um conjunto de informações que indicam desaceleração no mercado de trabalho e em serviços.
A projeção da SPE prevê que, ao longo deste primeiro trimestre de 2025, o ritmo de crescimento deverá voltar a subir na margem para desacelerar em seguida. “A expansão da atividade agropecuária deverá ser na casa de dois dígitos no primeiro trimestre de 2025, repercutindo a colheita recorde de soja. O PIB de serviços também deve acelerar na margem no primeiro trimestre, refletindo o reajuste do salário mínimo e o impulso em atividades relacionadas à agropecuária, como os transportes e o comércio”, diz o documento da SPE.
O quadro de desaceleração deve se iniciar no segundo trimestre e, a partir de julho, na visão da Fazenda, a atividade deverá se manter estável, pela redução dos impulsos do crédito e do mercado de trabalho, reflexo da política monetária contracionista.
IPCA
Sobre a projeção para a inflação, acima do teto da meta, a SPE mencionou a resiliência da alta dos preços “em função de efeitos defasados da depreciação cambial e do ritmo aquecido de atividade”. E comportamento distinto entre as categorias de inflação: expectativa de queda em alimentos, estabilidade para serviços e alta em preços monitorados e bens industriais.