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Trump disse que teve uma conversa 'longa e muito produtiva' com Putin; aqui, eles aparecem em foto de 2018 - Foto: Reuters
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quinta-feira 13 de fevereiro de 2025 às 09:17h

‘Com Trump, Putin consegue o que queria: negociar sobre a Ucrânia diretamente com os EUA’

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que teve uma ligação telefônica “longa e muito produtiva” com o presidente russo Vladimir Putin nesta última quarta-feira (12), na qual os líderes concordaram em iniciar negociações para encerrar a guerra na Ucrânia.

Em uma publicação em sua plataforma Truth Social, Trump disse que ele e Putin “concordaram com que nossas respectivas equipes iniciassem negociações imediatamente” e se convidaram para visitar suas respectivas capitais.

Depois, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que conversou com Trump sobre uma “paz duradoura e confiável”.

O conflito iniciado com a invasão da Rússia à Ucrânia está prestes a completar três anos.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Putin apoiou a ideia de Trump de que havia chegado a hora de trabalharem juntos.

O telefonema entre Putin e Trump durou quase uma hora e meia, disse Peskov.

Trump também disse a repórteres que era improvável que a Ucrânia retornasse às suas fronteiras anteriores a 2014, mas, em resposta a uma pergunta da BBC, ele disse que “parte daquele pedaço retornará”.

O presidente americano afirmou concordar com seu secretário de Defesa, Pete Hegseth, o qual disse em uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesta quarta que não havia probabilidade de a Ucrânia se juntar à aliança militar.

“Acho que isso provavelmente é verdade”, disse Trump.

Segundo a agência de notícias Reuters, este foi o primeiro contato direto conhecido entre Putin e um presidente dos EUA desde antes da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.

Trump não definiu uma data para um encontro presencial com Putin, mas depois disse a repórteres na Casa Branca: “Nós nos encontraremos na Arábia Saudita”.

Na Truth Social, o presidente dos Estados Unidos disse que ele e Putin também discutiram sobre o Oriente Médio e a tecnologia de inteligência artificial.

Também foram debatidas as relações bilaterais e uma troca de prisioneiros entre Washington e Moscou, de acordo com a agência russa TASS.

Já a ligação entre Trump e Zelensky durou uma hora, de acordo com a agência de notícias AFP.

Trump disse que instruiu uma equipe, incluindo o secretário de Estado americano, Marco Rubio, a liderar as negociações.

Putin também “expressou sua prontidão para receber autoridades americanas na Rússia nas áreas de interesse mútuo, incluindo, é claro, o tópico do acordo ucraniano”, disse Peskov.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, está na capital da Ucrânia, Kiev, onde se encontrou com Zelensky.

Os dois discutiram um possível acordo no qual a Ucrânia venderia aos Estados Unidos minerais de terras raras em troca de apoio militar, bem como a invasão em andamento da Rússia no país.

Zelensky disse que esperava que um acordo pudesse ser alcançado na Conferência de Segurança de Munique, que começa na sexta-feira (14), da qual também deve participar o vice-presidente americano, J.D. Vance.

Trump anunciou a visita de Bessent na terça-feira (11/1) na Truth Social, dizendo: “Esta Guerra DEVE e VAI ACABAR EM BREVE — Muita Morte e Destruição. Os EUA gastaram BILHÕES de Dólares Globalmente, com pouco para mostrar”.

Rússia conquista vitória diplomática

Outro discurso importante foi o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth.

Hegseth expôs termos que certamente foram bem recebidos pelo Kremlin: nenhum envio de tropas americanas para a Ucrânia em qualquer futuro acordo de segurança; nenhuma possibilidade de adesão da Ucrânia à Otan; e nenhuma chance realista de retorno às fronteiras anteriores a 2014, quando a Rússia ocupou e anexou a Crimeia e passou a apoiar insurgentes no Donbass.

Para Frank Gardner, correspondente da BBC para temas de segurança, as negociações são um passo bem-vindo para a busca da paz à primeira vista.

“Por ora, a temperatura foi reduzida”, disse.

Mas, para ele, esse movimento positivo pode ter um custo alto para a Ucrânia.

“As declarações do secretário de Defesa dos EUA soaram como um balde de água fria para muitos em Kiev, frustrando grande parte das esperanças ucranianas de um futuro seguro, livre da ameaça de novas invasões russas”, analisa.

“Suas palavras também representam um golpe para alguns dos aliados mais próximos da Ucrânia na Otan, que queriam manter a pressão sobre Moscou na esperança de esgotar sua já enfraquecida economia.”

Steve Rosenberg, editor da BBC sobre a Rússia, enxerga as movimentações de hoje como uma vitória para o Kremlin.

“Uma única ligação telefônica não encerrará magicamente a guerra na Ucrânia. As negociações vão começar. Quando e como terminarão ainda é incerto. Mas Moscou já obteve uma vitória diplomática simplesmente pelo fato de essa conversa ter acontecido”, afirma

“A linguagem vinda da Casa Branca mudou. Assim como a abordagem em relação à Rússia”, diz o analista.

“De muitas maneiras, Vladimir Putin conseguiu o que queria: a oportunidade de negociar diretamente com os Estados Unidos sobre a Ucrânia e a chance de se recolocar no topo da política internacional, apesar dos últimos três anos de guerra contra a Ucrânia.”

Caminho para ‘paz justa’ será difícil

O correspondente da BBC na Ucrânia, James Waterhouse, enxerga o discurso de Hegseth como um duro golpe para os ucranianos.

“Embora já fosse sabido que esse governo dos EUA é menos simpático à causa ucraniana do que o anterior, cada palavra do novo secretário de Defesa americano parece ter agradado a Moscou”, analisa.

“A negação da adesão à Otan, a visão de que a Ucrânia não pode vencer e a ambiguidade sobre como uma linha de frente congelada seria policiada no futuro — tudo isso equivale a uma recompensa concreta para a Rússia após 11 anos de agressão contra a Ucrânia.”

Ele lembra que Zelensky sempre defendeu que “não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, mas uma aparente ligação entre Donald Trump e Vladimir Putin mostrou o contrário.

“A ajuda ocidental — e as forças ucranianas que dela se beneficiaram — foram o que impediu Kiev de cair em poucos dias, como alguns previam. Mas o caminho para uma ‘paz justa’, como define Zelensky, está longe de ser direto ou tranquilo para a Ucrânia.”

Acenos a ameaças anteriores

Trump fez um misto de apelo e ameaça recentemente a Putin para acabar com a guerra.

Em 22 de janeiro, ele postou uma mensagem na qual afirmou que a Rússia enfrentaria “altos níveis de taxas, tarifas e sanções” se o presidente russo não desse fim ao conflito.

Trump começou a publicação, em sua plataforma Truth Social, expressando seu “amor” pelo povo russo e seu “bom relacionamento” com Putin.

Em seguida, fez um alerta direto a Putin para “PARAR esta guerra ridícula!”

“SÓ VAI PIORAR. Se não fizermos um ‘acordo’, e logo, não tenho outra escolha a não ser impor altos níveis de taxas, tarifas e sanções em qualquer coisa que esteja sendo vendida pela Rússia aos Estados Unidos e vários outros países”, disse o presidente americano.

“É hora de ‘FAZER UM ACORDO’. VIDAS NÃO DEVEM MAIS SER PERDIDAS”, Trump acrescenta em trecho do texto escrito em letras maiúsculas.

A Rússia já é o país sob o maior volume de sanções no mundo, e há muito poucas entidades ou setores-chave que ainda não estão sujeitos às restrições dos Estados Unidos e da Europa.

Os bancos russos e as empresas militares-industriais se adaptaram e desenvolveram soluções alternativas para escapar das sanções existentes.

“Vamos acabar com essa guerra, que nunca teria começado se eu fosse presidente! Podemos fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil – e o jeito fácil é sempre melhor”, concluiu o presidente americano em sua publicação.

Durante sua campanha, Trump disse repetidamente que poderia acabar com a guerra “em um dia”, mas nunca elaborou como isso poderia acontecer.

Putin parabenizou Donald Trump por sua vitória eleitoral, afirmando que o republicano é um “homem corajoso”.

Já Zelensky disse após a vitória de Trump que teve uma “troca construtiva” com ele por telefone e que esperava que a guerra com a Rússia terminaria “mais cedo” do que ocorreria sem Trump na Presidência dos Estados Unidos.

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