Responsável pela articulação política do governo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, enfrenta obstáculos para conduzir as conversas da reforma ministerial por ter o próprio cargo sob risco. Um dos cenários avaliados pelo presidente Lula da Silva (PT) inclui a troca do comando da Secretaria de Relações Institucionais (SRI).
Ainda que o presidente não dê sinais efetivos de que mudará o comando da pasta, líderes do Congresso já veem Padilha fragilizado para falar em nome do presidente sobre alterações no primeiro escalão do governo.
Ao mesmo tempo, Lula tem indicado que vai ouvir o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), antes de referendar mudanças, numa sinalização de deferência aos novos comandantes das Casas. A intenção é buscar a governabilidade para a segunda metade do mandato.
Aliados de Hugo Motta afirmam que os líderes se movimentaram para designá-lo para cuidar do tema diretamente com Lula, por não quererem negociar com Padilha frente a uma relação desgastada. Já no Senado, independente da condição de força do ministro da SRI, interlocutores de Alcolumbre afirmam que o novo presidente seria, de qualquer forma, peça importante nas conversas sobre trocas de ministério.
— Davi chega à presidência bem empoderado, por um apoio multilateral, do governo e da oposição, e é um nome que tem toda força de dialogar representando o Senado. Antes de ser presidente, Davi já era fiel da balança, dentro do governo, para votações em que muitas vezes foi atuação dele que garantiu o quórum favorável. Como presidente da Casa, isso só aumenta — afirma o líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (União-PB).
Na visão de parte dos líderes, Padilha está com “café frio” para capitanear articulações. Para os parlamentares, há uma reforma na cabeça de Padilha e outra na mente de Lula.
Deputados também citam que, embora tenha menos contato com as Casas, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, tem tido termômetro melhor sobre a direção das mudanças. Veio de Rui, por exemplo, a indicação de que Alexandre Silveira e Carlos Fávaro, ambos ministros do PSD, não seriam deslocados dos seus cargos apesar das pressões do Congresso.
Aliados do ministro admitem que o próprio Padilha já ouviu de líderes que a tarefa para conduzir a reforma ministerial deve ser tocada pelo novo ocupante da SRI.
Quando tocam no assunto com o ministro, os parlamentares citam os rumores de que Padilha deve ir para o Ministério da Saúde. Médico, o ministro ocupou o cargo no governo Dilma Rousseff entre 2011 e 2014. Enquanto fritam o ministro no atual cargo, parlamentares também tentam costurar boa relação com Padilha para a hipótese de ele ocupar a cadeira de Nísia Trindade.
O ministro também enfrenta resistência dentro do PT. Petistas da alta cúpula da legenda afirmam que a permanência de Padilha está “insustentável”. A ala da legenda contrária à atuação do ministro diz que o relacionamento de Padilha com líderes do Centrão está desgastada e que os principais acordos construídos no Congresso devem ser creditados aos líderes da Câmara, José Guimarães, do Senado, Jaques Wagner, e ao empenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na quarta-feira, Padilha visitou a Câmara para uma reunião com Hugo Motta (Republicanos-PB) e tomou um chá de cadeira do deputado, esperando por cerca de 40 minutos.
Interlocutores do ministro afirmam que não há qualquer mal-estar entre Padilha e Motta, que já o chamou de amigo e com quem o ministro conversa ao telefone várias vezes ao dia.
Petistas afirmam que Padilha faz reuniões para tentar se cacifar com as lideranças nas Casas enquanto está numa posição vulnerável. Na quarta, o ministro chamou lideranças da Câmara dos Deputados para apresentar a agenda de prioridades do governo no Congresso para 2025.
Padilha apresentou seis eixos principais: agenda econômica; estímulo ao empreendedorismo; educação; mudanças climáticas; proteção no ambiente digital e justiça social e defesa da democracia. Depois da reunião, Padilha ligou para Motta relatando como foi o encontro.
Líderes se queixaram que os tópicos não incluíam duas das principais preocupações da população, que é a inflação de alimentos e a segurança pública. Líder do Solidariedade, Aureo Ribeiro (RJ), cobrou que o governo tenha um eixo específico voltado para segurança pública:
— A reclamação que fiz é que não é possível que a pauta de prioridade do ano não tenha prioridade na segurança pública. O governo está desconectado do que está acontecendo no país. São áreas dominadas pelo tráfico, pessoas com medo de andar na rua, roubo desenfreado de carro, de celular, criança atingida por bala perdida. E nenhuma das prioridades da pauta falam disso. A PEC da segurança está mal colocada, não atende necessidade do povo, o governo parece que não enxerga vida como ela é — afirma Ribeiro.
Como resposta, a SRI anunciou que será realizada uma reunião do líder do Solidariedade e outros parlamentares que atuam da segurança com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para debater outras iniciativas em tramitação no Congresso sobre o tema. Aliados do ministro afirmam que a reunião da quarta-feira foi ocorreu no mesmo formato no início de 2024.
Durante a reunião no Palácio do Planalto, deputados relataram que Padilha se referia ao líder do MDB, Isnaldo Bulhões (MDB), um dos nomes defendidos pela Câmara para assumir seu cargo, de “o líder dos líderes”. Na visão dos parlamentares, o ministro “passou recibo” de que está incomodado com as especulações de que pode ser substituído por Bulhões.
— Fico feliz de ser lembrado, pela simpatia dos meus pares, mas não tive convite e nem sondagem. O interlocutor do presidente quem diz quem é, é o presidente. Estamos tranquilos, o MDB tem sua participação no governo e não tem expectativa e nenhuma ansiedade em ser chamado — afirma Bulhões.
Na mesma reunião, três líderes brincaram com a possibilidade de Lula deixar a SRI e assumir o Ministério da Saúde, com tom de que “quando estiver na saúde” o Centrão terá um aliado em uma das pastas mais cobiçadas da Esplanada.
Sob reserva, líderes afirmam que, sem mexer em Padilha, Lula não conseguirá melhorar a relação com Congresso. As reclamações se concentram especialmente na trava do pagamento de emendas.
Líder da bancada negra na Câmara, deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB), cobrou Padilha para uma solução para os pagamentos e citou a atual situação constrange a relação entre parlamentares, que anunciam obras, e prefeitos, que aguardam os recursos chegar para executá-las. O desgaste do ministro acabou ampliado em meio às tensões com o Congresso geradas as decisões de Flavio Dino do Supremo Tribunal Federal que bloqueiam o pagamento de emendas.
Em paralelo, legendas que são mais fiéis ao governo em votações do que outras siglas com ministérios na Esplanada, cobram tratamento diferenciado do ministro:
— O governo precisa definir quem estar no governo e quem é governo. Tem partido que estão no governo para dar governabilidade, ajudar a aprovar pautas do dia a dia, mas não estão participando da luta e da defesa do governo — afirma o líder do PDT, Mario Heringer (PDT-MG).