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quarta-feira 12 de fevereiro de 2025 às 11:11h

As empresas no Brasil que podem ser prejudicadas — ou beneficiadas — pelas tarifas de Trump, segundo relatório

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Um dos setores mais tradicionais na economia e no comércio exterior brasileiro, a indústria de aço e alumínio enfrenta um futuro incerto desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifa de 25% sobre os produtos brasileiros deste mercado.

As tarifas impostas pelos EUA, um dos mais importantes destinos das exportações brasileiras de aço e alumínio, devem entrar em vigor em 12 de março.

De acordo com um relatório do Itaú BBA publicado na segunda-feira (10), produtoras nacionais sem capital aberto — responsáveis por mais de 80% das exportações, no caso do aço — e que têm boa parte de seus negócios voltado para a exportação podem ser prejudicadas nesse novo cenário.

É o caso das operações brasileiras das multinacionais ArcelorMittal e Ternium, que produzem aço — ambas citadas no relatório como exemplos de empresas que “provavelmente” seriam as “mais impactadas negativamente”.

Já siderúrgicas brasileiras de capital aberto como Gerdau, Usiminas e CSN provavelmente não seriam tão prejudicadas, pois as exportações não são tão significativas para seus negócios, segundo explicou à BBC News Brasil Daniel Sasson, analista do Itaú BBA para o setor de mineração e siderurgia.

A Gerdau, inclusive, pode até se beneficiar do novo cenário, por ter parte significativa da sua produção nos próprios EUA — apesar de ter sido fundada no Brasil, no Rio Grande do Sul.

Segundo Sasson, o relatório focou mais no aço por este ser um mercado maior do que o alumínio. Mas ele cita que outra gigante deste segmento com capital aberto, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), tampouco deve ser fortemente afetada pelas tarifas americanas por não ter as exportações para os EUA como tão centrais para seu negócio.

Entretanto, o analista alerta que “ainda é cedo” para fazer uma análise de eventuais impactos.

“O aumento das tarifas não foi efetivado ainda, vai ser no começo de março. Então, muita água vai rolar até lá, negociações podem ser feitas”, diz Sasson.

“Até porque se de repente as empresas conseguirem redirecionar volumes para outros lugares, não precisariam necessariamente reduzir a produção e mandar gente embora.”

‘Beneficiada’: Gerdau

Diferente de outras empresas brasileiras, a Gerdau, na verdade, poderia se beneficiar do aumento das tarifas — já que ela tem produção nos EUA, de cerca de 3,8 milhões de toneladas por ano, segundo o relatório do Itaú BBA.

“Uma das potenciais implicações dessa medida de Trump é o aumento de preço de aço no mercado americano. E a Gerdau, sendo produtora americana, se beneficiaria desse movimento”, aponta Sasson.

‘Prejudicadas’: ArcelorMittal e Ternium

A ArcelorMittal produz e vende “muito aço” no Brasil, explica o analista.

Mas, em 2023, ela comprou a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) — e essa operação pode ficar mais vulnerável agora.

“[Ela] tem uma capacidade de produção de mais ou menos 3 milhões de toneladas de placas [de aço] por ano, e boa parte desse volume vai para os Estados Unidos. Uma parte das operações da Arcelor no Brasil, especificamente referentes a esta planta, é que fica mais sob risco.”

Já a Ternium comprou, em 2017, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), com capacidade de produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano — boa parte da qual vai para os EUA.

Outros impactos

As tarifas de Trump não afetam apenas as empresas do setor de aço e alumínio.

Segundo a Câmara Americana de Comércio do Brasil (Amcham), que possui mais de 3,5 mil empresas associadas, com as tarifas, há o risco de redução das importações brasileiras de produtos americanos.

Em 2024, as empresas brasileiras importaram US$ 1,4 bilhão em carvão siderúrgico americano, utilizado para a produção do aço no Brasil.

“A indústria siderúrgica brasileira possui significativo grau de integração com os EUA”, diz nota da Amcham divulgada na terça-feira (11).

“Além disso, o aço brasileiro é um insumo estratégico para a indústria americana. O Brasil, por sua vez, importa um volume relevante de bens fabricados com aço nos EUA, incluindo máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação.”

Um dos argumentos de Trump para impor tarifas foi de que a balança comercial americana tem déficit — ou seja, que os americanos compram mais do que vendem aos demais países, gerando prejuízo para o lado americano.

Mas a Câmara Americana de Comércio no Brasil ressaltou que os EUA têm saldo positivo em sua relação com o Brasil.

“A Amcham Brasil espera que os governos do Brasil e dos EUA busquem uma solução negociada para preservar o comércio bilateral, que tem registrado recordes nos últimos anos, com ganhos para ambas as economias e expressivo superávit para o lado americano”, diz a entidade.

Os Estados Unidos registraram superávit de US$ 7,3 bilhões com o Brasil em 2024, um aumento de 31,9% em relação a 2023. Esse valor representa o sétimo maior saldo dos Estados Unidos com um parceiro individual em 2024, segundo a Amchan.

Aeronave sendo produzida no Brasil
Brasil importa bens fabricados com aço nos EUA, incluindo peças para aeronaves – Foto: Getty Images

Indústria brasileira preocupada

O governo brasileiro ainda não decidiu se vai responder às tarifas anunciadas por Trump. Outros países já anunciaram retaliação.

“A avaliação é de que medidas unilaterais desse tipo são contraproducentes para a melhoria da economia global. A economia global perde com isso, né?”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“O MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio) está fazendo essa avaliação para levar ao presidente o quadro geral, e nós vamos avaliar conjuntamente.”

O próprio Brasil também pratica protecionismo no setor do aço. Em outubro, após mais de um ano de análise, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou para 25% o imposto de importação para 11 tipos de produtos de ferro e de aço. Antes disso, esses produtos pagavam de 10,8% a 14% para entrarem no país.

O pedido foi feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel), que acusava “concorrência desleal dos produtos importados”.

Na terça-feira, os setores de aço e alumínio se posicionaram sobre as medidas de Trump.

A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) manifesta preocupação com os impactos da nova medida.

“Os efeitos imediatos para o Brasil serão sentidos primeiramente nas exportações e na dificuldade de acesso dos produtos brasileiros a esse mercado”, afirma a Abal.

“Apesar de os produtos de alumínio brasileiros terem plena condição de competir em mercados altamente exigentes como o americano, seja pelo aspecto da qualidade ou da sustentabilidade, nossos produtos se tornarão significativamente menos atrativos comercialmente devido à nova sobretaxa.”

A participação do Brasil no total de importações americanas de alumínio é pequena — menos de 1%. Mas do lado brasileiro, os EUA são importantes: representam 16,8% das exportações brasileiras de alumínio.

Os EUA representam US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024.

A entidade também ressalta outro problema. O alumínio de outros países que também perderão acesso ao mercado americano buscará novos destinos, incluindo o Brasil, “podendo gerar uma saturação do mercado interno de produtos a preços desleais”, segundo a Abal.

O Instituto Aço Brasil — que representa as siderúrgicas nacionais — manifestou “surpresa” com as tarifas de Trump.

O instituto afirmou que o Brasil já cumpria cotas de exportação aos EUA — algo que foi negociado pelos dois países. A nota ressalta que o Brasil não ultrapassou em momento algum as cotas negociadas. Industriais americanos que apoiam as tarifas acusaram o México de descumprir essas cotas, exportando volumes acima do negociado.

A entidade brasileira destacou que os EUA dependem de aço importado.

“Os EUA importaram, em 2024, 5,6 milhões de toneladas de placas por não dispor de oferta suficiente para a demanda do produto em seu mercado interno, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil.”

Em sua nota, o Instituto Aço Brasil defendeu o protecionismo praticado pelo Brasil.

“Cabe ressaltar que o mercado brasileiro também vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China”, afirma a nota.

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