O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu a promessa feita no domingo (9) de impor taxas de importação de 25% sobre o aço e o alumínio que entram no país. Segundo a Casa Branca, os decretos foram assinados na tarde de hoje, informou a AFP.
A decisão pode prejudicar a indústria brasileira, uma das principais exportadoras de aço para os EUA. O Brasil também é um relevante fornecedor de alumínio para o país.
A guerra comercial prometida pelo presidente Donald Trump desde seu retorno à Casa Branca entra em uma nova fase agora com a introdução de tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados pelos Estados Unidos.
A tarifação complica ainda mais esse mercado estratégico para muitos setores, já desestabilizado pelo excesso de produção chinesa e pelas dificuldades dos produtores europeus.
Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump impôs tarifas sobre esses materiais para proteger a indústria doméstica, que, segundo ele, enfrenta concorrência desleal.
A ameaça de Trump sobre países exportadores de aço e alumínio aconteceu quase ao mesmo tempo em que a China iniciou a cobrança de tarifas de importação sobre US$ 14 bilhões em mercadorias e serviços americanos, em retaliação a uma taxação extra de 10% sobre produtos chineses determinada pelo presidente americano na semana passada.
Quem exporta aço para os Estados Unidos?
A produção mundial de aço bruto atingiu 1,89 bilhão de toneladas em 2023, das quais mais da metade (1,02 bilhão de toneladas) foi produzida pela China, o principal produtor mundial, conforme os últimos dados disponíveis da World Steel.
Os EUA, bem atrás, com 82 milhões de toneladas produzidas, importaram 26,4 milhões de toneladas desse metal em 2023, tornando-se o segundo maior importador do mundo, atrás da União Europeia.
Ele é abastecido principalmente pelo Canadá, com 5,95 milhões de toneladas importadas em 2024, de acordo com a administração comercial dos EUA.
Em seguida, vêm o Brasil, a UE e o México, com 4,08, 3,89 e 3,19 milhões de toneladas, respectivamente, à frente de outros países, como Coreia do Sul, Vietnã, Japão, Taiwan e China.
Por que Trump está falando sobre concorrência desleal?
Os preços mundiais do aço caíram drasticamente no ano passado devido ao excesso de produção. De acordo com a OCDE, o excedente global de aço está entre 500 e 560 milhões de toneladas. A maioria vem da China, que está “inundando” os mercados mundiais, diz um siderúrgico europeu à AFP, sob condição de anonimato.
— As capacidades de produção nos Estados Unidos e na Europa têm sido historicamente equilibradas e adaptadas à demanda doméstica, mas no Sudeste Asiático elas superam em muito a demanda — acrescentou a fonte.
A economia do aço, cíclica por 50 anos, agora enfrenta um problema “estrutural” de superprodução, afirmam os especialistas. A China reduziu drasticamente seu consumo, em parte devido à paralisação de seus enormes projetos de construção.
Além disso, suspeita-se que o gigante asiático subsidie sua produção de forma mais ou menos direta, o que reduz os preços, colocando sob pressão as tradicionais empresas europeias e americanas.
A US Steel, que está passando por um período difícil, foi objeto de uma tentativa de aquisição pela Nippon Steel, bloqueada por Joe Biden e depois por Donald Trump. A empresa alemã ThyssenKrupp anunciou cortes de milhares de empregos.
Para ilustrar a intensidade da atual guerra comercial, o empresário europeu entrevistado pela AFP apontou que “a China exportou entre 110 e 120 milhões de toneladas no ano passado, o que é praticamente equivalente ao consumo europeu”, que é de 126 milhões de toneladas por ano.
Por que o aço ainda é estratégico na era digital?
O aço, que estava no centro da revolução industrial iniciada na Europa no século XIX, continua sendo a base de muitos outros setores da indústria tradicional. Em 2023, 52% do aço produzido ainda era destinado à construção, enquanto o setor automotivo absorvia 12%.
Os setores de armamento e ferroviário também estão entre os principais clientes do aço, que também é fundamental para a transição energética, com as turbinas eólicas, e digital, nos data centers. No entanto, seu processo de fabricação, que usa carvão para remover o oxigênio do minério de ferro, faz com que seja o setor industrial com as maiores emissões de gases de efeito estufa.
Com isso, o setor deu início a um planejamento de transição e investimentos maciços para descarbonização na Europa, embora estejam parados devido ao difícil contexto atual.