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segunda-feira 10 de fevereiro de 2025 às 18:48h

Reeleição de Lula é ameaçada por crescimento de evangélicos; veja números

DESTAQUE, ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS


Um estudo da Mar Asset Management, empresa de gestão de ativos, projeta que os evangélicos devem representar 35,8% da população brasileira em 2026, ano da próxima eleição presidencial. O aumento de 3,7 pontos porcentuais desde o pleito de 2022 pode ameaçar uma eventual reeleição do presidente Lula da Silva (PT), de acordo com a análise.

O estudo levou em consideração a projeção de aumento da população evangélica, os índices de votação entre o segmento religioso nas eleições passadas dos presidentes eleitos e a popularidade atual de Lula.

“A combinação entre o padrão de votação dos evangélicos e o seu crescimento como proporção da sociedade é muito negativa para o PT nas eleições subsequentes. Estimamos que os evangélicos representarão 35,8% da população em 2026, contra 34% em 2022. Apenas esse aumento já seria suficiente para alterar o resultado da eleição, mantendo-se todos os demais fatores constantes. Ou seja, mantidas as intenções de votos no PT entre evangélicos e não evangélicos iguais às de 2022, Lula obteria 49,8% dos votos válidos”, diz a análise.

Até 2014, os evangélicos votavam relativamente de forma equilibrada entre o candidato do PT e seu adversário. Em 2010, 51% dos eleitores evangélicos declararam intenção de voto no candidato petista, contra 49% do principal adversário. Já em 2014, ano da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), os evangélicos representaram 49% das intenções de voto na véspera da eleição.

O panorama mudou a partir das eleições de 2018, quando apenas 31% dos eleitores evangélicos declararam voto em Fernando Haddad (2018) e em Lula (2022). Se o índice de intenção de voto ao candidato do PT se mantiver no patamar de 31% em 2026, o petista teria apenas 49,8% dos votos válidos.

Em 2010, à época da eleição de Dilma, apenas dois Estados (ES e RO) tinham mais de 30% de sua população composta por evangélicos. Em 2022, esse número subiu para 18 Estados.

O diretor do Observatório Evangélico, Vinícius do Valle, ressalta que não há dados consolidados sobre o número de evangélicos no País, mas que, se a tendência de crescimento do segmento religioso se mantiver, “2022 pode ter sido a última eleição que daria para ganhar sem os evangélicos”.

“Estamos vendo uma certa consolidação do voto evangélico, nos últimos pleitos, do ponto de vista ideológico. Ou seja, em torno de 60%, 70% desse grupo, está votando em candidatos da direita ou em candidatos antipetistas”, explica.

PT tem menos votos em municípios com mais evangélicos

De acordo com o estudo, o PT recebe menos votos em municípios com maior presença evangélica, uma tendência “consistente” entre Estados e regiões do País.

“Os evangélicos explicam boa parte da dicotomia entre os bons resultados econômicos e a baixa avaliação do governo Lula III. Enquanto os não evangélicos avaliam o atual governo de maneira similar ao de Dilma I, os evangélicos o avaliam de forma bem mais negativa”, diz.

Em 2022, a conversão de votos entre a população não evangélica em Lula foi a maior da história. Mesmo que os porcentuais de votos se repetisse, o maior número de evangélicos no País já seria suficiente para garantir a vitória de um candidato de direita em 2026, mostra a análise.

“Entre 2010 e 2024 o número de igrejas de denominação evangélicas com CNPJ ativo dobrou, chegando a mais de 140 mil templos em 2024. O ritmo de expansão permaneceu surpreendentemente constante. Em todos os ciclos presidenciais desde 2010, foram registradas, em média, cerca de 5 mil novas aberturas de templos por ano”, diz o estudo.

Segundo Valle, apesar do alinhamento ideológico com pautas mais conservadores, o eleitor evangélico não é automaticamente bolsonarista. Para o pesquisador, o eleitor leva em consideração, além de preferências políticas, o contexto social e econômico do País na decisão do voto.

“Ele é um eleitor que se coloca em disputa. O que foi trazido para esse eleitor (em eleições passadas)? O governo Lula iria perseguir igrejas, fechar igrejas, argumentos que vão ser muito difíceis de serem reproduzidos na próxima eleição. É precipitado reproduzir a dinâmica ideológica dos últimos pleitos e tratar essa dinâmica ideológica como um dado para próxima eleição. É preciso ter cautela e ver que esse eleitor também é um eleitor em disputa, mas não podemos deixar de notar que, com certeza, esse contingente populacional está ganhando cada vez mais força”, explica.

O número de templos por 100 mil habitantes aumentou de 22,7 para 65,4 entre 2000 e 2024. A estimativa da Mar Asset Management é que esse número alcance 69,6 na véspera da eleição presidencial de 2026. Os templos que não foram identificados como evangélicos somavam 5,5 por 100 mil habitantes em 2000 e hoje são 15,6.

Aspectos sociais

O estudo analisou o comportamento e pautas sociais defendidas pelos evangélicos, como defesa da família e oposição ao aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao divórcio e ao consumo de álcool.

Segundo a análise, 83% dos evangélicos consideram o comportamento homossexual moralmente errado, frente a 56% dos católicos. Além disso, 66% dos evangélicos se opõem à legalização do casamento homoafetivo, contra 43% dos católicos.

Ainda de acordo com os dados, 80% de ambos os grupos rejeitam o aborto moralmente, mas 84% dos evangélicos defendem sua ilegalidade em quase todos os casos.

“A religião exerce uma influência significativa na política, especialmente entre os evangélicos. Esse grupo mostra maior predisposição para considerar a opinião de seus líderes religiosos e os valores da fé ao tomar decisões de voto nas urnas e, dentro do Congresso, apoio à medidas legislativas”, diz o estudo.

Evangélicos votam contra o PT para presidente desde 2018

O PT venceu as eleições de 2010, 2014 e 2022 com o apoio dos eleitores que não são evangélicos. Mesmo em 2018, época em que a rejeição ao partido era muito alta, o PT detinha 50% da intenção de voto desse grupo. Em 2022, Lula foi eleito apenas por conta da maior vantagem já obtida entre esse segmento da sociedade, de acordo com o estudo.

“A combinação entre o padrão de votação dos evangélicos e o seu crescimento como proporção da sociedade é muito negativa para o PT nas eleições subsequentes”, diz a análise.

De acordo com Vinícius do Valle, há “uma aproximação muito forte entre lideranças evangélicas e o campo da direita, em especial o campo do bolsonarismo” e o governo petista “tem tentado quebrar essa aproximação”.

“Já teve alguns resultados. Já tivemos uma bancada evangélica inteira praticamente sendo eleita a partir de uma agenda e de uma demonstração explícita de apoio ao Bolsonaro. Mas hoje a gente tem uma parcela da bancada evangélica que está próxima ao governo. O campo evangélico tem se apresentando de forma mais multifacetada ideologicamente.”

Na eleição de 2022, Lula obteve sucesso no convencimento do eleitor não evangélico. Foi a maior taxa de conversão entre esse grupo em todas as eleições vitoriosas do PT. Já em relação aos evangélicos, nos Estados com maior quantidade de templos, a votação no PT tende a ser menor, e vice-versa.

Segundo o estudo, em quase todos os Estados com mais de 60 templos por 100 mil habitantes, o PT obteve menos de 50% dos votos totais no segundo turno. Nos Estados com menos, o PT obteve vitória em praticamente todos os estados e anos.

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