A possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) lançar o filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para disputar a Presidência da República em seu lugar já enfrenta resistência entre os partidos de centro-direita.
Lideranças ouvidas pelo Estadão evitam cravar apoio a um dos dois e defendem que a escolha de um substituto de Bolsonaro precisa ser discutida de forma coletiva.
Um dirigente do Republicanos, partido que esteve com Bolsonaro na eleição de 2022, reconhece reservadamente que a articulação para apoiar Eduardo ou Michelle seria complexa e questiona por que a direita precisaria, necessariamente, escolher um nome da família Bolsonaro com o ex-presidente inelegível.
![Michelle e Eduardo Bolsonaro durante evento em Washington, na noite anterior à posse de Donald Trump.](https://i0.wp.com/www.estadao.com.br/resizer/v2/SOG4DBWQH5EQ7AZRHXJRUI7OLQ.jpeg?w=660&ssl=1)
O presidente nacional da legenda, deputado federal Marcos Pereira (SP), já havia levantado essa questão em entrevista ao Estadão no mês de dezembro, quando disse que Eduardo teria um caminho mais difícil como candidato do que o pai.
“Eu acho que ele vai ter mais dificuldade. Uma coisa é o Bolsonaro, outra coisa é o Eduardo. Acho que, por exemplo, o Caiado (governador de Goiás) não abriria mão (da candidatura a presidente) para apoiá-lo. Acho que o Caiado apoiaria um Tarcísio, talvez um outro nome, mas o Eduardo eu não vejo, até pelas brigas que eles tiveram”, disse Pereira.
O dirigente ainda acrescentou na ocasião: “Acho que a gente tem que ter maturidade. E o próprio Bolsonaro deverá ter, a meu ver, lá na frente, maturidade para ver uma coisa mais ampla em prol do projeto não pessoal, mas do projeto de País e desse campo político.”
O líder do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PP-PI), garantiu que o partido estará com Bolsonaro caso ele consiga reverter a inelegibilidade e disputar a eleição. Mas sobre as possíveis candidaturas de Michelle ou Eduardo, disse que a decisão precisaria ser debatida, embora a tendência seja de apoio: “Se ele (Bolsonaro) puder ser candidato, a gente o apoia. Um outro nome a gente tem que discutir com esse nome, mas a tendência de apoiar é muito grande”.
Aliados de Ciro Nogueira, porém, adotam uma postura mais cautelosa sobre o apoio a Eduardo. Um dirigente ouvido pelo Estadão argumenta que, caso Bolsonaro siga inelegível, a escolha do substituto deve levar em conta a rejeição — e, nesse quesito, Eduardo não desponta como a melhor alternativa.
Na pesquisa Genial/Quaest divulgada na última segunda-feira, 3, o filho do ex-presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aparecem com as maiores rejeições: Haddad marca 56% entre eleitores que afirmam conhecê-lo mas não consideram votar nele. O índice de Eduardo Bolsonaro é de 55%. A ex-primeira-dama, por sua vez, tem a mesma rejeição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 49%.
No PSD, partido de Gilberto Kassab, cujo apoio é cobiçado por Lula e Bolsonaro, a chance de endossar uma candidatura de Eduardo ou Michelle é considerada extremamente improvável, mesmo com Kassab no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Lideranças da sigla avaliam que, no cenário atual, o mais provável é que o partido lance um candidato próprio para o Planalto, como Ratinho Júnior, governador do Paraná, ou opte pela neutralidade, assim como fez em 2022.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, reafirmou ao Estadão que Bolsonaro é o candidato do partido mesmo estando inelegível. Questionado se a sigla apoiaria automaticamente um nome indicado por ele para 2026, foi categórico: “Ele manda. O que ele falar cumpriremos”.
Eduardo ganha força entre bolsonaristas como possível candidato
Em entrevista à CNN Brasil no mês passado, Bolsonaro citou Michelle e os filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como alternativas em 2026. Nos bastidores, porém, aliados dizem que o nome de Eduardo tem ganhado força, impulsionado por sua proximidade com líderes da direita internacional.
De olho nesse protagonismo, Eduardo tem investido na agenda internacional para se fortalecer politicamente. Em novembro, ele assumiu a Secretaria de Relações Internacionais e Institucionais do PL e agora trabalha para presidir a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em uma articulação que tem forte oposição do PT.
Eduardo tem estreitado laços com o entorno de Donald Trump, especialmente com o filho do presidente americano, Donald Trump Jr, com quem Eduardo se encontrou no início deste ano. No mês passado, durante um almoço com parlamentares brasileiros, o estrategista Steve Bannon, que foi assessor de Trump, chegou a dizer que Eduardo será presidente do Brasil no futuro — fala interpretada como um endosso à sua possível candidatura. Ao mesmo tempo, Eduardo mantém proximidade com o presidente argentino Javier Milei, que participou da CPAC Brasil no ano passado, evento organizado por Eduardo.
Aliados de Eduardo admitem a resistência em torno de seu nome e avaliam que, se ele for candidato, a direita deve se dividir. Pessoas próximas ao deputado acreditam que a chance de consenso seria maior com Tarcísio, que nega intenção de disputar o Palácio do Planalto. Além disso, Eduardo enfrenta obstáculos dentro do próprio PL e é criticado até entre bolsonaristas por sua falta de articulação. Outro obstáculo para a candidatura do filho de Bolsonaro é o risco de ficar sem mandato caso seja derrotado. No mês passado, no entanto, ele afirmou que estaria disposto a se “sacrificar” e entrar na disputa se essa fosse a vontade de seu pai.