— Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque, senão, vai estragar.
A declaração foi compartilhada pelos senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Ciro Nogueira (PP-PI), Sergio Moro (União Brasil-PR) e Rogério Marinho (PL-RN), que ironizaram o comentário do presidente.
Guerra dos bonés
As redes ainda foram abastecidas com críticas de parlamentares à política econômica na primeira sessão plenária deste ano da Câmara. Vestindo um boné verde e amarelo estampado com a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, organizou uma manifestação da bancada bolsonarista. Com um pacote de carne nas mãos, eles gritavam “nem picanha, nem café”, numa referência a alimentos que puxam a alta dos preços.
A manifestação foi uma resposta à movimentação da base governista durante a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Casa dias antes. Aliados do presidente usaram um boné azul com a frase “O Brasil é dos brasileiros”. O adereço também foi usado por membros da Esplanada licenciados para participarem da votação.
A reação bolsonarista também repercutiu recentemente nas redes com a crise do Pix, como aponta o levantamento da Palver. O gráfico mostra um pico de menções do tema nos últimos 90 dias. A repercussão do caso, ligada à divulgação de notícias falsas e ao vídeo viral do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), influenciou o governo a suspender a tentativa de aumentar o monitoramento das transferências.
Líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues disse que a “oposição entende de tentar dar golpe, bravata e fake news”:
— Preço dos alimentos e economia do povo não é muito forte deles não. A diferença, é que no governo deles, eles não se preocupavam quando o povo ia para a fila do osso. No nosso, quando tem uma pressão, nós buscamos tomar as medidas necessárias para que o preço volte a reduzir — afirma.
Embates entre o governo e a oposição também se desdobraram recentemente em meio à alta do preço do diesel, anunciada na semana passada, também revela o levantamento. O aumento de R$ 0,22 por litro foi justificado por Lula como uma decisão de Magda Chambriard, presidente da Petrobras, para corrigir a defasagem em relação à cotação internacional e para atender a uma mudança no ICMS. A alteração no imposto, por sua vez, foi sancionada em 2022 por Bolsonaro.
Em resposta, o ex-mandatário afirmou, em entrevista à rádio AuriVerde, que a decisão seria responsabilidade do ministério da Fazenda. Comandada por Fernando Haddad, a pasta também é alvo recorrente da oposição nas redes sociais por propostas como a taxa “das blusinhas”, voltada para a taxação de 20% em compras até US$ 50 de pessoas físicas e aprovada pelo Congresso no ano passado.
‘Mar de polarização’
Para o economista e professor do Insper Alexandre Chaia, a reverberação desse tipo de discurso também é potencializada nas redes por um “mar de polarização”, no qual a oposição identifica o problema enfrentado pelo governo, o superdimensiona e descobre como usá-lo ao seu favor.
— A economia está se polarizando, e isso explica até por que ela está mais presente do que as discussões sobre a pauta de costume. Esses valores só aparecem quando a situação está mais estável, porque as pessoas não estão passando fome, se preocupando mais com a inflação e discutindo problemas de crescimento e alta dos preços — diz.
A resposta governista consiste, além de rebater as críticas, na estratégia de fazer uma “conta de chegada” para favorecer a reeleição de Lula em 2026, segundo o pesquisador associado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, Samuel Pessôa:
— A gente está a um ano e nove meses de eleição, mais ou menos, e Lula vai tentar fazer algum ajuste mínimo possível para chegar bem em 2026. Talvez isso seja suficientemente bom. Talvez não.