quinta-feira 30 de janeiro de 2025
Roberto Campos Neto (esq.) e Gabriel Galípolo na sede do BC: sinais de uma transição sem conflitos na instituição - Foto: Cristiano Mariz
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terça-feira 28 de janeiro de 2025 às 06:18h

Copom vai mudar o rumo com Galípolo a frente do Banco Central? O que esperar?

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Nesta semana o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reunirá para fazer um ajuste na taxa básica de juros, a Selic, devendo elevá-la para 13,25% – conforme projetado pelo consenso e pelo guidance da própria autoridade monetária.

Além disso, será a primeira reunião do Copom com Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central. O anúncio da nova taxa Selic será divulgado na quarta-feira, 29.

A avaliação é de que, dada a postura do economista desde que passou ocupar a cadeira de diretor de política monetária, os temores de interferência do Planalto estão pacificados.

André Valério, economista sênior do Banco Inter, enxerga que Galípolo ganhou um ‘voto de confiança’ do mercado, e sua gestão já começou com a transição do cargo.

“Essa [do fim de janeiro] será a primeira reunião formal dele como presidente, mas a última de 2024 já foi a primeira dele nesse cargo, já que toda essa decisão e o início da condução de política monetária de 2025 foi algo costurado com ele, com esse guidance de duas altas de 100 pontos base (bps). Não temos perspectivas de porque teria alguma alteração por que ele virou presidente, já que esse cenário está dentro do que estava traçado”, analisa.

Galípolo teve uma trajetória que evidencia sua proximidade com o governo federal, já que antes de assumir a presidência do BC, ele atuou como secretário-executivo do Ministério da Fazenda sob a liderança do ministro Fernando Haddad, sendo considerado seu “braço direito”, e também foi chamado pelo presidente Lula para discutir economia em alguns episódios.

No fim de dezembro, antes de Galípolo tomar posse, Lula prometeu, em um vídeo nas redes sociais, que a autonomia seria mantida.

“E eu quero te dizer que você será, certamente, o mais importante presidente do Banco Central que esse país já teve, porque você vai ser o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”, disse.

O tema tem sido citado inclusive por ex-presidentes da autarquia, como Henrique Meirelles. Durante participação no Brazil Economic Forum, ele relembrou uma situação de meados de 2007.

“Em oito anos de governo, ele [Lula] me ligou apenas uma vez. Expliquei que o que ele estava querendo não era melhor decisão e no final tive que dizer: fique tranquilo, vamos fazer o melhor para o país”, disse. Meirelles disse que espera uma certa tranquilidade na relação entre o Planalto e o BC.

Yihao Lin, gerente de análises econômicas da Genial Investimentos, comenta que a ‘transição deve ser tranquila’, principalmente por conta do guidance. “O Galípolo ainda tem três meses a frente, digamos, em um guarda-chuva da gestão anterior, por conta desse guidance”.

Até onde o Copom vai levar a Selic

De forma praticamente unânime, o mercado espera que o Copom eleve a Selic para 13,25% nesta reunião e para 14,25% na reunião subsequente.

A discussão maior reside sobre como ficará a condução da política monetária após esse período.

Com piora de dados de inflação e desancoragem das expectativas, diversas casas tem revisado expectativas para a Selic, esperando um pico maior dos juros neste ano de 2025.

O banco Morgan Stanley passou a projetar que a taxa básica de juros chegue a pico de 15,75% no terceiro trimestre de 2025. “A aprovação no final do ano passado do pacote fiscal para domar as pressões de gastos não melhorou a percepção do mercado sobre a perspectiva fiscal”, disse a casa, em sua revisão.

O Itaú Unibanco, por sua vez, passou a projetar uma Selic de 15,75% no primeiro semestre deste ano, revisando a previsão anterior de 15%.

O time de pesquisa macroeconômica da casa, chefiada por Mario Mesquita, aponta que, dado que é esperado uma alta de 100bps de forma unânime nesta próxima reunião, do dia 29, será um ‘sem surpresas’, e a atenções estarão voltadas para o comunicado.

“Por um lado, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do 2º trimestre de 2025. Por outro, a dinâmica do real e das expectativas de inflação serão cruciais para determinar o tamanho do ciclo”, afirma.

A XP, liderada pelo economista Caio Megale, espera uma Selic terminal de 15,50% para este ano. “Se a desaceleração econômica se intensificar, o Copom pode optar por interromper o ciclo de alta de juros antes do que o contemplado em nosso cenário base”, diz a casa, acenando para um dos temas que tem ganhando mais espaço dentro do debate macroeconômico.

Recessão à vista?

Com especialistas enxergando uma desaceleração na atividade econômica nos próximos trimestres, a palavra recessão voltou à tona dentro das discussões sobre o tema.

O contexto ainda conta com grandes entidades, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), realizando revisões baixistas. Neste mês de janeiro o fundo manteve a projeção para o crescimento econômico brasileiro para este ano, mas cortou as estimativas para 2026, esperando 2,2% de PIB para este e o próximo ano.

Até janeiro de 2025, os dados mais recentes indicam que a economia brasileira continua em crescimento, embora em ritmo moderado, com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), registrando em novembro um aumento de 0,1% ante o mês anterior e alcançando o maior nível da série histórica.

Valério, do Inter, aponta que uma eventual é ‘uma grande preocupação do mercado e a função de reação política do governo’. “Uma recessão técnica ajuda o BC porque diminui a pressão inflacionária, permitira uma polícia menos restritiva, se acontecer antes do pico, impediria a Selic de chegar tão longe, ou então abriria espaço para cortes mais cedo”.

O Inter se considera ‘menos pessimista’ do que os pares, e espera cortes na Selic após o pico, com a taxa fechando o ano na casa dos 14%.

Lin, da Genial, comenta que a casa enxerga uma recessão como mais provável em 2026 do que neste ano.

“Vemos uma desaceleração da economia, mas hoje ainda não enxergamos uma recessão técnica nos nossos cenários, mas de fato vemos crescimento dentro da estabilidade, e caso a política monetária tenha impactos de maneira menos significativa, tem risco de recessão. Mas vemos como mais provável para 2026, o que seria uma catástrofe sob o ponto de vista político para o governo, já que é ano eleitoral”.

Algumas casas endossam a tese de recessão, como por exemplo o banco BV, que espera recessão técnica no segundo semestre, com queda de 0,5% no terceiro trimestre seguida por outra contração, de 1%. Já o Bradesco estima duas quedas trimestrais de 0,3% na segunda metade de 2025.

Fiscal ainda é pedra no sapato

Especialistas ainda apontam que o problema no campo fiscal segue sendo uma pedra no sapato para o BC.

“O arcabouço é insuficiente, cortes são insuficientes, tudo depende de algo novo”, diz Valério, do Inter.

Neste início de 2025, o governo ainda não sinalizou para novas mudanças nesse sentido, sendo que o fim do ano anterior foi de frustrações perante o mercado, que estava sinalizações concretas de corte de gastos.

Haddad, em sua entrevista mais recente, à CNN, declarou que ‘no que diz respeito à Fazenda, é trabalhar o fiscal estruturalmente’.

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