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Donald Trump, 47º presidente dos Estados Unidos. — Foto: Carlos Barria/Reuters
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terça-feira 21 de janeiro de 2025 às 10:44h

Trump toma posse para 2° mandato determinado a submeter EUA à sua vontade

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A primeira frase do discurso da posse de Donald Trump no Capitólio garantiu conforme Eduardo Graça, do O Globo, que a idade de ouro dos Estados Unidos começaria naquele exato instante, às 12h02 de segunda-feira no horário da Costa Leste. O que o novo presidente americano detecta ser o declínio do país, afirmou pausadamente em seguida, acabara neste gélido dia de janeiro, com sensação térmica de -12C° em Washington. Do lado de fora, a capital foi palco de uma mudança cultural visível nas ruas, ocupadas por trumpistas encasacados que se apresentavam como pequenos empresários, cristãos conservadores apavorados com o avanço dos direitos de minorias e a entrada recorde de imigrantes sem documentação legal, jovens de grandes cidades interessados em empreender e fascinados pela gramática das big techs, presença destacada da festa republicana, mas também defensores do perdão aos condenados pela destruição do Legislativo há quatro anos e militantes de grupos supremacistas com camisetas com nomes impressos orgulhosamente nas costas, artigo aposentado desde o fim melancólico do primeiro governo do magnata nova-iorquino.

Em uma festa com discurso no National Mall e desfile na Avenida Pensilvânia abortados por conta da onda polar, a chegada do novo tempo nos EUA foi confirmada nos celulares e nos gritos de celebração à distância dados após cada trecho do discurso, como quando o republicano afirmou que “outros países não tirarão mais vantagem de nós”. E que, nos próximos quatro anos, “em cada dia do meu mandato, serão os EUA primeiro”, em um mergulho conjunto de proporções inéditas no umbigo do país.

Quebra de liturgia

Em sua volta à Casa Branca após tortuoso exílio, marcado por seguidas disputas em tribunais, uma condenação e a reconquista do Partido Republicano com a oferta tentadora de uma segunda temporada improvável, mas de consequências muito maiores ao poder, Donald Trump anunciou as primeiras e aguardadas medidas de efeito imediato, confirmando o fortalecimento do Executivo, apesar de contar com maioria, ainda que estreita, no Senado e na Câmara. Assinou parte delas, em uma quebra proposital de liturgia, no fim do dia, em mesa improvisada na arena esportiva no centro da cidade onde se concentravam dezenas de milhares de seus apoiadores. No evento informal, mais ao gosto do protagonista, debochou do ex-presidente Joe Biden e de sua adversária nas eleições de novembro, a agora ex-vice Kamala Harris, para uma plateia que celebrou em êxtase a retirada do país do Acordo de Paris e o perdão, sem detalhes, aos condenados pela destruição do Capitólio em 2021.

— Em um dia que explicitou as contradições da democracia americana, Trump pareceu indicar que irá governar como se seguisse em campanha, fazendo seu show para uma plateia que se vê numa competição esportiva, está ali para ganhar. Este é o problema central para os próximos meses, sua incapacidade de ir além do jogo. Quando se vê toda uma ala na cerimônia oficial ocupada pelos homens mais ricos do planeta e que controlam as maiores plataformas de consumo de informação não profissional do planeta, é justo questionar para quem, afinal, esta era de ouro será. E quem ficará de fgora — diz o cientista política Jonathan Hanson, da Universidade de Michigan.

Oposição anestesiada

Com pouca reação de uma oposição ainda anestesiada pela derrota em novembro, Trump, que no fim do dia recebeu a notícia da já esperada confirmação, por seus pares, do senador Marco Rubio como novo secretário de Estado, declarou emergência nacional na fronteira com o México, a fim de evitar a entrada de imigrantes ilegais. Também anunciou o início “imediato”, sem detalhes, da deportação dos que vivem no país. Designou os cartéis de drogas como organizações terroristas e “emergência nacional na área de energia”, o que inclui asfixiar a regulação ambiental e investir pesado na produção de petróleo e gás natural. Sepultou os subsídios para carros elétricos e demais projetos de economia verde, marca do governo Biden, e anunciou “apoio irrestrito” à indústria automobilística.

Trump relacionou as primeiras medidas econômicas, que incluíram as esperadas taxações de produtos estrangeiros, uma vez mais sem esmiuçá-las, ao enriquecimento dos americanos e à diminuição “progressiva” da inflação. O aumento do custo de vista no governo Biden foi apontado, em todas as pesquisas de boca de urna, como a principal razão para os eleitores decidirem pelo republicano contra a continuação do governo Biden-Kamala. Mas esta será, também, aponta Hanson, a primeria grande pedra no sapato do republicano se ele não conseguir convencer seus 77 milhões de eleitores e os mais céticos 75 milhões que votaram em Kamala de que eles, “muito rapidamente”, como prometeu uma vez mais ontem em três ocasiões, terão mais dinheiro no bolso.

Além do custo de vida, a definição de “declínio dos EUA” nos anos Biden, cantada em verso pelo novo presidente na frente de seu antecessor — um dos contrastes com a cerimônia de 2021, boicotada por Trump, foi a presença do presidente que sai na celebração da democracia — incluiu a falta de segurança pública; o uso político [contra ele e seus aliados] do Departamento da Justiça; a censura à liberdade de expressão [tema caro para as big tech]; a burocracia federal corrupta; guerras desastrosas; a “invasão” de imigrantes ilegais; uma saúde pública inchada e o sistema educacional ideologicamente tendencioso.

Não por acaso, e oferecendo uma pista sobre quem não deverá se beneficiar da era de ouro que profetizou hoje, Trump também encerrou com uma canetada todos os programas de diversidade no governo federal e determinou a existência legal de apenas dois gêneros no país. Coube a Joe Biden, em uma oposição que ainda lambe suas feridas após a derrota para Trump, reagir ao que ouviu, impávido, no Capitólio, ao lado de Kamala e dos ex-presidentes Bill Clinton (com a ex-secretária de Estado Hillary, derrotada pelo novo presidente em 2016), George W. Bush (com a ex-primeira-dama Laura) e Barack Obama (sem a ex-primeira-dama Michelle):

— Estamos deixando o governo, mas não a luta.

Governo mais unificado

Reservadamente, políticos dos dois lados do espectro político americano concordaram que os três discursos da noite de Trump, que, aos 78 anos, ainda participaria de três bailes em sua homenagem até o raiar do dia de hoje, anunciam um governo mais unificado do que o de 2017 e decidido a implantar suas ideias nos próximos dois anos a partir da justificativa de terem tido uma vitória maiúscula em novembro, algo já questionado pelos democratas, do alto dos 75 milhões de votos de Kamala.

Mas, mais importante, terminaram o primeiro dia de Trump 2.0 identificando o risco de o showman seguir em campanha permanente — a nova Casa Branca avisou que as primeiras medidas serão anunciadas em eventos de Trump país afora — e perder mais rapidamente do que pensa outro voto, o de confiança, da metade de um país ainda polarizado.

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