O clima não está nada animado no Palácio do Planalto. Após o recuo nas mudanças na fiscalização do Pix, membros do governo do presidente Lula da Silva (PT) andam abatidos e, segundo Lucas Borges Teixeira, do portal Uol, muito preocupados com o futuro.
O que aconteceu
O momento está sendo chamado de “ressaca do Pix”. No Planalto, já admitem que o episódio foi de longe o pior acontecimento do governo nestes dois anos de mandato e consideram a resolução, um recuo, uma tentativa irrisória de estancar a sangria.
O problema não foi só como acabou. Eles consideram ainda que todo o episódio, da falta de preparação para lidar com a oposição e à reação da população, com a promoção de um vídeo do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), uma derrota total. Inclusive o parlamentar mineiro tirou a vice-liderança de Lula, que só perdia para Jair Bolsonaro (PL) em quantidade de seguidores. Nikolas agora possui mais de 15 milhões de pessoas em seu Instagram, Bolsonaro 26 milhões e Lula 13 milhões.
Governo queria dar uma virada. Para os dois próximos anos, o Planalto já mira a reeleição de Lula, em 2026, com rumores de reforma ministerial e um novo rumo na comunicação.
Tempo de desânimo total
A sensação é de terra arrasada. Bem na semana em que o publicitário Sidônio Palmeira assumiu a Secom (Secretaria de Comunicação Social), anunciando um novo caminho para a comunicação do governo, a gestão foi pega de supetão pela polêmica do Pix.
A avaliação é que o governo subestimou a reação e não soube o que fazer com ela. De início, focou em tentar desmentir, com participação de Lula, mas aliados dizem que logo perdeu o timing, quando notou que comerciantes estavam negando pagamento ou cobrando taxas extras para usar o Pix.
O vídeo de Nikolas foi a cereja do bolo, diz Lucas Borges Teixeira, do Uol. Publicada na terça (13), a postagem criticando a medida explodiu nas redes sociais e fez com que o deputado passasse Lula em seguidores no Instagram.
Foi isso que o governo não soube fazer, avaliam. Como o Uol publicou, já havia uma avaliação entre petistas que a decisão não tinha medido o impacto político, o que piorou com o vídeo. Agora, a sensação é que não há respiro: há sempre uma polêmica atrás da outra e o Planalto está sempre reagindo, nunca agindo.
Preocupação com 2026
É como um filme repetido, dizem membros do governo —e é exatamente isso que eles temem. Na semana em que o governo sanciona a regulamentação da reforma tributária, um projeto feito a várias mãos, mas com coordenação da Fazenda, ou seja, Fernando Haddad, as atenções foram todas voltadas para outro assunto.
O medo, eles dizem, é manter este ritmo até as eleições. A economia sempre foi o trunfo e a promessa de Lula para o eleitorado, se a população seguir sem sentir as conquistas que o governo entrega, as chances para 2026 diminuem bastante, mesmo com o presidente à frente da chapa.
O foco será na inflação
Não à toa, o foco destes dois anos será em reduzir a inflação. Em reuniões e até em eventos públicos, Lula tem passado o recado sobre as altas de preços, pois entende que é o que mais pesa no povo e o que pode derrubar um governo.
Para o presidente, se a população sentir no bolso uma melhora, a avaliação do governo vai junto. Por outro lado, neste aspecto, não tem adiantado tanto diminuir o desemprego e aumentar a renda se a oposição segue conseguindo colar no governo a imagem de gastador, aumentador de imposto e de inflacionário.
Aí entra, também, o papel do baiano Sidônio. Caberá ao novo ministro rebater essa imagem e construir uma nova para Lula, que consiga trazer outras conexões para os cidadãos. Publicitário de perfil técnico, é esperado que Sidônio não entre no mérito se as informações veiculadas são corretas ou não, mas focar em como combatê-las.
Nesta semana, no entanto, ninguém tem falado em futuro. “É tempo de ressaca”, disseram palacianos, que tentam uma recuperação rápida na autoestima governamental.