quarta-feira 15 de janeiro de 2025
Foto: Gilberto Alves/CB/D.A Press
Home / DESTAQUE / Há exatos 40 anos, país comemorava chegada da Nova República com Tancredo Neves
quarta-feira 15 de janeiro de 2025 às 10:18h

Há exatos 40 anos, país comemorava chegada da Nova República com Tancredo Neves

DESTAQUE, NOTÍCIAS


Há 40 anos, em 15 de janeiro de 1985, Brasília e todo o Brasil comemoravam a eleição do primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar. O novo pleito encerrava o ciclo que iniciou em 1964, com o golpe de 31 de março, e iniciava uma nova etapa da história do país: a chamada Nova República. O Correio Braziliense cobriu todos os detalhes da eleição e da posse de Tancredo Neves, conforme reportagem de Gabriella Braz.

“A Velha República, implantada em 15 de novembro de 1889, estará se esgotando em seus meios e seus fins a partir da metade do dia de hoje, 15 de janeiro. Ao longo dos 95 anos que hoje se encerram, o país sofreu os terrorismos políticos de 1922, de 1930, de 32, de 35 e de 37. A partir de hoje, no entanto, os destinos do País começam a ser projetados de maneira mais duradoura e dentro de condicionamentos mais estáveis”, escreveu o jornal.

Coletiva do Presidente Tancredo Neves e seu vice, Jose Sarney. Pasta – NEVES, Tancredo. Publ. CB, 15/03/1986. – Foto: Gilberto Alves/CB/D.A Press

Além das edições de 15 e 16 de janeiro, o Correio Braziliense detalhou a campanha e os desafios do novo presidente em caderno extra intitulado “O Brasil mudou”.

Mesmo com a força do movimento “Diretas Já”, o primeiro pleito após a ditadura foi feita por um colegiado de parlamentares em eleição indireta. Desde a edição do dia 15 de janeiro, que saiu horas antes do início da assembleia, o Correio cravava a vitória do ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves, candidato pelo PMDB.

A frase “Tancredo dá última aula: Nova República” embala a capa do jornal às vésperas da decisão. A vitória de Tancredo contra o candidato do Partido Democrático Social (PDS), partido remanescente do regime militar, Paulo Maluf já era certa. Na reta final da disputa, a edição relata que eleitores faziam apostas não para saber o vencedor, mas para cravar quantos votos teria Maluf.

O colegiado, formado por 686 políticos, elegeu a chapa formada por Tancredo Neves e José Sarney com 480 votos. Maluf e o vice, Flávio Marcílio, tiveram 180 votos. 17 votantes se abstiveram e nove não compareceram. Entre os representantes do colegiado, apenas 11 eram mulheres.

Tancredo Neves durante votação do Colegio Eleitoral. – Foto: Cece/CB/D.A Press

No entanto, já no discurso de posse, o político mineiro prometeu: “esta foi a última eleição indireta do país”. “Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis para o bem-estar do povo”, declarou.

“Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão”, declamou durante discurso.

Presidente eleito, Tancredo Neves, abracao o candidato derrotado, Paulo Maluf, que selou o fim de meses de disputas e acusacoes, no Colegio Eleitoral. Pasta – NEVES, Tancredo. CB, 15/01/1985. Esp. p. 01; – Foto: Givaldo Barbosa/CB/D.A Press

O adversário Paulo Maluf parabenizou o presidente e afirmou que a democracia saiu vitoriosa. “A classe política reassumiu com firmeza seu papel de direito, este momento histórico de transição”, afirmou.

Clima de festa

Com campeão certo, a expectativa se voltava para o momento em que seria proferido o 344ª voto de Tancredo, número correspondente a 50% mais um, que daria a vitória certa ao futuro presidente.

“O momento maior da festa ocorreu quando o deputado João Cunha (PMDB/SP) proferiu o 344° voto, que garantiu a vitória de Tancredo Neves e José Sarney, às 11h35, antes de Maluf votar. Por todo o plenário, os eleitores dos candidatos da Aliança Democrática batiam palmas, agitavam bandeiras do Brasil e até mesmo um chapéu de palha e subiam nas mesas para comemorar”, detalha a edição de 16 de junho. “Das galerias, caiam papéis, enquanto João Cunha declarava que, há 21 anos atrás, havia pensado que o sonho de uma grande Nação tinha acabado: ‘Com o meu voto – acrescentou o deputado – damos um golpe final contra a ditadura fascista. Voto em Tancredo Neves, na vitória’”.

Missa no Palacio do Planalto pelo presidente Tancredo Neves. Pasta – NEVES, Tancredo. Pulbl. CB, 24/04/1985. Pag. 07; – Foto: Luiz Marques/CB/D.A Press
Presidente Tancredo Neves descartou a criacao do Ministerio da Amazonia. Pasta – NEVES, Tancredo. Publ. CB, 23/02/1985. – Foto: Gilberto Alves/CB/D.A Press

Como em um típico janeiro no DF, os brasilienses tiveram que enfrentar a chuva nas comemorações, que se espalharam pela Esplanada e no Setor Comercial Sul. Outras regiões administrativas também contaram com festas organizadas pelo diretório do PMDB nos municípios. O clima era de Copa do Mundo, com pessoas em volta de televisões, música e bebida. Na Rodoviária do Plano Piloto, entretanto, parecia um dia como qualquer outro. Isso porque o circuito fechado de TV foi desativado no local.

Embora a eleição tenha ocorrido de maneira indireta, o jornal aponta que o candidato eleito conquistou a preferência e o carinho do povo. No Congresso, o momento também foi de celebração e de lembrar personalidades históricas que sofreram com o regime militar. Nomes como o do ex-deputado Rubens Paiva e do jornalista Vladimir Herzog foram citados durante as declarações de votos.

Protestos

As abstenções e faltas no pleito, no entanto, retratam o descontentamento de parte da classe política. Contrário à eleição indireta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na época líder do Partido dos Trabalhadores (PT), chamou o pleito de “farsa do colégio eleitoral”. No dia 15, Lula promoveu uma série de comícios para protestar contra a votação indireta.

Orientados pelo partido, os deputados federais de São Paulo Eduardo Suplicy, Irma Passoni, José Genoino e Djalma Bom e de Minas Gerais Luiz Dulci não compareceram ao plenário.

Três petistas, no entanto, contrariaram o movimento. Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes compareceram ao pleito para votar na chapa de Tancredo Neves. Os três pediram desligamento do partido antes que a expulsão fosse concretizada.

Presidente Tancredo Neves recebe o presidente do PT Luiz Inacio Lula da Silva e Almir Pasianotto, futuro ministro do Trabalho. Pasta – NEVES, Tancredo. Publi. CB, 01/03/1985. – Foto; Gilberto Alves/CB/D.A Press

O Partido Democrático Trabalhista (PDT) compareceu ao pleito, mas com ressalvas. Às vésperas da eleição, integrantes se reuniram para planejar discurso que pretendia desvincular o nome de José Sarney do voto. O texto aprovado pelo grupo ressaltava o voto em Tancredo, reforçando que o mandato deveria durar apenas até a constituinte, mas não citava o nome de Sarney.

“Pois é, quem diria…”

Em clima de mudança, o Correio destacou os principais pontos da campanha e do novo governo que iniciaria o processo de redemocratização. “Pois é, quem diria… o Brasil mudou” estampa a capa da edição especial de 16 de janeiro.

Editorial que inicia o caderno afirma que Tancredo chegou ao poder “na cauda de um cometa repleto de mudancistas” e que era preciso cuidado para que “o fragor mudancista não acabe por nos levar ao mesmo lugar numa espécie de roda gigante dos sonhos inacabados”.

Coletiva do Presidente Tancredo Neves durante coletiva sobre o programa Muda Brasil. Pasta – NEVES, Tancredo. Publ. CB, 16/01/1986. Esp., p. 05;Luiz Marques/CB/D.A Press

O principal foco não poderia ser outro. Após duas décadas de ditadura, o povo e a classe política ansiavam pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, responsável pela elaboração da nova constituição brasileira.

O novo governo tinha duração de dois anos e carregava a função de “ajeitar a casa” para a eleição popular que viria a seguir. Para o Correio, o adiamento dos debates para 1987 evitaria que o governo tivesse que se posicionar rapidamente sobre temas polêmicos, como a reforma agrária.

A Constituinte também seria fundamental para discutir questões eleitorais, como o direito ao voto para cidadãos analfabetos.

A edição destaca que a principal preocupação do governo era a dívida externa, que cresceu 40 vezes durante o regime militar. “O Pais a ser entregue por Figueiredo a Tancredo no dia 15 de março não será apenas de esperança, mas sobretudo de um conjunto concreto de problemas econômico-financeiros de dar inveja a qualquer programa de reconstrução -nacional do tipo pós-guerra”, afirma.

A oposição também deveria ser um ponto de atenção de Tancredo. Segundo a edição, a oposição viria de diferentes lados, com o PT de Lula, o PDT de Leonel Brizola e o que deveria restar do PDS de Maluf.

Embora situasse os leitores dos inúmeros problemas, o tom refletia a euforia nacional com o novo governo. Euforia que durou pouco com a internação do presidente em 14 de março, véspera da posse, que aconteceu em 15 de março. Tancredo morreu cerca de um mês depois, em 21 de abril de 1985.

Com a morte do mandatário eleito, o vice-presidente José Sarney passou ao comando do governo de transição. Mesmo com a perda, a promessa de convocar a constituinte foi cumprida e os debates começaram ainda em 1985, com a Comissão Provisória de Estudos Constitucionais. Em 1987, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à Constituição Cidadã de 1988.

“Homens públicos como Tancredo não se improvisam”, diz Aécio Neves

Veja também

Após dias intensos de trabalho, prefeita de Lauro de Freitas apresenta sinais gripais e segue com o trabalho remoto

Devido aos dias intensos de trabalho, e sem a devida pausa necessária para o descanso …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!