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Arthur Lira (PP) com o pai, Benedito de Lira (PP), que era prefeito de Barra de São Miguel - Foto: Reprodução/Facebook
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quarta-feira 15 de janeiro de 2025 às 07:10h

‘Camarada Biu’: pai de Arthur Lira foi preso na ditadura como ‘cabeça’ da esquerda

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Nos anos 1960, o jovem Benedito de Lira, aluno da escola técnica de Satuba, na Grande Maceió, se destacava como líder do movimento estudantil. A proatividade chamou a atenção dos militares logo após o golpe de 1964, que o prenderam alegando que ele era “cabeça de todos os movimentos esquerdistas”, lembra reportagem de Carlos Madeiro, do portal Uol.

Segundo o jornalista, o relato acima está em um relatório sigiloso de 1984 do SNI (Serviço Nacional de Informação), ligado à Polícia Federal na época da ditadura, que revela que o pai do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) era classificado como um líder da esquerda.

A história de Biu na ditadura era desconhecida e surpreendeu a muitos, já que sua trajetória política sempre variou entre partidos de direita e centro. O documento do SNI foi divulgado pelo ex-vereador Edberto Ticianeli, que havia prometido guardar o segredo para “não atrapalhar a carreira política”.

Biu de Lira durante sua passagem pela Câmara de Maceió, entre 1973 e 1976 – Foto: José Feitosa/acervo Bartolomeu Dresch/Contexto Alagoas

“Quando eu o encontrava, chamava-o de ‘camarada Biu’ e sempre brincava dizendo: ‘Eu sei da sua história’. Ele sempre ria. Eu dizia também que um dia iria revelar, ele até disse que não tinha problema, mas deixei claro que só faria isso quando ele deixasse a política”, conta Ticianeli ao Uol.

Biu, como era conhecido, morreu na última segunda-feira (13) por agravamento de um câncer, em um hospital de Maceió. O corpo dele será sepultado em cerimônia às 10h desta quarta-feira (15) no cemitério Parque das Flores, em Maceió.

‘Cabeça’ da esquerda

O relatório do SNI afirmava que, entre 1960 e 1963, Biu “foi sempre o cabeça de todos os movimentos esquerdistas”. Outro ponto citado no documento é que ele “trabalhou no jornal comunista Voz do Povo”.

Em 1964, ele foi preso pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), mas acabou escapando do indiciamento “graças a interferência do Arcebispo de Maceió, Dom Adelmo Machado”.

Já na faculdade de Direito, a ditadura apontou que ele “desenvolveu intensa campanha esquerdista, juntamente com outros subversivos, anteriormente à Revolução de 1964”.

Fac-símile do documento do SNI descrevendo Biu de LiraImagem: Reprodução/Arquivo Nacional

‘Nunca foi comunista’

Apesar do relato feito pelos militares, Ticianeli afirma que Biu nunca foi um comunista e alega que a prisão pela ditadura veio no bojo de uma perseguição pós-golpe às lideranças estudantis.

“Na verdade ele só fez dormir um dia na prisão, foi solto no outro dia. Na época, prendiam qualquer pessoa que participava do movimento estudantil”, relata.

Havia uma confusão sobre aquela geração dos anos 1960. Havia pessoas progressistas na igreja, que atuavam em causas sociais, mas que não eram da esquerda; mas eles eram tratados como comunistas porque os policiais tinham limitações intelectuais para entender o que estava ocorrendo.

Edberto Ticianeli

Ticianeli conta ainda que Biu ganhou destaque no início dos anos 60, quando foi chamado para atuar como secretário do então diretor e ex-deputado Tarcísio de Jesus na escola Hélio Lemos, uma referência educacional à época em Maceió.

Biu veio do interior e foi um estudante que se destacou: era bom orador, articulado e sabia bem ‘jogar o jogo.’ Tarcísio viu e indicou ele para atuar na Secretaria de Educação. Foi no entorno de Tarcísio, que era um homem conservador, que o político Biu surgiu, e por influência dele, se filiou à Arena [partido de apoio aos militares].

Edberto Ticianeli

Após o fim da Arena, Biu permaneceu na legenda que a sucedeu, o PDS, e passou também por PFL, PTB e PP, onde estava desde 2017.

O primeiro cargo eletivo de Biu, com apoio de Tarcísio, foi o de vereador em Junqueiro, onde exerceu mandato entre 1966 e 1970. E aí Edberto Ticianeli revela uma outra curiosidade. “Ele teve o mandato cassado pelos próprios vereadores, nunca soube o motivo. Então veio para Maceió, e Tarcísio aproveitou e lançou ele candidato a vereador na capital”, explica.

Depois de Junqueiro, ele voltou a Maceió, onde foi eleito vereador em 1972. A partir daí foi subindo de cargo: foi deputado estadual e federal e depois senador, cargo que deixou em 2019, um ano após perder na tentativa de reeleição.

Por último, foi prefeito da Barra de São Miguel (AL), cargo para o qual foi reeleito em outubro de 2024. Mas nem chegou a assumir o cargo ou ir à posse dessa vez por estar debilitado fisicamente.

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