sábado 11 de janeiro de 2025
O ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), à direita, é um dos nomes apontados como possível substituto de Alexandre Padilha (SRI) — Foto: Divulgação
Home / NOTÍCIAS / Centrão cobiça comando da articulação, mas petistas apostam em reforma tímida para manter posto; veja as pastas na mira
sábado 11 de janeiro de 2025 às 10:33h

Centrão cobiça comando da articulação, mas petistas apostam em reforma tímida para manter posto; veja as pastas na mira

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Após o ministro da Casa Civil, Rui Costa, falar em mudanças na Esplanada em até dez dias, integrantes do governo e do Congresso indicam segundo informações de Camila Turtelli, Lauriberto Pompeu e Renata Agostini, do O Globo, a necessidade de haver mais negociações para que a reforma ministerial possa resultar em dividendos políticos ao presidente Lula da Silva (PT). A expectativa de reformulação se dá num ambiente de pressão, com a cobiça do Centrão por mais espaço, em especial, o comando da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Aliados do petista, por sua vez, apostam em trocas comedidas e centralizadas nos postos palacianos no curto prazo, diante da demora do petista em abrir conversas com os partidos da base.

O cargo atualmente é ocupado pelo petista Alexandre Padilha, que lidera as negociações para a liberação de emendas parlamentares, um dos pontos de maior tensão entre o Executivo e o Legislativo desde o início do governo. Entre os interessados nas trocas, nomes como Silvio Costa Filho, atual ministro de Portos e Aeroportos pelo Republicanos, e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), líder do MDB na Câmara, são apontados como possíveis substitutos de Padilha para o comando da SRI.

Aliados de Lula também colocam em dúvida a permanência de Padilha, mas argumentam que, neste caso, há mais dúvidas do que certezas sobre o caminho que Lula pretende seguir. Uma ala do governo entende que o presidente deveria aproveitar o início da segunda metade de sua gestão para tornar o Planalto menos petista e “trazer o centro definitivamente para o coração do governo”, como definiu um ministro.

Influência no orçamento

O objetivo do Centrão é ampliar a influência e se aproximar da gestão das emendas. Há um entendimento que ter um maior comando dessa verba teria mais valia do que a chefia de ministérios com pouco orçamento e com políticas de pouca relevância para a base eleitoral de congressistas.

Essa possibilidade, no entanto, ainda encontra pouca ressonância no núcleo duro do governo. Nos ministérios palacianos, os petistas são maioria. Além de Padilha, há Rui Costa (Casa Civil), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e, agora, Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação Social) — o único não filiado ao PT.

Para o Centrão, o ministro Silvio Costa Filho tem como vantagem para ocupar a SRI ser do mesmo partido do favorito a substituir Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Para os defensores dessa ideia, alçá-lo à pasta abriria um caminho direto entre o Planalto e a Câmara dos Deputados, dando mais governabilidade a Lula, algo que o presidente ainda não conseguiu conquistar em seu terceiro mandato.

Já Isnaldo é um parlamentar com trânsito entre todos os espectros políticos e que teve de mediar conflitos entre Executivo e Legislativo, quando relatou a medida provisória da reestruturação da Esplanada dos Ministérios no início do governo. Levar o emedebista para o primeiro escalão seria colocar mais um deputado entre os ministros, o que resolveria uma reclamação antiga da Câmara de que o Senado foi favorecido nas escolhas de Lula até agora.

Isnaldo é um dos líderes na Câmara mais próximos do governo e também é aliado de Hugo Motta. Em meio à queda de braço pela influência no orçamento, o emedebista é um dos poucos que não tem se insurgido contra o Planalto.

Procurado, o líder do MDB desconversou:

— Esse tipo de mudança tem que partir do governo. Não tenho nenhuma informação se vai mudar, se não vai mudar. Ninguém falou comigo— disse Isnaldo.

A bancada do PSD na Câmara, por sua vez, espera ter sua vez na reforma. Deputados alegam haver um acordo com o governo feito na votação das urgências do pacote econômico no final do ano passado, no qual ficou acertado que a sigla seria contemplada na reforma ministerial. O grupo não se sente contemplado com o deputado André de Paula no Ministério da Pesca, uma pasta com pouca relevância.

Segundo integrantes da bancada, o combinado era que o PSD teria mais influência e poderia indicar um ministério com maior capacidade de apoiar suas bases políticas, como, por exemplo, com obras em redutos eleitorais. Embora o PSD tenha também Minas e Energia e Agricultura, a sigla entende que suas expectativas não foram atendidas.

A reforma de Lula já teve início com a saída, ainda não oficializada, de Paulo Pimenta da Secom e a chegada de Sidônio. Rui Costa disse nesta semana que Lula tem indicado que fará mudanças na equipe de ministros ainda no mês de janeiro. Porém, ainda não há definições sobre quais ministérios devem ser mexidos.

Presidentes de partidos acreditam que as definições devem ocorrer apenas após a eleição do Congresso, no início de fevereiro, e afirmam não terem sido procurados ainda pelo presidente para debater mudanças.

Auxiliares presidenciais dizem também que Lula não tem dado indicação de que promoverá um ajuste significativo na Esplanada por agora. As últimas sinalizações do presidente fizeram seu entorno apostar que a esperada reforma deve ser tímida.

A ideia de uma reestruturação que envolvesse mais espaços para o centrão e pudesse pavimentar um caminho para aliança em 2026 deve ficar para depois. Até agora, as cúpulas de MDB, Republicanos, PSD e União Brasil não foram procuradas para tratar do assunto, segundo interlocutores dos presidentes das siglas.

Ministros do governo ouvidos sob reserva dizem que são grandes as chances de, após a mexida na Secom, haver troca de guarda na Secretaria-geral da Presidência, hoje ocupada por Márcio Macêdo. Interlocutores do ministro afirmam, contudo, que ele não recebeu qualquer indicação neste sentido, está trabalhando normalmente e já foi convocado para a reunião ministerial deste mês.

Nísia sob avaliação

Outras mudanças na Esplanada extrapolam a vontade do presidente, como a intenção de saída do ministro da Defesa, José Múcio, à revelia de Lula. Já outros integrantes da equipe podem ganhar sobrevida, como Nísia Trindade (Saúde).

Nísia, cujo desempenho vem sendo questionado, ainda tem chances de se segurar no cargo. Segundo integrantes do governo, Lula está descontente com a gestão da Saúde, mas deu indicações recentes de que, se Nísia estiver disposta a mexer na sua equipe e reestruturar a área técnica, há caminho para a permanência.

De qualquer forma, Lula sinalizou que, caso decida tirá-la, deve escalar para o posto outro nome técnico, e não um quadro da política.

A mudança com boas chances de ocorrer é onde Lula, na verdade, menos gostaria: o Ministério da Defesa. O atual titular, José Múcio, tem insistido em deixar a pasta. O aviso foi dado a Lula pelo ministro no início de dezembro, quando o petista não quis estender o assunto. Mas o tema foi retomado agora em janeiro e os dois iniciaram a discussão sobre possíveis nomes para a sucessão.

Lula já deixou claro que preferia a permanência de Múcio, mas o ministro por ora tem se mostrado firme na decisão, argumentando que sua família tem cobrado esse desfecho. Ele já avisou, inclusive, aos comandantes das forças sobre a intenção.

Pastas na mira

  • Articulação política: O Centrão cobiça a Secretaria de Relações Institucionais, comandada por Alexandre Padilha. A pasta fica à frente da negociação das emendas parlamentares, principal motivo de atrito entre o Congresso e o governo. Entre os interessados no posto estão Silvio Costa Filho, atual ministro de Portos e Aeroportos indicado pelo Republicanos, e o deputado Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB na Câmara.
  • Movimentos sociais: Ministros do governo dizem que são grandes as chances de Márcio Macêdo deixar a Secretaria-Geral da Presidência, que cuida da articulação do governo com movimentos sociais. Em um dos momentos de maior desgaste, o presidente Lula chamou atenção do ministro publicamente no ato esvaziado de 1º de Maio organizado pelas centrais sindicais, em São Paulo.
  • Defesa: O ministro da Defesa, José Múcio, manifestou ao presidente o desejo de deixar a pasta, mas Lula tenta convencê-lo a ficar. Múcio alega cansaço e cita o desejo da família de tê-lo mais próximo. O ministro também tem desejo de retornar às atividades privadas que exercia antes de ser chamado por Lula. A cúpula das Forças Armadas é contrária a qualquer mudança.
  • Saúde: Lula está descontente com o desempenho da ministra Nísia Trindade, mas ela deve ser poupada. O presidente deu indicações recentes de que, se ela estiver disposta a mexer na sua equipe e reestruturar a área técnica, há caminho para sua permanência no governo. Do contrário, Lula sinalizou que, caso decida tirá-la, deve escalar para o posto outro nome técnico, e não um quadro político.

Veja também

Qual será o reajuste para aposentadorias e o valor do teto do INSS em 2025?

Com a divulgação da inflação oficial de 2024 e do INPC, o reajuste para aposentados …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!