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quarta-feira 8 de janeiro de 2025 às 19:41h

O que muda no Brics com a chegada da Indonésia

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Bloco dos países emergentes conta agora com a maior economia e população do Sudeste Asiático. Para analistas, Jacarta pode funcionar como elemento de equilíbrio geopolítico em meio à polarização global crescente. A Indonésia tornou-se oficialmente membro do Brics na segunda-feira (6). Fundado oficialmente em 2009 pelo Brasil, Rússia, China e Índia, o grupo vem ganhando relevância como um fórum internacional para os países em desenvolvimento. Pouco após sua primeira cúpula, a África do Sul aderiu, e o Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos se filiaram em 2024.

Agora o bloco passa a incluir também o país mais populoso e maior economia do Sudeste Asiático, e procura consolidar sua reputação como alternativa ao G7, formado pelas maiores economias do mundo e liderado pelos Estados Unidos.

“Nós reiteramos repetidamente que o Brics é uma plataforma importante para a Indonésia fortalecer a cooperação Sul-Sul, e assegurar que as vozes e aspirações do Sul Global sejam bem representadas nos processos globais de tomada de decisões”, comentou o porta-voz do Ministério indonésio do Exterior, Rolliansyah Soemirat. Jacarta “comprometeu-se a contribuir com as agendas discutidas pelo Brics, inclusive com os esforços para promover resiliência econômica, cooperação tecnológica e saúde pública”, complementou.

Em 2023, o então presidente indonésio, Joko Widodo, recusara-se a colocar seu país no bloco, alegando precisar de tempo para refletir sobre os prós e contras e não querer “se precipitar”. Seu sucessor, Prabowo Subianto, eleito em 2024, não tem esse tipo de ressalvas.

Contudo a guinada em Jacarta sinaliza mais do que uma simples mudança de governo: diante da percepção de uma ordem global politicamente desgastada e debilitada por turbulências econômicas e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, as nações do Sul Global se mostram cada vez mais dispostas a se aproximar de Pequim e Moscou, mesmo arriscando a ira de Washington. Mais de 30 Estados, inclusive do Sudeste Asiático, como Tailândia, Malásia e Vietnã, agora expressaram interesse ou se candidataram formalmente para filiar-se ao Brics.

Em nome de uma “ordem mundial multipolar”

Essa evolução do bloco no sentido de se tornar uma entidade geopolítica maior foi também impulsionada pela ascensão da China como potência econômica e política global. Pequim costuma invocar uma ordem mundial “multipolar”, uma infraestrutura de segurança e finanças não exclusivamente dominada pelos EUA.

Os membros do Brics também têm discutido a dominância global do dólar americano, e a necessidade de arcabouços financeiros alternativos entre os países.

Diplomaticamente, enquanto símbolo de um panorama multipolar emergente, o Brics é importante tanto para a China como para a Rússia. O fórum promovido em 2024 pelo presidente Vladimir Putin mostrou que Moscou ainda conta com grande número de amigos pelo mundo, apesar das sanções ocidentais.

Comentando a decisão da Indonésia de associar-se ao grupo, o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Guo Jiakun, elogiou-a como “importante país em desenvolvimento e força de peso no Sul Global”.

Cabe notar, entretanto, que o Brics não é um clube abertamente antiocidental: assim como o membro fundador Índia, a Indonésia mantém boas relações com países do Ocidente, sendo improvável que vá tomar partido na batalha geopolítica entre os EUA e seus rivais.

“A Indonésia não pretende se desligar do Ocidente, nem gradual, nem imediatamente”, assegura M. Habib Abiyan Dzakwan, analista de relações internacionais do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) Indonésia. “No DNA da política externa indonésia, todos são amigos, como declarou [o presidente] Prabowo”, e Jacarta “só quer ampliar seu campo de ação”.

A avaliação de Dzakwan é que “se a Indonésia puder manter sua posição não alinhada e influenciar a agenda do Brics, com sua visão inclusiva de não excluir nem negar o Ocidente, acho que a filiação não deve ter muito impacto em nossas relações com o Ocidente”.

Preparando-se para o efeito Trump

Teuku Rezasyah, especialista em relações internacionais e docente da Universidade Padjadjaran, em Java Ocidental, acredita que o país sul-asiático poderá funcionar como um “equilibrador” dentro do Brics, enquanto mantém suas relações com os EUA e a União Europeia: “Como uma potência do meio, ser membro do Brics confere à Indonésia peso na ordem global.”

Entretanto, com a posse de Donald Trump no fim de janeiro, as expectativas são de que os EUA vão se retirar do intercâmbio multilateral: em fins de novembro, o presidente eleito ameaçou excluir seus membros da economia americana, caso seja criada uma “moeda do Brics”.

Alexander Raymond Arifianto, pesquisador associado da Escola S. Rajaratnam de Estudos Internacionais (RSIS), crê que uma abordagem mais pragmática por parte do governo Trump pode fornecer à Indonésia uma oportunidade de formar parcerias mais fortes dentro de organizações regionais.

“Forjar parcerias mutuamente benéficas com outras nações sul-asiáticas não só fortalecerá a posição não alinhada da região, numa ordem geopolítica cada vez mais incerta, mas também confirmará tanto o status da Indonésia como líder da Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático], como suas credenciais multilaterais, num momento em que os EUA estão pendendo para o unilateralismo”, propôs Arifianto num artigo recente.

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