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Pesquisadores argentinos coletam amostras do solo da Antártida 30/01/2022 Florencia Brunetti/Divulgação via REUTERS
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quarta-feira 8 de janeiro de 2025 às 12:13h

Micróbios mortais podem ser liberados com derretimento do gelo, diz Pnuma BR

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Com rápido aquecimento do Ártico, bactérias e vírus congelados há séculos podem ressurgir; região abrange 14 milhões de quilômetros quadrados em oito países; casos recentes de infecção por antraz na Sibéria e perspectivas de aumento de transporte e mineração reforçam alerta sobre contaminação de seres humanos.

No verão excepcionalmente quente de 2016, uma bactéria que causa o antraz matou mais de 2,5 mil renas na remota Península de Yamal, na Sibéria, de acordo com um estudo científico.

Normalmente preso em uma camada de terra permanentemente congelada, chamada de pergelissolo, o patógeno outrora adormecido acabou se espalhando para os humanos. Um menino de 12 anos morreu e dezenas de pessoas adoeceram.

Bactérias e vírus presos no gelo há séculos

Alguns pesquisadores acreditam que este exemplo é um sinal do que está por vir. À medida que a mudança climática aquece rapidamente o Ártico, os cientistas alertam que isso pode liberar uma onda de micróbios potencialmente mortais, que estão há séculos presos no gelo.

A cientista-chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, Andrea Hinwood, afirma que “há razões para se preocupar”, ressaltando que é difícil dizer o quão difundido ou perigoso esse problema pode ser.

O Ártico, que se estende por 14 milhões de quilômetros quadrados em oito países, é coberto por uma camada espessa de pergelissolo, composta por uma mistura congelada de solo, rochas, gelo e material orgânico.

No entanto, a região está aquecendo quatro vezes mais rápido do que o resto do globo, aumentando o risco de que o derretimento do gelo liberte bactérias e vírus antigos.

Quatro sextilhões de micróbios liberados anualmente

De acordo com um estudo publicado na revista “Environmental Sustainability”, estima-se que quatro sextilhões de micróbios, ou seja, quatro seguido por 21 zeros, são liberados anualmente devido ao degelo do pergelissolo.

Alguns pesquisadores estão especialmente preocupados com o degelo de animais do Ártico mortos há muito tempo, cujos corpos podem abrigar micróbios adormecidos. O surto de 2016 na Sibéria foi atribuído a um cemitério de renas, onde havia muitos animais que morreram há mais de 70 anos de antraz.

Hinwood explica que o que está acontecendo no Ártico ocorre em climas mais quentes há séculos, com patógenos pulando entre pessoas e animais, muitas vezes com resultados mortais.

Ela ressaltou que “este não é um fenômeno novo, mas está acontecendo em um novo lugar.”

Perigos do aumento de transporte e mineração no Ártico

À medida que o aquecimento abre o Ártico para o transporte marítimo, a mineração e outras indústrias, Hinwood alerta que isso pode colocar mais pessoas próximas ao pergelissolo descongelado e seus micróbios.

A especialista afirmou que “uma mudança completa” no uso da terra no Ártico está em curso e que isso pode ser “perigoso”.

Mas a propagação de doenças não é o único problema relacionado ao degelo do Ártico. O pergelissolo do mundo contém cerca de 1,5 mil gigatoneladas de carbono, cerca de duas vezes mais que a quantidade atualmente presente atmosfera.

Com o derretimento dessa camada, o carbono é decomposto e liberado na atmosfera como dióxido de carbono ou metano.

Esses gases de efeito estufa aquecem ainda mais o planeta, derretendo mais pergelissolo em um ciclo potencialmente catastrófico.

Mapeamento dos microorganismos

Para evitar mudanças climáticas descontroladas e surtos de doenças, a cientista-chefe do Pnuma diz que o mundo deve controlar os gases de efeito estufa que impulsionam o aquecimento global.

Ela defende ainda que os países continuem monitorando o recuo do pergelissolo e invistam no mapeamento dos tipos de micróbios que residem lá.

Para Hinwood há muita incerteza e o melhor que pode ser feito é usar as ferramentas e a ciência para gerar informações.

A ameaça dos micróbios congelados é uma das muitas citadas no relatório “Navigating New Horizons”, produzido pelo Pnuma em parceria com o Conselho Internacional de Ciência. O documento explora os desafios emergentes para a saúde planetária e o bem-estar humano.

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