“É importante sempre dizer às pessoas como você pegou o governo, lembrar que antes aqui era terra arrasada”, disse Sidônio Palmeira numa reunião de aconselhamento a um ministro, cuja gestão vinha sendo questionada. Era início de 2024, o governo do presidente Lula da Silva (PT) completara um ano e a campanha ficara para trás, mas o marqueteiro baiano era presença constante em Brasília. A pedido do presidente, viajava de tempos em tempos à capital federal segundo Renata Agostini, do O Globo, para que pudessem conversar sobre os rumos do governo e aproveitava para se encontrar com ministros.
A atuação informal ao longo dos dois primeiros anos da gestão petista foi uma escolha do marqueteiro sobre a qual Lula nunca se conformou. Ainda na transição de governo, Sidônio declinou do convite para liderar a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, cargo que agora assumirá em substituição ao ministro Paulo Pimenta.
À época, argumentou que não teria como deixar suas empresas. Engenheiro de formação, Sidônio migrou para a comunicação, mas fez fortuna com uma atuação empresarial diversificada na Bahia. Ao longo das últimas décadas, teve participação em mais de dez empresas, entre elas, companhias de comunicação e publicidade, de criação de avestruzes e peixes, e do ramo imobiliário — num desses negócios foi sócio do ex-prefeito ACM Neto, vice-presidente nacional do União Brasil.
A carreira no marketing político começou ainda na década de 90, quando ajudou a eleger Lídice da Mata, então no PSDB, como prefeita de Salvador. Em 2006, iniciou sua parceria com o PT baiano ao levar Jaques Wagner a uma surpreendente vitória no primeiro turno como governador do Estado. Tornou-se o marqueteiro oficial do partido no Estado, repetindo o feito anos depois ao eleger um até então desconhecido Rui Costa em primeiro turno.
Se Sidônio ajudou a impulsionar o PT na Bahia, o PT também ajudou-o a impulsionar seus negócios. A agência Leiaute, sua principal empresa de comunicação, assumiu contratos milionários com o governo baiano ao longo dos anos.
A atuação no marketing político baiano resultou também em complicações no campo judicial. Em 2017, a Leiaute foi alvo de busca numa operação da Polícia Federal. Em 2022, foi alvo de uma ação civil pública de improbidade movida pelo Ministério Público da Bahia. Os dois casos em nada resultaram.
De perfil progressista e com passado de militância em partidos de esquerda, Sidônio manteve ao longo dos anos sintonia com as pautas do PT. Em 2018, numa reunião intermediada por Jaques Wagner (PT) e com a presença de integrantes da cúpula da legenda, apresentou a Lula a ideia da campanha “Cadê a prova?”, uma série de vídeos contra a Lava-Jato.
Naquele mesmo ano, sua agência foi escalada para a campanha de Fernando Haddad à presidência. Sidônio ajudou a elaborar o slogan “O Brasil feliz de novo”, que foi o mote petista naquela corrida, mas teve atuação discreta e apenas no segundo turno. Foi em 2022, contudo, que se aproximou de Lula e ganhou a confiança do petista.
Vídeo na campanha
Após uma crise na pré-campanha e a decisão de afastar o então marqueteiro Augusto Fonseca, foi o próprio Lula quem pediu para que os petistas da Bahia fossem consultados. O nome de Sidônio logo surgiu. À frente da missão, ele trouxe a ideia de que era preciso marcar já na largada as diferenças em relação a Jair Bolsonaro (PL). Ou seja, o segundo turno tinha de ser antecipado. Exibido junto ao lançamento da pré-campanha, o vídeo “Dois lados” mostrava um prato vazio em contraste com outro com arroz, feijão e carne.
A peça fez sucesso entre petistas, mas foi o método de trabalho de Sidônio que o fez ganhar espaço entre o núcleo duro do partido. Diferentemente dos marqueteiros baianos que o antecederam, caso de Duda Mendonça e João Santana, ele costumava repetir que o marketing não podia estar acima da política, mas deveria se incumbir de traduzi-la. Era um jeito bonito de dizer que as decisões seriam construídas ouvindo os integrantes do partido e não tomadas de forma isolada por um marqueteiro e seu time em seu escritório.
Em agosto do ano passado, o lançamento de seu livro sobre a campanha de 2022 reuniu o próprio Lula, além do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e diversos ministros.
A chegada de Sidônio passou a ser dada como certa no final do ano passado após críticas feitas por Lula à comunicação do governo em público. A queixas, porém, vinham de longe. Uma delas era justamente sobre a gestão de Pimenta não ter feito licitações na área — uma delas, para o marketing digital, foi barrada por suspeitas de irregularidades.
Segundo um aliado, Lula “cansou de pedir” uma forma contratual para que Sidônio pudesse atuar para o governo, o que nunca ocorreu.
O futuro ministro chega com carta branca e com a missão espinhosa de turbinar a comunicação digital e, assim, impulsionar a aprovação do governo e de Lula.