A presidente eleita do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, afirmou que é injusto chamar as Forças Armadas de golpistas. Em entrevista à Coluna do Estadão, a primeira mulher a comandar a Justiça Militar disse que os militares “batem continência à Constituição”.
Questionada se a prisão do general Walter Braga Netto e o indiciamento de militares no inquérito de supostas ações golpistas abalam a hierarquia e a disciplina nas Forças Armadas, a ministra afirmou:
“Acabam por abalar, mas eu acho que é injusto, na medida em que temos que separar as instituições das pessoas. Em todas as instituições existem pessoas que não honram o trabalho que exercem. Jogar uma pecha de golpista nas Forças Armadas é uma injustiça. Os militares continuam batendo continência à Constituição e respeitando o presidente da República”.
Para Maria Elizabeth Rocha, militares precisam ter “muito mais responsabilidade” do que cidadãos civis. “Ninguém obrigou ninguém a ser militar, é a profissão que escolheram. Os militares têm que ter muito mais responsabilidade do que os civis, são investidos das armas da nação”.
Nos últimos dias, o STM reduziu as penas de oito militares do Exército réus que fuzilaram, com 257 tiros, o músico Evaldo Rosa e o catador de latinhas Luciano Macedo. A execução aconteceu em 2019, no Rio de Janeiro. A ministra ficou vencida e, em seu voto, citou o termo “racismo” 46 vezes. Agora, espera que o caso vá para o Supremo Tribunal Federal (STF).
“O STF deveria julgar o caso, até para estabelecer um modelo de atuação das Forças Armadas. Há questões constitucionais envolvidas. Existe ali o perfilamento racial e a violência institucional”.
Primeira mulher a ocupar um gabinete no STM e, em breve, a presidência do tribunal, Rocha pretende nomear mulheres para a maioria dos cargos de direção do tribunal. Uma delas será a secretária-geral do STM.
“A gente escuta no tribunal: ‘Será que uma mulher vai dar conta?’. É… Pensa que é fácil ser mulher?”.