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segunda-feira 23 de dezembro de 2024 às 08:10h

Integrantes do governo admitem erros na apresentação do pacote de gastos e defendem freio de arrumação

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Quase um mês após a divulgação do pacote de controle de gastos e do projeto de mudanças no Imposto de Renda (IR), auxiliares do presidente Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto e na equipe econômica, concordam que o governo cometeu erros na apresentação das medidas e que é preciso um freio de arrumação nesse tema.

Em café com jornalistas na sexta-feira (20), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que erros na comunicação do pacote contribuíram para a alta do dólar e a reação negativa do mercado.

No dia 27 de novembro, Haddad anunciou o pacote de cortes, em pronunciamento na TV e no rádio, junto com a proposta de isentar a partir de 2026 do pagamento de IR quem ganha até R$ 5 mil mensais. O pacote foi aprovado pelo Congresso, mas o projeto do IR não foi enviado até o momento.

Numa tentativa de corrigir os equívocos, Lula colocou em prática uma mudança no discurso em relação ao Banco Central. O petista também garantiu a aliados que não quer brigar com o mercado.

Nos próximos quatro anos, sendo os dois finais do terceiro mandato de Lula, o BC será comandado por Gabriel Galípolo, que tem uma relação muito próxima com o presidente e com Haddad.

Na sexta-feira, Lula gravou um vídeo, ao lado de Haddad e Galípolo e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para defender a autonomia do novo presidente do BC e prometer responsabilidade com as contas públicas.

O publicitário Sidônio Palmeira, cotado para ser ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), foi o responsável pela produção do vídeo.

Tanto Galípolo quanto Sidônio afirmaram a aliados que a iniciativa de gravar a mensagem partiu do presidente. Lula, no entanto, disse em discurso a ministros, também na sexta-feira, que Galípolo o convenceu de que era preciso pacificar a relação com o mercado.

Aliados do presidente já defendiam que ele transmitisse uma mensagem para tentar reverter a crise com o mercado e, consequentemente, amenizar a alta do dólar.

Em 6 de novembro, a moeda norte-americana era cotada a R$ 5,67. Com a demora no anúncio do pacote, a cotação fechou em R$ 5,91 no dia 27, data do anúncio das medidas. Na última semana, o dólar bateu em R$ 6,30 e encerrou a sexta em R$ 6,07 após uma série de leilões do BC.

Erros na comunicação

Enquanto o pacote fiscal estava em discussão, houve uma divisão no governo: integrantes da equipe econômica, incluindo Haddad e Tebet, defendiam a tese de que a divulgação do pacote deveria tratar unicamente de medidas de contenção de gastos, sem misturar o tema com a reforma da renda.

Outro grupo, que incluía auxiliares de Lula no Palácio do Planalto e ministros da área social, desejava o anúncio casado para evitar a ideia de que um governo do PT estaria operando um corte de gastos apenas com medidas que afetavam a população de baixa renda. Essa tese prevaleceu.

Sidônio, que foi o marqueteiro da campanha de Lula, teve peso importante na discussão. Ele foi um dos principais defensores do anúncio conjunto. O publicitário, inclusive, participou da produção do pronunciamento de Haddad e esteve naquela mesma noite num encontro do ministro com parlamentares do PT.

O dia seguinte ao pronunciamento foi marcado por reações opostas. O mercado respondeu negativamente, assim como o centrão no Congresso. A militância petista celebrou as medidas. Nas redes sociais, as manifestações positivas superaram as negativas, segundo integrantes do Planalto que monitoram as reações nas plataformas.

A repercussão positiva nas redes, no entanto, durou 24 horas. No dia seguinte, a alta do dólar e as críticas ao pacote contaminaram a opinião pública e derreteram a reação positiva às medidas anunciadas.

O governo planejava uma campanha ostensiva nos dias subsequentes ao anúncio do pacote, como parte da estratégia política de convencer a sociedade da importância das medidas e, assim, vencer a queda de braço com o mercado. O governo faria uma disputa política em torno do tema.

A Secom havia preparado uma série de materiais de redes sociais para destacar o impacto da isenção do IR na vida das pessoas. A Fazenda barrou as peças por entender que a divulgação agravaria a reação negativa.

O Planalto também lançaria uma campanha publicitária para os dias subsequentes ao pronunciamento sobre o pacote. Órgãos de controle do governo alertaram que seria um contrassenso gastar dinheiro com publicidade para divulgar medidas de contenção. A campanha foi engavetada.

Auxiliares de Lula avaliam que o saldo foi ruim, com o governo duplamente derrotado: em função da reação negativa do mercado, muito acima da esperada pelo governo; e por deixar de colher os louros da isenção do IR.

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