Após o desaparecimento do mergulhador Williams da Silva Teixeira, de 54 anos, na última segunda-feira (16), os riscos associados aos mergulhos no oceano ganharam destaque e aumentaram a preocupação entre os soteropolitanos. O profissional realizou um mergulho de 40 metros de profundidade sem os equipamentos adequados, conforme Vitor Rocha, do jornal Correio da Bahia. Devido à pressão atmosférica no oceano, os danos podem ser graves, podendo, inclusive, resultar em morte.
De acordo com o médico hiperbarista Dr. Claudio Bacelar, a cada 10 metros de profundidade no mar, o corpo humano é submetido a um aumento de uma atmosfera na pressão. Dessa forma, é provável que ele tenha vindo a óbito.
“Cada vez que você desce, a capacidade pulmonar diminui pela pressão e existe um efeito de narcose no cérebro, fazendo com que a pessoa tenha convulsão e desmaios. Além disso, em águas profundas, a pessoa perde calor, podendo ter uma hipotermia muito grave, e algumas membranas, como a do tímpano no ouvido, podem se romper. Outro ponto é que a subida para a superfície não pode ser feita rapidamente por causa do gás nitrogênio, que se expande de forma abrupta, podendo causar embolias — bolhas de ar nos vasos sanguíneos”, explicou o médico.
O médico acrescenta que a permanência prolongada em grandes profundidades pode levar ao acúmulo de nitrogênio no organismo, o que, combinado com a falta de oxigênio, pode ser fatal. “O nitrogênio se acumula no organismo porque não o utilizamos para nada. Já o oxigênio é consumido para alimentar as células, então ele não se acumula”, destacou.
Entenda o caso
Com 40 anos de profissão, de acordo com os familiares, Williams desapareceu enquanto realizava sondagem e inspeção de âncora de duas balsas na Baía de Todos-os-Santos junto com outros três mergulhadores. Ele mergulhou para substituir uma das boias de sinalização da ancoragem da balsa. Depois foi verificado que o cilindro de oxigênio que ele utilizava subiu até a superfície. Os companheiros então, assustados, mergulharam na procura da vítima, mas só chegaram a 15 metros de profundidade e voltaram por conta da maré. A correnteza estaria muito forte.
Segundo uma fonte ouvida pela reportagem do jornal Correio, cuja identidade foi preservada, o dono da empresa terceirizada da concessionária Ponte Salvador-Itaparica teria pressionado os mergulhadores a fazerem o serviço, mesmo os profissionais sinalizando que as correntes marinhas estavam muito fortes.
“Na hora que os três voltaram, o dono começou a falar que ele mesmo ia ter que descer. Os mergulhadores falaram que só iriam voltar às 16h, mas ele [Williams] queria mostrar serviço para conseguir outras oportunidades e disse que ia tentar, mas infelizmente não voltou mais. Ele fez porque houve pressão para realizarem o serviço”, completou.
Ainda de acordo coma reportagem, o mergulhador tinha um motivo especial para o serviço: pagar o curso de enfermagem da filha. “Ele foi domingo lá em casa e pediu para eu cortar o cabelo dele, porque tinha um trabalho que ia dar um bom dinheiro. Falou ainda que o valor ia ser para pagar meu curso de enfermagem. Estava todo alegre falando disso, mas não disse nada sobre mergulhar”, relatou Laís Teixeira, 31 anos, a filha cujo curso Williams queria pagar.
Ex-companheira, mãe de Laís e dos outros dois filhos do profissional, Luzimara Teixeira, 51 anos, disse que o mergulhador não comunicou a família para que ninguém tentasse fazer com que ele não fosse. “Ele tem 40 anos de profissão, muito tempo de mergulho, mas já tem 54 e a gente se preocupava. Para esse trabalho, ele nem avisou a gente. Só disse para ela que ia ganhar muito dinheiro para pagar o curso de enfermagem e mais nada”, contou.