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terça-feira 17 de dezembro de 2024 às 11:53h

Como mulheres ultra-ricas estão redefinindo a forma de gerir grandes fortunas

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Mulheres nunca foram tão ricas.

Na lista anual da Forbes, elas representam cerca dos 2.781 bilionários mapeados ao redor do mundo — alta frente aos 12,8% do ano passado. Segundo um levantamento feito pelo time de global de wealth do Citi, o volume de riqueza concentrado na mão de mulheres nunca foi tão alto.

De acordo com o levantamento, elas estão sendo responsáveis por uma verdadeira transformação na forma como a riqueza é criada, herdada e administrada e devem ter papel importante no chamado “great wealth transfer” — o momento em que todo o patrimônio acumulado pela geração baby boomer começará a passar para as novas gerações.

A expectativa é que, nos próximos 10 anos, US$ 100 trilhões (R$ 607 trilhões) em ativos trocarão de mãos — e uma porção significativa dessa bolada deve ir para a mão de mulheres.

Para Ida Liu, chefe global do Private Bank do Citi, a fatia controlada por mulheres atualmente pode chegar a um terço da riqueza mundial. “Acreditamos que esse número continuará crescendo. Até o final desta década, mais da metade desse dinheiro pode estar nas mãos de mulheres”, afirma.

Com essa transferência de riqueza já em curso, a questão de gênero ganha força dentro do mundo financeiro. Afinal, homens ainda controlam a maior parte dos recursos e são considerados os grande detentores de fortuna — o que leva a uma escassez de políticas de administração para mulheres ultra-ricas e uma falta de produtos financeiros voltados para o sexo feminino.

Cenário: o que mudou?

De acordo com um estudo de 2021 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) , a participação das mulheres na força de trabalho é apenas 63% da dos homens. No entanto, elas costumam estar mais envolvidas com atividades empreendedoras. O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) aponta que 80% das atividades empreendedoras são feitas por mulheres — um aumento com relação ao número de 2001.

Liu lançou o grupo de clientes asiáticos do Citi Private Bank em 2011. Atualmente, ela supervisiona 52 escritórios em 20 países, atendendo clientes com alto poder aquisitivo.

Esses dados ajudam a explicar a melhora na distribuição de renda entre os gêneros, mas, assim como ocorre entre os homens, boa parte das mulheres ultra-ricas acabam herdando as suas fortunas. Carolina Giovanella, CEO e fundadora da Portofino Multi Family Office, aponta que, assim como acontece com os homens, boa parte das mulheres ultra-ricas herdaram suas fortunas.

A pesquisa da Altrata (Billionaire Census) mostra que 75% das bilionárias herdaram ao menos parte de sua fortuna, comparado a apenas 33% dos homens.

Comportamento diferente

A Billionaire Census mostra que mulheres possuem uma maior proporção de ativos líquidos e investimentos privados em comparação com os homens, refletindo os seus patrimônios herdados e negócios familiares.

Para Ida Liu, do Citi, mulheres com alto patrimônio estão adotando uma abordagem mais ativa e socialmente consciente na gestão de seus ativos, transformando os modelos tradicionais de gestão de riqueza. “Elas tendem a investir com foco em priorizar a estabilidade de longo prazo, buscar independência financeira e concentrar-se na construção de legados, algo que não era visto há alguns anos atrás”, explica.

Segundo a executiva, uma das principais mudanças comportamentais observadas entre homens e mulheres está na forma de tomar decisões financeiras, já que pessoas do sexo feminino tendem a adotar uma postura mais colaborativa na gestão de patrimônio. Isso faz com que elas consigam relacionamentos mais sólidos com os seus gestores e consultores — ou seja, um vínculo de longo prazo que tende a beneficiar os frutos dos investimentos.

Liu também aponta que as mulheres estão mais focadas em integrar seus valores pessoais às suas estratégias financeiras. Ou seja: o propósito fala mais alto do que a mera acumulação de riquezas, o que pode levar a melhores decisões de investimento. Atualmente, os maiores interesses são em pautas sustentáveis e no planejamento financeiro para a próxima geração de herdeiros.

“Elas tendem a se concentrar mais em integrar seus valores pessoais em suas estratégias financeiras. Isso pode se manifestar em uma preferência por investimentos de impacto ou filantropia”, afirma a executiva.

Papéis de gênero versus lucro

Super ricas ou não, mulheres são impactadas por expectativas culturais diferentes dos homens, com as tarefas de cuidado e família sendo destinada à elas — os papéis de gênero costumam impactar o sucesso profissional de muitas, mas e no caso de gestão de fortunas?

Segundo as especialistas, casamento tem impacto no comportamento financeiro das mulheres, influenciando desde a tomada de decisões em conjunto e a tolerância ao risco até aos objetivos financeiros familiares e a autonomia pessoal.

Essas dinâmicas do relacionamento, incluindo a distribuição de renda, os papéis financeiros e os objetivos pessoais, podem impactar a maneira como as mulheres gerenciam o dinheiro.

Um relatório da McKinsey de 2020 revelou que, entre as mulheres casadas, 30% a mais estavam tomando decisões financeiras e de investimentos em comparação com cinco anos antes. “Esse número cresce a cada ano, e um dos motivos é que as mulheres são menos emocionais como investidoras, aderindo a uma estratégia de planejamento financeiro de longo prazo. Por isso, vemos seus portfólios frequentemente superando os dos homens”, explica Emma Wheeler, chefe de Women’s Wealth do UBS Global Wealth Management.

Liu, do Citi, também aponta o impacto das expectativas de gênero na vida de mulheres investidoras. Segundo ela, por exemplo, a maternidade leva as mulheres a adotar uma abordagem mais cautelosa e orientada por valores de longo prazo na gestão de patrimônio.

“Elas priorizam a estabilidade, o planejamento de legado e o impacto social, enquanto equilibram as necessidades da família com seus objetivos financeiros, podendo ser um ponto positivo para as finanças”, diz Liu.

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