quarta-feira 8 de janeiro de 2025
Roberto Marinho (ao centro) e a equipe da Rádio Globo em junho de 1956, na inauguração dos estúdios da emissora na sede do GLOBO, então na Rua Irineu Marinho — Foto: Arquivo O Globo
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segunda-feira 2 de dezembro de 2024 às 16:51h

Rádio Globo celebra a trajetória de 80 anos

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‘Não é propriamente uma estação de rádio que hoje inauguramos. É uma nova modalidade dos serviços do O Globo à nação, que agora se ampliam”, resumiu o jornalista Roberto Marinho na noite do dia 1 de dezembro de 1944, durante a solenidade que celebrava, no Teatro Municipal do Rio, com um grande concerto da pianista Magdalena Tagliaferro junto à Orquestra Sinfônica Brasileira, a estreia da Rádio Globo.

A frase inicial do discurso já reforçava a aposta em um jornalismo comprometido com a sociedade, da oferta de notícias e serviços de utilidade pública à difusão da cultura e do entretenimento, feita pelo pai de Roberto Marinho, o também jornalista Irineu Marinho, ao fundar O GLOBO em 1925. Inaugurada oficialmente na manhã seguinte, dia 2 de dezembro, a Rádio Globo completa hoje 80 anos festejando a longa história de estreita proximidade com os ouvintes e sempre antenada com o futuro, distribuindo seu conteúdo no dial, no celular, no computador e nas redes em diversos formatos.

Sinergia vitoriosa

A semente do Sistema Globo de Rádio (SGR), formado ainda pela CBN (exclusivamente voltada para notícias) e pela BH FM, e semente também da própria TV Globo (a concessão do canal, inaugurado em 1965, foi obtida pela rádio definitivamente em 1957) é o primeiro negócio criado por Roberto Marinho, que assumira a direção do GLOBO em 1931, com a morte de Eurycles de Mattos — Irineu morreu poucas semanas depois de fundar do jornal, quando o filho estava com apenas 20 anos, e Eurycles se tornou o diretor. Como explicitou naquele discurso inaugural da rádio, Roberto Marinho a via como uma extensão, uma ampliação do alcance do impresso e sempre estimulou a parceria entre os dois veículos. Ele criou, por exemplo, programas diários como “O GLOBO no ar”, já em 1944, e “Seu Redator-chefe”, nos anos 60, ambos apresentando conteúdo do jornal, que chega aos 100 anos em 2025.

— A Rádio Globo nasce com a combinação de notícia, serviço, difusão de música, de grandes concertos muito alinhada com O GLOBO, mas com objetivo de agilizar, de encurtar o tempo da chegada da notícia ao público — diz Frederic Kachar, diretor-geral da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio. — Houve uma sinergia enorme na largada, que se manteve por décadas.

Anúncio do concerto de estreia da rádio, em dezembro de 1944 — Foto: Arquivo/O Globo
Anúncio do concerto de estreia da rádio, em dezembro de 1944 — Foto: Arquivo/O Globo

A sinergia podia ser vista em momentos memoráveis como a cobertura da Segunda Guerra feita pelo correspondente do Globo, Egydio Squeff, que publicava seus textos no jornal e narrava na rádio os acontecimentos diários do conflito diretamente da Itália, onde estavam os soldados brasileiros. Aliás, em 3 de dezembro, dia seguinte à sua inauguração, a emissora transmitiu para os pracinhas na Europa a primeira partida de futebol entre paulistas e cariocas pela decisão do Brasileiro de Seleções.

E falar em futebol é falar também de um dos pilares fundamentais da rádio, lembrada pelos brilhantes comentaristas e locutores esportivos que formaram seu time em distintas épocas, como Luiz Mendes (que começou a trabalhar já na inauguração da emissora), Mário Vianna, João Saldanha, Waldir Amaral, Jorge Curi, Washington Rodrigues e José Carlos Araújo, entre tantos outros. Muitos bordões criados por eles (como “o relógio marca…”, de Amaral) deram novo fôlego ao ofício e saíram do campo para o cotidiano.

José Carlos Araújo e Washington Rodrigues, comentaristas esportivos da Rádio Globo — Foto: Arquivo/O Globo
José Carlos Araújo e Washington Rodrigues, comentaristas esportivos da Rádio Globo — Foto: Arquivo/O Globo

— Cresci ouvindo a Rádio Globo, tenho uma memória afetiva fortíssima de acompanhar jogos no Maracanã com ela, com muita informação — conta Kachar, lembrando os tempos ainda da AM. — E depois tinha a 98 FM, a grande rádio jovem, que eu ouvia todos os dias para gravar os hits que, naquela época, a gente ainda não encontrava em lugar nenhum.

Desde o concerto inaugural com a celebrada pianista Magdalena Tagliaferro a música é outra pedra fundamental da história da Rádio Globo, que já nasceu com uma orquestra sinfônica própria (a cargo do maestro Francisco Mignone) e promoveu enormemente o gênero clássico, refletindo o apreço de Roberto Marinho por ele. A música popular brasileira, contudo, também mereceu igual destaque na emissora, que recebeu em seu estúdio todas as rainhas da era de ouro do rádio, nos anos 40 e 50, entre elas Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Marlene. Nas décadas seguintes, a presença de outros grandes artistas e programas de sucesso como o de Haroldo de Andrade e a Discoteca do Chacrinha mantiveram a relevância na área.

A cantora Dalva de Oliveira durante apresentação na rádio em 1957 — Foto: Arquivo/O Globo
A cantora Dalva de Oliveira durante apresentação na rádio em 1957 — Foto: Arquivo/O Globo

Grande companheiro

A programação atual da Rádio Globo, que alcança mensalmente quase dois milhões de ouvintes, foi mudando ao longo do tempo e ainda conjuga entretenimento com notícias do cotidiano e futebol, mas a música tem o maior destaque, assim como na BH FM, fundada em 1977 em Belo Horizonte.

Diretora de Negócios Musicais, responsável pelas rádios Globo e BH FM, Luciana Lara Domingos lembra que o rádio ainda se mantém um grande companheiro da população, numa relação alimentada pela “proximidade dos comunicadores e repórteres com os ouvintes, além da interatividade nas redes sociais”.

— Estamos há 80 anos ouvindo o público, entendendo o que ele quer e entregando conteúdo relevante. Nosso diferencial é essa mistura de credibilidade, que vem do jornalismo, com música e entretenimento leve e próximo do dia a dia das pessoas — diz ela. — Estamos nas casas, nos carros, computadores e nos dispositivos móveis das pessoas todos os dias levando informação com descontração, música de qualidade e promoções.

O futuro da Rádio Globo, diz Luciana, é “estar onde o ouvinte estiver”:

— Queremos ser cada vez mais digitais, sem perder o contato humano que sempre foi nossa marca.

A emissora mantém, no Rio, uma das suas “missões de origem”, como observa Kachar, que é a de ser popular e difundir a cultura, a música. Com a forma de operar mais sementada, a outra missão de origem da Rádio Globo, que é a da notícia, da análise, ficou concentrada na CBN — ambas partilham o mesmo estúdio na sede da Editora Globo, no Rio, e programas como o Futebol Globo CBN.

Com 40 emissoras (quatro delas próprias) que chegam a mais de 1.100 cidades brasileiras e 6,5 milhões de ouvintes todos os meses, a CBN — fundada em 1991 por José Roberto Marinho, filho caçula de Roberto Marinho — também tem como propósito “estar sempre próxima dos ouvintes, fazendo jornalismo em busca de um país melhor”, como afirma Pedro Dias Leite, diretor de jornalismo da rádio, a maior do país no segmento exclusivo de notícias.

— O rádio permanece muito forte no dia a dia dos brasileiros. Antes, era no radinho de pilha ou no carro. Agora, também nos podcasts, assistentes de voz e celulares. É uma relação firme e próxima, que vai seguir pelos próximos 80 anos, sempre acompanhando a tecnologia — afirma ele.

Cartola, ao violão, se apresentando na rádio em 1970 — Foto: Arquivo/O Globo
Cartola, ao violão, se apresentando na rádio em 1970 — Foto: Arquivo/O Globo

É no que também acredita Frederic Kachar, que aponta o crescimento do hábito de ouvir áudios hoje (em rádios, podcasts, plataformas de música) em relação ao que era há 20 ou 30 anos, e enxerga um horizonte muito promissor para o meio.

— A relação estreita das pessoas com o rádio tem muito valor, mas precisamos separar nossa essência das plataformas. Os jornais, por exemplo, não são empresas apenas do papel, distribuímos conteúdo em áudio, audiovisual, outros formatos, e na rádio é a mesma coisa — observa. — O formato que nos trouxe até aqui não vai nos levar adiante por mais 80 anos, mas nossa essência sim. Vamos manter na Rádio Globo nossa capacidade de fazer curadoria das músicas, de ser companheiro das pessoas, e incorporar outras competências que nos permitam exercê-las em várias plataformas.

Celebração da história

A longeva história da Rádio Globo está sendo comemorada de muitas formas. No site da emissora, estão reunidos áudios históricos, vinhetas especiais, entrevistas e depoimentos. Hoje, às 12h, o programa especial “Rádio Globo 80 anos” trará mais relatos de ouvintes e profissionais que já passaram pela casa. Sem perder a tradição dos shows de aniversário, dois eventos (no dia 4 e no dia 5) estão programados para comemorar a data (mais informações no site da emissora).

A rádio também é destaque no site que guarda a memória do Grupo Globo. O especial apresenta a trajetória da emissora com histórias saborosas de áreas como jornalismo, esportes, dramaturgia e música.

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