Bilionário ganhou cargo do republicano após apoio na campanha. Em entrevista à revista “Der Spiegel”, ex-chanceler da Alemanha defendeu equilíbrio entre os interesses “dos poderosos e dos cidadãos comuns”. A ex-chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, se disse preocupada com a influência do bilionário Elon Musk sobre a política dos Estados Unidos no governo de Donald Trump.
“Quando uma pessoa como ele [Musk] é dono de 60% de todos os satélites que orbitam no espaço, então isso deve nos preocupar enormemente, além das questões políticas”, declarou em entrevista ao semanário alemão Der Spiegel publicada nesta sexta-feira (22).
A referência a Musk foi feita quando Merkel foi indagada pela revista se a volta de Trump à Casa Branca representava um desafio maior do que o primeiro mandato do republicano, iniciado em 2016.
A alemã reagiu citando uma “aliança visível” entre o novo presidente da maior economia do mundo e grandes empresas do Vale do Silício, “que têm enorme poder financeiro”.
Musk foi nomeado junto com o empresário Vivek Ramaswamy para a chefia do novo Departamento de Eficiência Governamental. Caberá à dupla, segundo Trump, desmantelar a burocracia, reduzir regulamentações, cortar gastos e reestruturar agências federais.
Musk, que é dono do X, da SpaceX e da Tesla, doou milhões de dólares para a campanha de Trump e apoiou ativamente o candidato republicano nas últimas eleições.
Merkel, que está afastada da política desde o final de 2021, afirmou que os 16 anos que passou como líder da Alemanha a ensinaram que é preciso ter um equilíbrio entre os interesses “dos poderosos e dos cidadãos comuns”.
Segundo a alemã, a crise financeira de 2007/2008 evidenciou a importância da política como “última instância capaz de endireitar as coisas”. “E quando essa última instância é muito influenciada por empresas, pelo capital financeiro ou por tecnologias, isso é um desafio desconhecido para todos nós.”
Merkel, porém, frisou que “em uma democracia, a política nunca é impotente contra as empresas”.
Merkel lança livro de memórias
Merkel está lançando um livro de memórias, em que recapitula sua trajetória desde a juventude na antiga Alemanha Oriental até os anos na política à frente da Alemanha reunificada.
A obra chega nesta terça-feira (26) às livrarias, e é aguardada com expectativa e curiosidade, dada a personalidade reservada da alemã, que raras vezes se pronunciou desde que deixou o governo.
Na mesma entrevista ao Der Spiegel, Merkel também alfinetou o partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), segundo mais bem cotado nas pesquisas, acusando-o de usar as redes sociais para inflamar os ânimos do eleitorado. Na opinião dela, o papel da política deveria ser justamente o oposto, mais conciliador.
A Alemanha, que atravessa no momento uma crise política e viu ruir a coalizão de governo entre social-democratas, verdes e liberais, terá eleições antecipadas ao Parlamento em 23 de fevereiro de 2025.
O partido de Merkel, o conservador CDU, deve voltar ao comando do país.