A plenária do G20 aprovou a declaração final da Cúpula de Líderes, mas com ressalvas da Argentina. O documento foi aprovado por consenso, em vitória da diplomacia brasileira. Os líderes reafirmaram compromisso de construir um mundo justo e um planeta sustentável, sem deixar ninguém para trás. As informações são de Andrea Jubé, Lucianne Carneiro, Jéssica Sant’Ana e Camila Zarur, do jornal Valor.
Os últimos dias foram de negociações tensas entre os sherpas (negociadores) dos países do G20 e havia temores até mesmo que não fosse possível chegar a um documento final. As maiores economias do mundo se reuniram nesta segunda para as sessões em que discutiram os seguintes temas: combate à Fome e à pobreza e reforma das instituições de governança global.
Neste comunicado final, há uma ressalva da Argentina, que tem se colocado contra alguns dos temas discutidos, como a questão de igualdade de gênero. No lançamento oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o país ficou de fora, mas depois voltou atrás e se uniu à iniciativa.
De acordo com resumo do comunicado divulgado pela presidência brasileira, os líderes se comprometem a priorizar o combate às desigualdades em todas as suas dimensões.
A Declaração de Líderes do Rio de Janeiro estabelece “ações em direção a resultados concretos, com base nas prioridades da presidência brasileira do G20: inclusão social e combate à fome e à pobreza; desenvolvimento sustentável, transições energéticas e ação climática; e a reforma das instituições de governança global”.
O documento também “consagra as conquistas alcançadas pela presidência brasileira ao longo do ano, como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, a Força-Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima e o Chamado à Ação para Reforma da Governança Global”. O comunicado tem, ao todo, 85 parágrafos.
Combate à desigualdade
O comunicado afirma ainda que a desigualdade dentro e entre os países está na raiz da maioria dos desafios globais atuais e reconhece que as crises afetam as nações em diferentes intensidades, com peso maior para os mais pobres.
“Nós reconhecemos que a desigualdade dentro dos países e entre eles está na raiz da maioria dos desafios globais que enfrentamos hoje e é agravada por eles”, diz o texto, na parte sobre “Situação econômica e política internacional”.
Os líderes do G20 apontam ainda que “as crises que enfrentamos hoje não afetam o mundo da mesma forma, pesando desproporcionalmente mais os mais pobres e aqueles em situação já vulnerável”.
Ressalvas da Argentina
Durante a discussão da declaração, Milei afirmou que o seu país não seria um obstáculo para a aprovação do comunicado, mas ponderou que faria ressalvas em sua manifestação sobre as guerras em curso no Oriente Médio e na Ucrânia, e outros temas, como liberdade de expressão e taxação dos “super-ricos”.
Em seu pronunciamento, Milei disse que a Argentina não vai se dissociar do G20, e, ao contrário, quer fortalecê-lo. Mas ponderou que seu país considera que o mundo está atravessando um “momento de perigo” em termos de segurança, e citou, como exemplos, as guerras em curso na Ucrânia e os ataques a Israel. Ele criticou a ausência de discussões sobre “ações ilegais dos que atacam”, em manifestação velada de defesa a Israel e à Ucrânia.
Como a declaração final do G20 fala em combate à desinformação, Milei observou que a Constituição argentina proíbe limitações à “liberdade de expressão” e à livre manifestação de ideias, que comparou à censura, salvo em casos de delitos que devem ser investigados.
Como o Valor havia antecipado, Milei também fez uma ressalva ao termo “super- ricos”, que ele disse não considerar uma menção correta a certas categorias de “pagadores de impostos”, que dessa forma, seriam discriminados. Ao fim, ele desejou sucesso à África do Sul, que assume a presidência rotativa do G20 nesta terça-feira.