terça-feira 5 de novembro de 2024 às 08:20h
Por que as eleições nos EUA são às terças-feiras e não aos domingos — e como isso pode favorecer os republicanos
Na América Latina, os dias de eleição costumam ser especiais.
De maneira geral, as eleições ocorrem em um domingo, em muitos países a venda de álcool é proibida e as forças de segurança são mobilizadas para proteger os centros de votação.
Nos Estados Unidos, por outro lado, as eleições federais são sempre realizadas durante a semana, mas não em qualquer dia: é sempre na primeira terça-feira depois da primeira segunda-feira de novembro.
É por isso que as eleições americanas deste ano ocorrem no dia 5 de novembro. E, neste ano, os eleitores nos Estados Unidos ainda irão escolher, além do presidente, 435 membros da Câmara dos Deputados e 35 dos 100 senadores.
Isso porque as eleições para o Congresso americano ocorrem a cada dois anos, enquanto as presidenciais são a cada quatro anos.
Mas por que precisamente nesta terça-feira e não em outro dia?
A resposta vem do século XIX e tem a ver com carruagens puxadas por cavalos e também com religião.
Do campo à cidade
A regra que estabelece a data das eleições federais nos Estados Unidos foi criada em 1845 para preencher uma lacuna legal que existia sobre o assunto.
Quando o Congresso começou a buscar uma data adequada para a realização do pleito, teve de levar em conta vários elementos.
Votar no domingo não seria possível, porque era o dia em que a maioria dos cidadãos costumava ir à igreja.
Também não poderia ser às segundas-feiras, já que os eleitores teriam de viajar de carruagem no domingo, desde as suas casas até os centros de votação (nas capitais dos Condados), algo que muitos não fariam porque era o Dia do Senhor.
As quartas-feiras eram normalmente o dia dos mercados agrícolas, quando os produtores vendiam os alimentos que haviam colhido.
Assim, a terça-feira pareceu ser uma boa opção.
“A razão para essa decisão é que a sociedade americana era rural. No século XIX, a maioria dos eleitores vivia em fazendas. Isso era justificado naquela época, mas não agora, na era da internet”, diz Steve Israel, que foi membro da Câmara dos Deputados dos EUA pelo Partido Democrata entre 2011 e 2017.
Durante seu tempo no Congresso, Israel apresentou várias vezes um projeto de lei para estabelecer que as eleições federais ocorressem em um fim de semana, a fim de incentivar a participação nas urnas.
“Infelizmente, os Estados Unidos estão atrás de outros países democráticos na participação”, disse ele, em conversa com a BBC New.
“A razão para isso é que muitos eleitores dizem que terça-feira é um dia muito inconveniente para ir votar porque têm trabalho e que se mudássemos a votação para o fim de semana veríamos um aumento na participação dos cidadãos. Mas, infelizmente, o projeto de lei não avançou”, diz ele.
A iniciativa de Israel não foi a única nesse sentido. Na verdade, existe uma ONG chamada “Por que terça-feira?” (Why Tuesday?) que também se dedica a promover a mudança do dia de votação para o fim de semana.
Reduzir a participação?
Mas por que essa discussão não avança?
O comediante afro-americano Chris Rock arriscou uma resposta. “Eles não querem que você vote. Se quisessem, não teríamos eleições em uma terça-feira. Você já fez uma festa em uma terça-feira? Não, porque ninguém iria”, disse ele em uma apresentação em 2008 no Madison Square Garden.
Rock fez uma piada, mas o que ele diz não está longe da explicação que o próprio Israel oferece para o fracasso da sua iniciativa.
“Acredito que os republicanos não querem facilitar a participação das pessoas nas eleições porque sabem que, historicamente e, sem dúvida, quanto mais fácil for para as pessoas votarem, maior será a probabilidade de votarem contra os republicanos. É por isso que impediram que esta lei avançasse no Congresso”, disse ele.
“Terça-feira é dia útil nos Estados Unidos e até 25% dos eleitores disseram que a única razão pela qual não participam nas eleições federais é porque não podem tirar folga do trabalho ou porque é muito difícil para eles se deslocarem até o centro de votação”, diz ele.
O ex-deputado admite que nos Estados onde existem formas alternativas de participação, como o voto por correio, voto antecipado ou o voto online, alterar o dia da votação não faria muita diferença, mas afirma que estas opções não estão disponíveis na maioria dos Estados.