terça-feira 5 de novembro de 2024
Damares Alves, Michelle e Jair Bolsonaro durante cerimônia no Planalto em março de 2020 — Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Home / DESTAQUE / Mulheres conservadoras viram aposta para 2026 após direita eleger muitas prefeitas
domingo 3 de novembro de 2024 às 06:49h

Mulheres conservadoras viram aposta para 2026 após direita eleger muitas prefeitas

DESTAQUE, ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS


As eleições deste ano mostraram a força da direita também em fomentar candidaturas de mulheres e projetar seus nomes para 2026. Enquanto o PT e outras siglas de esquerda expuseram dificuldade para emplacar prefeitas e formar lideranças femininas de peso, apesar da maior proximidade com movimentos feministas, partidos de centro e de direita elegeram a maioria das mulheres que vão comandar as máquinas municipais nos próximos quatro anos.

Entre as siglas com mais nomes entre as 728 prefeitas eleitas este ano destacam-se MDB (129), PSD (102), PP (89), União (88), PL (60) e Republicanos (51). Já o PT elegeu 41, e fica atrás do PSB, que emplacou 51.

O resultado da direita nas urnas reflete, em parte, o esforço de legendas em buscar mulheres com perfil conservador para disputar as eleições. No campo bolsonarista, o desempenho é atribuído ao “trabalho de base” capitaneado pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, no PL, e pela vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP).

Formações básicas

As três, cada uma pelo seu partido, percorreram centenas de cidades formando mulheres identificadas por elas como conservadoras. O trabalho, iniciado um ano e meio antes do pleito, consistia em formações básicas, desde palestras sobre como falar em público, até sobre como se vestir, além da definição de pautas consideradas mais populares e capazes de atrair um público maior.

— Vimos que a mulher não queria vir muito para a política porque a pauta se resumia a aborto e igualdade de gênero. Começamos a trazer pautas, como mães atípicas, empreendedorismo feminino, invisibilidade de mulheres de comunidades tradicionais, como quilombolas e marisqueiras — disse Damares a Camila Turtelli, do jornal O Globo. — Antes, se gastava o dinheiro da cota para fazer palestra motivacional nos estados, coach e eventos. Eu e Michelle transformamos isso em treinamento. Qualificamos mulheres.

Prefeitas eleitas por partido — Foto: Editoria de arte
Prefeitas eleitas por partido — Foto: Editoria de arte/O Globo
 Elas conseguiram, inclusive, atrair mulheres trans, como Thalyta Baronne, que saiu candidata a vereadora pelo Republicanos, em Sento Sé, no interior da Bahia, embora não tenha sido eleita. Ela participou da formação, que incluiu dicas para mudar o visual.

— Para mim é o partido que mais luta pelos direitos e pela defesa das mulheres e crianças. Por eu ser uma mulher trans e de direita isso traz uma perspectiva única e potencial para desafiar estereótipos e romper bolhas políticas — afirma Thalyta.

Para a senadora, a dificuldade da esquerda de avançar no fomento das mulheres está no fato de manter o foco no que ela classifica como “pautas identitárias”. Para ela, “a mulher do dia a dia não quer mais isso”.

Após a eleição municipal, Cristina Graeml, candidata a prefeita pelo PMB derrotada no segundo turno em Curitiba, e Emília Corrêa, eleita pelo PL em Aracaju, cresceram no campo bolsonarista como possíveis nomes para ocupar cargos com maior destaque, além da própria Michelle.

A ex-primeira-dama é frequentemente citada como possível postulante ao Senado pelo Distrito Federal. Graeml também é cotada para disputar o cargo pelo Paraná. Já Emília Corrêa pode se cacifar para concorrer ao governo de Sergipe. Essas novas lideranças contam com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De olho em 2026, PP, PL e Republicanos também pretendem realizar um grande encontro de mulheres eleitas em março, em Brasília, e distribuir um pacote com projetos de lei, requerimentos de informação e protocolo de formação de frentes parlamentares para elas levarem aos seus municípios.

No outro lado da disputa política, há o reconhecimento de que muito trabalho precisa ser feito para se contrapor à direita. Secretária Nacional de Mulheres do PT e coordenadora do programa “Elas por Elas”, Anne Moura afirma que o fato de a legenda estar no governo, neste momento, gerou um conflito de prioridades.

— Muitos quadros, mulheres que poderiam estar nessa linha de frente também, estão ajudando no governo. Isso tira alguns nomes que poderiam disputar na ponta — pontua.

O PT registrou seus melhores desempenhos na eleição, justamente, com duas mulheres. Em Contagem, Marília Campos foi reeleita com 61% dos votos no primeiro turno e é um dos nomes neste campo que se projeta para 2026, cotada a estar em uma chapa para o governo de Minas de Gerais. Em Juiz de Fora, Margarida Salomão também foi reeleita no primeiro turno. Nem Lula ou a primeira-dama Janja estiveram no palanque dessas candidatas na campanha.

Moura afirma que apesar de não ter feito um grande número de prefeitas mulheres, o partido segue crescendo na questão de gênero e que é preciso “rever a estratégia”. Ela faz, contudo, uma ponderação:

— As mulheres de esquerda e da pauta feminista não são mulher de alguém ou filha de alguém. Isso acontece na direita e é muito mais fácil para essas mulheres (se destacarem).

Janja ausente

No PT, só Natália Bonavides, em Natal, teve Lula em seu palanque. Após ser cotada como cabo eleitoral do PT para o pleito municipal, a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, encerrou o período eleitoral longe da campanha e com apenas uma participação em atos do gênero: uma caminhada de Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo.

— O nosso trabalho é um trabalho contínuo. — diz a deputada Maria do Rosário, que foi candidata do PT em Porto Alegre. — Não se trata só de preparar para o processo eleitoral. O PT, por exemplo, é um partido que mais tem mulheres nas suas diretorias e é presidido por uma mulher. A maior bancada de mulheres no Congresso hoje é a do PT.

Professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Flávia Biroli avalia que o aumento da participação das mulheres na política é um efeito dos movimentos feministas. Ela defende que a criação das cotas de gênero para o uso do fundo eleitoral é um dos motivos para o interesse da direita em ter mais mulheres entre seus quadros.

— É interessante porque Michelle Bolsonaro pode ser claramente definida como uma mulher antifeminista, mas a postura dela só é possível por efeito das lutas feministas ao longo dos anos por maior participação das mulheres — destaca a pesquisadora.

Veja também

Governo processa TikTok por tratamento irregular de dados de crianças

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (Anpd) instaurou processo administrativo para apurar “potenciais práticas …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!