Com fissuras internas após o fraco desempenho na eleição municipal, o PT considera o presidente Lula da Silva a única opção do partido na tentativa de êxito em 2026. Diante do fortalecimento da centro-direita no pleito, o atual ocupante do Palácio do Planalto é hoje o nome inquestionável segundo Jeniffer Gularte, do O Globo, para fazer frente a uma chapa de centro ou bolsonarista.
Ao completar 79 anos no último domingo, Lula se tornou o mais longevo político a ocupar a Presidência do Brasil e teria 81 no caso de ser reempossado. O processo de renovação do partido, que ocorrerá com as discussões da sucessão do PT no primeiro semestre de 2025, não inclui a possibilidade de uma alternativa ao presidente.
Internamente, petistas afirmam que uma desistência de Lula seria encarada como um “tsunami” para a legenda. O petista é visto como o único puxador de votos da sigla entre parlamentares, algo ainda mais crucial no ano em que o bolsonarismo se prepara para avançar no Senado. Na hipótese de Lula se retirar do jogo, o PT não teria ninguém com a mesma imagem junto às camadas mais populares — segmento em que é melhor avaliado.
Petistas próximos a Lula afirmam que a única pessoa com autoridade para levantar dúvidas sobre sua candidatura é ele próprio. Dirigentes explicam que a ascendência do presidente no partido é tamanha que ele mesmo conduziria sua substituição na hipótese de querer ficar fora da disputa. Internamente, esse assunto é evitado. No PT, Lula alcançou status em que sua palavra é instância superior ao diretório nacional do partido.
Estímulo à dependência
Nem mesmo a idade suscita questionamentos. Há duas semanas, o presidente sofreu uma queda no banheiro, incidente comum entre idosos. Ao atingir a parte de trás da cabeça, levou cinco pontos e precisou cancelar três agendas internacionais por recomendação médica. Ontem, Lula refez exames de imagem e precisará repeti-lo em três dias.
Aliados históricos de Lula apontam que parte da dependência do presidente se deve ao fato de o próprio nunca ter preparado um sucessor que espelhasse o seu tamanho ou mesmo empoderado outro aliado que pudesse lhe fazer sombra. Essa ala admite que é Lula quem estimula a submissão à figura dele.
O presidente dá a palavra final em muitas instâncias, costura acordos, define candidaturas e veta nomes. Desde 1989, Lula é o candidato à Presidência do PT. Se tentar o quarto mandato, será o candidato ao Planalto do partido pela sétima vez.
Desde a redemocratização, Lula só não concorreu como candidato do PT em 2010, quando não poderia disputar um terceiro mandato; em 2014, quando deu lugar a Dilma Rousseff para tentar a reeleição; e em 2018, período em que esteve preso e o PT lançou Fernando Haddad, que fazia campanha em seu nome.
Aliados veem equívoco do PT ao apostar todas as fichas na “Lulodependência” nas eleições municipais. A legenda encerrou o pleito com menos prefeituras do que sua previsão mais pessimista. Internamente, petistas apostavam que, no pior dos cenários, o PT ultrapassaria a marca de 300 prefeituras. Abertas as urnas, o partido levou o comando de 252. Na única capital em que saiu vitorioso, Evandro Leitão (PT-CE) venceu por 10,8 mil votos o bolsonarista André Fernandes (PL-CE).
Ressaca eleitoral
Na semana de ressaca eleitoral, petistas se dividiram entre os que reclamavam da falta de apoio do governo aos candidatos e os que reconhecem que foi um erro apostar que bastaria Lula e o governo para fazer o partido crescer.
A primeira decepção não demorou a aparecer. O presidente não rodou o país para subir em palanques nas capitais e, embora indicadores econômicos tenham melhorado, isso não se reverteu em popularidade para o petista. Lula não foi o cabo eleitoral que todos esperavam.
A ala crítica à atual gestão do partido afirma que o PT deixou de fazer o dever de casa para as eleições municipais. Não se preparou para entender por que a legenda está perdendo apoio nas periferias nem fez uma reflexão sobre o crescimento da extrema direita no Brasil e no mundo. Um dos nomes que deve liderar o processo de renovação do PT, o ex-ministro José Dirceu, agora reabilitado politicamente, defende uma reconstrução partidária, com sede do PT em todas as cidades, mais trabalho nos territórios e ações voltadas para a juventude.
O PT prevê um campo de batalha complexo para 2026, com governadores de direita atuantes — e com potencial de serem puxadores de voto — em uma campanha de oposição a Lula aliada ao fortalecimento do bolsonarismo no Nordeste, base eleitoral do petismo. Esse cenário obrigará o partido a se voltar pelas alianças de centro, com foco em legendas que já integram a base do governo, mas que estão rachadas quanto ao apoio a Lula.
O apoio ao petista divide MDB, PSD e União Brasil — ainda que, juntas, essas três siglas ocupem nove ministérios. Aliados preveem que a popularidade do presidente, nos níveis atuais, poderá tornar mais caro o apoio dessas siglas.
Ponto que motiva a atual Executiva do PT a apontar a inabilidade dos ministros em fazer disputa política das entregas do governo.
— Eu vejo pouca participação dos ministros para falar disso, inclusive dos seus projetos de área — afirmou Gleisi Hoffmann no encerramento da reunião da Executiva do PT, na segunda-feira.