O Partido dos Trabalhadores vai voltar a comandar uma capital após passar em branco nas eleições de 2020. Em uma disputa acirrada até o fim, Evandro Leitão (PT) conquistou 50,38% dos votos, superando o bolsonarista André Fernandes (PL), com 49,62% em Fortaleza, cidade que a legenda governou pela última vez em 2013. Depois de amargar derrotas importantes no primeiro turno, o partido do presidente Lula da Silva (PT) conquistou prefeituras de cidades médias, mas perdeu nas outras três capitais que disputava no segundo turno. Já o PSOL não elegeu um único prefeito.
Derrotado em Porto Alegre e Natal, onde as pesquisas já indicavam dificuldades para Maria do Rosário e Natália Bonavides, e em Cuiabá, o PT repetiu o desempenho de 2016, com vitória em apenas uma capital. O resultado está distante do alcançado pela sigla de Lula nas décadas anteriores — em 2004, o partido chegou a eleger nove prefeitos nas capitais —, mas é uma evolução em relação ao resultado de quatro anos antes, quando o partido não conseguiu nenhuma capital pela primeira vez em sua história.
— O desempenho do PT não foi bom nessas eleições, mas poderia ter sido pior. O partido teve derrotas importantes, como em Araraquara (SP), no primeiro turno, só que conseguiu, mesmo que timidamente, aumentar o número de prefeituras que teve em relação a 2020 (de 183 para 252) e viu candidaturas de extrema-direita sendo derrotadas em locais importantes, como Belo Horizonte e Fortaleza — avalia Nara Salles, pesquisadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp.
Depois de uma participação menor do que os aliados desejavam, Lula publicou 12 vídeos entre sexta-feira e sábado, véspera da eleição, para divulgar seus candidatos. Antes do acidente doméstico que sofreu no domingo da semana passada, o presidente foi a algumas cidades para participar de atos de campanha. Entre elas, Camaçari — uma das mais ricas da Bahia — e Mauá, no interior de São Paulo, duas cidades médias em que o partido venceu no domingo. Além delas, os petistas também levaram Pelotas (RS), cuja coligação teve apoio até do governador Eduardo Leite (PSDB) contra o candidato representante do bolsonarismo, Marciano Perondi.
Em Cuiabá, o petista Lúdio Cabral até liderou as pesquisas ao “esconder” Lula na campanha e apostar em acenos ao eleitorado conservador ao se dizer contra o aborto e a liberação de drogas, mas foi batido por Abilio Brunini (PL) por 54% a 46%. Já Diadema (SP), que também recebeu o presidente Lula na reta final de campanha, deu a vitória a Taka Yamauchi (MDB).
Outra derrota sentida pelo partido foi em Olinda (PE), onde nem mesmo a entrada de João Campos (PSB), político da esquerda que teve a vitória mais contundente de 2024 — 78,11% dos votos no primeiro turno —, garantiu a vitória do petista. Vinicius Castello foi superado por Mirella Almeida (PSD), aliada da governadora Raquel Lyra (PSDB). A sigla também perdeu em Anápolis (GO), Caucaia (CE), Santa Maria (RS) e Sumaré (SP). Durante a campanha, Lula também esteve em Fortaleza, Natal e São Paulo.
Na capital cearense, o PT venceu em uma das disputas mais apertadas do segundo turno. Apoiado pelo presidente Lula e com a presença na campanha de Camilo Santana, ministro da Educação e ex-governador do Ceará, Evandro Leitão venceu por uma diferença de apenas 10,8 mil votos o bolsonarista André Fernandes.
Os candidatos de PL e PT apostaram em uma roupagem moderada. De um lado, o deputado federal André Fernandes buscou se afastar da imagem de radical de direita que o alçou à Câmara há dois anos e evitou se associar diretamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Do outro, Evandro Leitão adotou discurso de “frente ampla” para expandir seu eleitorado para além da esquerda.
A disputa motivou atritos entre dois antigos aliados da esquerda, PT e PDT. O partido do ex-governador Ciro Gomes teve quadros declarando voto em Fernandes, o que despertou críticas até do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que é presidente licenciado da sigla e principal dirigente trabalhista desde a morte de Leonel Brizola.
— Aqueles que se acham donos do poder, aqueles que se juntaram com o filhote de Bolsonaro, deram com os burros n’água — disse Leitão, em referência ao adversário derrotado, ao comemorar a vitória
PSB tem mais prefeituras
Entre os partidos de esquerda, o PSB, sigla de João Campos, conquistou o maior número de prefeituras. Foram 309 eleitos no primeiro turno, mas nenhum no segundo — o partido disputava em Campina Grande (PB) e Paulista (PE). Já o PT teve vitórias em 252 municípios. Nos dois casos, a força política ficou concentrada no Nordeste. Lá, o PSB elegeu 214 prefeitos, e o PT, 170.
Já o grande derrotado foi o PSOL, que perdeu em São Paulo, com Guilherme Boulos, e em Petrópolis (RJ), com Yuri Moura, cidade que teve a maior diferença de votos entre os candidatos (75% a 25%). Em 2020, o partido elegeu cinco prefeitos, inclusive em uma capital, Belém, onde Edmilson Rodrigues recebeu apenas 9% dos votos no primeiro turno.
No segundo turno, o PDT venceu em Niterói (RJ) e em Serra (ES), duas das três cidades que disputava. Com isso, elegeu 151 prefeitos. Já PCdoB e PV não tiveram nenhum candidato em disputa no domingo e ficaram com prefeituras de apenas 19 e 14 municípios, respectivamente.