O governo da Venezuela denunciou nesta última quinta-feira (24) o veto do Brasil à sua entrada no grupo do Brics durante uma reunião de cúpula na cidade russa de Kazan, ato que considerou uma “agressão” e um “gesto hostil”.
A Venezuela contou com o “respaldo e apoio dos países participantes nesta cúpula para a formalização de sua entrada nesse mecanismo de integração”, mas “a representação da chancelaria brasileira [Itamaraty], liderada pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que [o ex-presidente Jair] Bolsonaro aplicou contra a Venezuela durante anos”, expressou o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em comunicado. Essa ação “constitui uma agressão à Venezuela e um gesto hostil”, acrescentou, considerando o veto “inexplicável e imoral”.
A relação entre Brasil e Venezuela tornou-se tensa após as eleições presidenciais venezuelanas de 28 de julho, nas quais Nicolás Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato, em meio a denúncias de fraude. Os dois países retomaram as relações bilaterais em janeiro de 2023, depois da ruptura diplomática ocorrida em 2019 pelo reconhecimento de Bolsonaro ao opositor Juan Guaidó como presidente interino. Maduro e Lula, de fato, falaram em uma “nova época” nas relações em maio de 2023, quando se reuniram no Palácio do Planalto, em Brasília.
A situação piorou no mês passado, quando Caracas revogou a autorização concedida ao Brasil para representar a Argentina no país e para administrar a residência da embaixada onde seis colaboradores da líder opositora María Corina Machado estão refugiados desde março.
O presidente russo, Vladimir Putin, um aliado de Maduro, havia ressaltado mais cedo que um consenso era necessário para a inclusão de um país no bloco, e manifestou seu desejo de que “a situação seja resolvida” entre o Brasil e a Venezuela.
“A Venezuela luta por sua independência, por sua soberania. Consideramos que o presidente Maduro venceu as eleições e as venceu honestamente, e lhe desejamos sucesso”, acrescentou Putin.
Afetada por uma longa crise econômica, a Venezuela buscava há meses se tornar um membro ativo do Brics. Maduro viajou a Kazan para se reunir com parceiros do bloco, e o presidente russo lhe havia manifestado seu apoio.
O bloco do Brics foi fundado em 2009 com quatro membros: Brasil, China, Índia e Rússia. Em 2010, a África do Sul se uniu ao grupo. Em 2024, somaram-se Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes Unidos.