Em reunião coordenada pelo diretor Clenio Pillon, de Pesquisa e Desenvolvimento na última quinta-feira (3) chefes dos centros de pesquisa da Embrapa no Nordeste, reunidos na Plataforma Colaborativa Nordeste, e lideranças do Consório Nordeste começaram um processo de articulação de parcerias institucionais para o desenvolvimento de tecnologias para a agricultura da região.
O Consórcio Nordeste é uma iniciativa jurídica, política e econômica que congrega os governos dos nove estados da região e articula pactos de governança em torno de políticas públicas e projetos de cooperação, inclusive internacionais, para superação de suas desigualdades econômicas e sociais.
A pesquisadora Maria Auxiliadora Coelho de Lima, chefe-geral da Embrapa Semiárido e atual coordenadora da Plataforma, disse, em uma apresentação, que a iniciativa tem como foco os desafios da agricultura familiar no bioma Caatinga, associados às mudanças climáticas, à insegurança hídrica, alimentar e nutricional, à vulnerabilidade do bioma à degradação, à alta exposição de seus solos e decorrente baixo desempenho de seus sistemas de produção.
São desafios também para a agricultura familiar a oferta regular de alimentos, a insuficiência da assistência técnica e extensão rural e as dificuldades de acesso a mercados.
A pesquisadora vê como oportunidades tecnológicas a diversificação e atividades econômicas, com sistemas de produção mais resilientes às mudanças do clima, para atender à inclusão produtiva, a bioeconomia, a mitigação dos efeitos da reduzida oferta de água e o aproveitamento das vocações regionais e insumos locais.
Ela destaca ainda como possibilidades o aproveitamento de espécies nativas, para a criação de novos produtos com agregação de valor e o uso de fungos e leveduras e óleos essenciais para controle de pragas e doenças.
Segundo ela, a Plataforma Colaborativa Nordeste já tem como entregas previstas alguns sistemas de produção de baixo carbono, com quantificação de emissões de GEE e de sequestro de carbono, tanto na caatinga preservada quanto na já alterada pelo homem e as medidas de pegada hídrica em áreas com cobertura vegetal e com preparo mínimo de solo.
A Plataforma tem também modelos de sistemas integrados (SAFs, ILPF,etc.) para diferentes realidades, a integração de tecnologias visando a segurança hídrica e a segurança alimentar dos rebanhos, manejos de espécies para bioeconomia (uso medicinal, farmacológico, aromático, banco genético, etc.), cultivos de agricultura biossalina e de agricultura dependente de chuva ou de irrigação.
A partir da exposição da pesquisadora, o diretor Pillon observou que, além desse conjunto de conhecimentos e tecnologias que já podem ser entregues para disseminação para os agricultores familiares da região, há outros ativos tecnológicos que podem ser desenvolvidos a partir da prospecção de genes ambientados às condições de solo e clima da região.
“Queremos deixar todas essas possibilidades e realidades à disposição do Consórcio, para ver o que pode ser de seu interesse e, de forma conjunta, buscarmos recursos orçamentários pra execução das ações a serem pactuadas. Precisamos ainda formular um plano de trabalho que potencialize essas possibilidades”, disse ele.
Carlos Gabas, secretário executivo do Consórcio, disse que os planos e realizações da Embrapa na região “dialogam com os propósitos do Consórcio” e propôs que representantes da Embrapa participem das reuniões da iniciativa para participarem da construção desse plano de trabalho, sugestão que agradou aos chefes das Uds que participaram da reunião.
Gabas observou que o Consórcio não dispõe de fundos para investimento, mas tem capacidade de busca-los junto ao Governo Federal, emendas parlamentares e até mesmo fundos internacionais como os dos países árabes com quem o Consórcio tem parcerias. “As tecnologias desenvolvidas para o semiárido interessam aos países árabes, dada a possibilidade de aproveitamento em sua agricultura”, disse.
Como encaminhamento final à reunião, o diretor Pillon indicou Maria Auxiliadora, chefe da Embrapa Semiárido, e o pesquisador Marcelo Bonnet como interlocutores e pontos focais da Embrapa com o Consórcio Nordeste, juntamente com o apoio da Apacex e Diretoria de Negócios, Inovação e Transferência de Tecnologias, nessa articulação.