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quarta-feira 2 de outubro de 2024 às 14:28h

Reduto de pai de Arthur Lira tem embate entre PP e MDB e reflete briga por hegemonia em Alagoas

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Com uma máscara de proteção no rosto e apoiado em uma bengala, Benedito de Lira (PP), 82, chega com duas horas de atraso neste sábado (28) para um ato de sua campanha à reeleição para a Prefeitura da Barra de São Miguel (28 km de Maceió). As informações são de Josué Seixas, João Pedro Pitombo e Marina Pinhoni, da Folha de S. Paulo.

Sobe na carroceria da camionete com a ajuda de assessores para liderar o “Arrastão do Biu”, carreata pelas ruas da cidade. Por cerca de 1 hora e 30 minutos, foi amparado em meio aos solavancos do carro, enquanto apoiadores ocupavam as ruas e dançavam jingles em ritmo de forró.

Benedito de Lira, o Biu, quer demonstrar força. A vitória no município de 8.000 habitantes é questão de honra para ele e seu filho, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). A cidade é um microcosmo central em uma disputa que mira algo muito maior: a hegemonia política em Alagoas.

Dois partidos protagonizam o xadrez político alagoano. De um lado, está o MDB do senador Renan Calheiros, que lançou 82 candidatos a prefeito dentre os 102 municípios do estado. O PP de Lira concorre em 55 cidades.

Renan Calheiros e Arthur Lira estiveram em lados opostos na política de Alagoas em todas as eleições desde 1998. Os dois são políticos de gerações distintas, mas se destacaram pelo protagonismo que conquistaram na esfera nacional, ocupando cargos de relevância no Congresso Nacional.

As eleições de 2024 são consideradas uma antessala de 2026, quando Renan Calheiros e Arthur Lira devem concorrer ao Senado em chapas opostas –serão duas vagas em disputa por estado.

PP e MDB travam embates diretos em 36 dos 102 municípios alagoanos. São aliados em 21, incluindo Arapiraca, segunda maior cidade do estado.

Dentre os municípios onde há confronto direto, estão alguns considerados estratégicos no xadrez eleitoral alagoano. É o caso, por exemplo, das cidades de Junqueiro, Teotônio Vilela e Campo Alegre, redutos da família Pereira-Lira, e Murici, principal berço eleitoral dos Calheiros.

Barra de São Miguel também está nesta lista. A cidade é governada desde 2021 por Benedito de Lira, que em 60 anos de trajetória política foi vereador, deputado estadual, deputado federal e senador, até perder a reeleição em 2018 após ser alvejado por denúncias na Operação Lava Jato.

Seu rival é Floriano Melo (MDB), 65, atual vice-prefeito e assessor de Benedito por 15 anos até uma cisão em meados de 2022 —ele afirmou ter migrado para o partido dos Calheiros para ter chances de disputar a prefeitura.

O clima na cidade é de apoio a Benedito de Lira, cuja gestão foi irrigada por recursos de emendas parlamentares enviadas pelo filho. De 2021 a 2024, Barra de São Miguel recebeu R$ 16,5 milhões em recursos de emendas.

Na tarde de sábado, aliados de Biu tomaram as ruas da cidade em carreata. No topo de um dos carros, uma caixa d’água azul foi ornamentada para emular uma grande panela de pressão que disparava uma fumaça azul, cor que dá a identidade visual à campanha. Uma das camionetes carregava caixas térmicas com cervejas Heineken que eram distribuídas gratuitamente.

No trajeto, apoiadores aplaudiam a passagem de Benedito, mas se mostravam preocupados com a idade do prefeito. Um deles sugeriu que a gestão será tocada pelo vice, o advogado Henrique Alves Pinto. Abordado durante o evento, Benedito não quis falar com a Folha.

Embora com as fragilidades naturais para um octogenário, o prefeito busca manter o controle de tudo o que o cerca.

No comício, concedeu somente três minutos para que cada vereador falasse, a fim de evitar que o evento se tornasse, em suas palavras, chato. Reticente com os braços que lhe ofereciam apoio na carreata, reclamou quando bloqueavam seu caminho na camionete: “Eu quero sentar, porra.”

Fez um discurso de 15 minutos com alguns lapsos, como quando não lembrou a data em que ocorrerá a reeleição. Mas mobilizou sua tropa: disse que eleição ainda não estava ganha, chamou o adversário de “fi da peste” e prometeu uma festa até amanhecer nas ruas da cidade quando vencesse.

Nos eventos de campanha, quem ganha protagonismo é um dos filhos de Arthur Lira, Álvaro, conhecido como Alvinho, de 18 anos.

Na carreata, ele chegou mais cedo e foi tietado por apoiadores do avô. Animou o público com danças coreografadas e usou óculos do tipo juliet, popular nas periferias. Álvaro não quis dar entrevista, mas aliados disseram que ele ser sucessor natural da família na política.

Em discurso, Biu elogiou Álvaro e brincou: “Ele ainda é um menino. É um bebê”. Se dirigindo ao neto, o agradeceu ao apoio do filho Arthur Lira, que estava em agenda política em Maragogi.

O adversário Floriano Melo, 65, recebeu a reportagem da Folha em seu comitê enquanto se preparava para um comício que aconteceria no início da noite. Estava de bermuda e camisa, tranquilo e com poucos assessores ao redor, embora com seguranças descaracterizados.

Ele contou que não brigou com Benedito ou Arthur, não guarda mágoas e se afastou por diferenças ideológicas na gestão. Floriano mora na cidade há 12 anos e diz que, na campanha passada, liderou quase todos os eventos de Biu, que esteve presente apenas nos últimos 30 dias de campanha.

Reconhece a força política do antigo aliado, mas diz confiar na vitória: “Quem é o Floriano, que vai enfrentar agora o homem que manda no Brasil? Eu sou de carne e osso. Eu tomo café, almoço e janto. A única diferença é que não devo a eles. Eu vou em frente e o povo quer essa mudança na Barra”.

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