Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), os dois candidatos à Prefeitura de São Paulo com os maiores tempos de televisão, foram os que menos cresceram nas redes sociais durante o primeiro turno. Nunes teve um aumento de 3,7% de seguidores, enquanto Boulos cresceu apenas 1,2%.
Para se ter ideia, só com a cadeirada desferida em Pablo Marçal (PRTB) no debate da TV Cultura, há duas semanas, José Luiz Datena (PSDB) conquistou mais seguidores do que Boulos e Nunes em toda corrida eleitoral. Com a agressão, o tucano ganhou 111 mil contas.
O baixo crescimento do candidato do PSOL contrasta com a sua popularidade adquirida na internet ao longo da vida política. Antes das eleições, ele já acumulava 6,4 milhões de seguidores, a segunda maior base, só perdendo para a do influenciador Pablo Marçal (PRTB), vinculado a 17 milhões de contas. Nunes, por seu turno, vivia realidade bem distinta: era sumido na internet, com uma base de 1 milhão de contas.
De 16 de agosto até 25 de setembro, Boulos teve um aumento de apenas 78 mil seguidores, chegando a marca de 6,5 milhões de contas nas redes. Já Nunes, com mais 42 mil pessoas em seus canais de comunicação, atingiu quase 1 milhão e 200 mil seguidores. “Parece que a campanha do Boulos é fraca”, diz André Eler, diretor da Bites, empresa de análise de dados, que fez o levantamento a pedido da Folha.
“A estratégia para suavizar a imagem dele não deu certo. Ele perdeu o frescor de um candidato jovem, ainda que seja muito popular entre os jovens.”
Para fazer a comparação, a Bites entende como base a soma dos seguidores de cada candidato nas mídias Instagram, Facebook, X (ex-Twitter), TikTok e YouTube. “Nunes não tem uma estratégia para as redes, faltou uma tática para casar a televisão com a internet”, diz Eler.
Marçal e Tabata Amaral (PSB) foram os candidatos que mais cresceram, aumentando 4,8% das bases. No que se refere ao candidato do PRTB, o levamento da Bites ressalta os novos 5,7 milhões de seguidores de sua segunda conta no Instagram —a primeira foi derrubada por ordem da Justiça Eleitoral em agosto. Datena, por fim, cresceu 3,9% da base.
Embora tenha o segundo maior tempo na TV, com 2 minutos e 22 segundos, a campanha de Boulos está em alerta com a situação das redes. Aliados do candidato atribuem o desempenho ruim ao pouco tempo para a construção de uma nova identidade, na internet, para o político. Dizem também que o algoritmo das big techs não favorece o compartilhamento do conteúdo do candidato, alicerçado em suas 119 propostas.
Afirmam ainda que, num cenário marcado por agressões em debates, Boulos acaba ofuscado, sem conseguir apresentar suas ideias para o município. A preocupação, contam os aliados, é conseguir transferir os votos do presidente Lula (PT) para ele.
A pesquisa Datafolha mais recente mostra que 18% dos eleitores que votaram em Lula, há dois anos, apoiam agora a reeleição de Nunes —Boulos tem 48% das intenções de voto de quem escolheu o atual presidente. Mesmo com a reação de Marçal, a campanha do PSOL se mantém otimista.
Em 2020, quando disputou a prefeitura no segundo turno com Bruno Covas (PSDB), morto no ano seguinte à eleição, o psolista dominou a internet em comparação a todos os outros candidatos, com mais engajamento e seguidores, de acordo com o monitoramento realizado pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Agora, Boulos tenta, no Instagram, ligar a sua imagem ao legado da vice, Marta Suplicy (PT), valorizando a existência dos CEUs nas periferias. Ao detalhar projetos, deixa o humor em segundo plano.
Os memes são antigos, como os vídeos “Café com Boulos”, em que o candidato se senta, numa mesa na rua, para conversar com eleitores. Robson Nunes, especialista do Comunicare e pesquisador da Unirio, diz que as redes de Boulos são confusas. “São tantas cores e figuras em seu Instagram, que a mudança de identidade é desproporcional”, diz Robson.
Para o especialista, Boulos se posiciona como bom gestor, mas essa estratégia é mais afeita a quem tenta a reeleição, o que não é o seu caso. As postagens com críticas aos oponentes, conteúdos quase sempre sujeito a mais compartilhamentos, ficam menos em evidência. “Para quem ele está fazendo campanha? Não está claro”, afirma Robson.
Enquanto isso, a campanha de Nunes, que tem 6 minutos e 30 segundos de propaganda política, alicerça o discurso, na TV ou na internet, em fatos. Em consequência, suas redes servem de vitrine para as obras que entregou em três anos e meio de gestão. Tanto que a campanha criou o mote “Ricardo Faz/ Ricardo Fez”, título de uma série de postagens sobre realizações suas.
Os ataques se concentram em Marçal. Em um deles, a campanha faz um corte do debate Folha/UOL para associá-lo a um “falso profeta”. A prioridade para as redes, segundo diz a campanha, é criar diálogo com o eleitorado mais jovem.
“Os conteúdos que ele faz têm um engajamento baixíssimo, até os ataques feitos pelo prefeito já são bem conhecidos pelo público”, diz Robson. “O maior problema do Nunes é não ser uma liderança carismática.”