Com dificuldade para impulsionar a candidatura de Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio — o deputado aparece 41 pontos percentuais atrás de Eduardo Paes (PSD) no último Datafolha —, a família Bolsonaro planeja reforçar os giros pelo o estado e construir uma espécie de cinturão de direita ao redor da capital. O núcleo duro bolsonarista montou uma estratégia para catapultar candidaturas aliadas ao redor da cidade e da vizinha Niterói, onde as chances da direita também são pequenas.
O plano inclui tentar garantir a eleição não só de nomes do PL e da “direita raiz”, mas de aliados do Centrão que possam entregar votos para o clã em 2026.
A ofensiva é coordenada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), responsável por dar tração aos planos do clã em território fluminense, berço político da família. Ele projeta terminar o pleito com 70% das prefeituras nas mãos de bolsonaristas ou de aliados.
— São pessoas que vão estar com a gente em 2026. Aí tem direita, centro-direita, Centrão. Mas não são Lula. Onde a esquerda vai ganhar da gente? Maricá é praticamente impossível (de a direita vencer), no Rio estamos com essa dificuldade, e em Niterói (também) — diz.
O olhar dos Bolsonaro está em construir no Rio uma base sólida para o próximo pleito, tanto para eleição ao Senado quanto para a presidencial. Ainda que o ex-presidente não possa se candidatar, ele almeja chegar no pleito de 2026 com o capital político em alta.
Em 2022, quando disputou com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro ganhou em 72 dos 92 municípios do Rio. Ainda assim, teve menos votos no estado do que em 2018. Por isso, a preocupação em reforçar a influência sobre o estado nessas eleições.
‘Resgate’ de olho em 2026
O clã Bolsonaro tem trabalhado nas ruas o mote de que “o resgate” do país em 2026 começa agora pelas cidades. Nas últimas semanas, Flávio passou por 12 municípios, incluindo Quissamã, Seropédica, Itaguaí, Rio das Ostras, Duque de Caxias e Magé. Até a eleição, planeja intensificar o giro na regiões Serrana e dos Lagos.
A reta final será toda dedicada à Baixada, diz o senador. Segundo ele, de 1º a 5 de outubro, ele e o ex-presidente irão rodar os municípios da região, que tem grande densidade populacional.
— Estamos apostando nessa capilaridade que 2024 pode dar pra gente. A gente nunca fez isso, de trabalhar as candidaturas de prefeito e vereador. Antes, era só eu e meu pai. Em 2018, veio aquela onda. E em 2020, ele teve muita dificuldade de rodar o país estando na Presidência.
Na tarde da última quinta-feira, Flávio esteve em Queimados, na Baixada, para participar de uma carreata em apoio à reeleição de Glauco Kaizer (União Brasil). Por pouco mais de uma hora, Flávio percorreu as principais ruas do município ao lado de Kaizer e do senador Carlos Portinho (PL-RJ). Ao longo da carreata, que contou com mais de 80 veículos, o senador foi cumprimentado por moradores.
A Baixada Fluminense concentra quatro dos dez municípios com o maior colégio eleitoral do Rio: Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti e Belford Roxo. Somadas, essas localidades concentram mais de 1,9 milhão de eleitores. Neste ano, Magé ainda estreou no grupo de localidades com mais de 200 mil pessoas aptas a votar. Lá, o apoio da família é para Ricardo da Karol (PL), com quem Flávio subiu na caçamba de uma caminhonete e discursou pelas ruas da cidade.
Na Baixada, a última visita, antes de Queimados, havia sido em Paracambi, no último dia 13, onde participou de carreata com a candidata à prefeitura Aline Otilia (PL). Ao todo, nove cidades da região contam com prefeitos ou vereadores apoiados diretamente pela família. Em São João de Meriti, o candidato do PL é Valdecy da Saúde.
Expectativa da esquerda
Em campanha por aliados no estado, muitos deles em comum com os Bolsonaro, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (Republicanos-RJ) diz que o interior do Rio demonstra ser muito bolsonarista e tudo indica que o eleitorado de direita será vitorioso nessa eleição. Ele afirma, contudo, que Bolsonaro poderia ter massificado sua presença com mais vídeos e inserções e isso não ocorreu.
Com a eleição dada como certa à Prefeitura de Maricá até por rivais, o deputado federal Washington Quaquá (PT-RJ) admite dificuldades para a esquerda no Rio, mas questiona as estimativas de Flávio.
— É uma conta de malandro. O PT não tem muita força no Rio, mas estamos melhorando nosso desempenho. Vamos manter Maricá e Japeri, levar Paracambi e Pinheiral. Temos ainda os candidatos de esquerda e da base do governo. Fora que, se ele acha que essa eleição garante a próxima, não entende nada de política – diz Quaquá.
Na Baixada, onde Bolsonaro irá focar nos últimos dias antes do pleito, a força do bolsonarismo será colocada em teste, diz Celso Pansera, presidente da Finep e quadro do PT no Rio. No município mais populoso da região, Duque de Caxias, pesquisas têm colocado o candidato apoiado por Lula, o ex-prefeito Zito, à frente do nome de Bolsonaro.
— Capital tem o poder de contagiar o resto. Estão preocupados, porque precisam proteger a aldeia e segurar o bolsonarismo aqui, que é o berço deles — diz.