Nos últimos dias, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez dois movimentos segundo Daniel Pereira, da Veja, para tentar encaminhar a própria sucessão ao comando da Casa. Mudando o roteiro previsto inicialmente, ele abandonou a candidatura do líder do União Brasil, o baiano Elmar Nascimento, seu amigo e até então considerado favorito na eleição marcada para fevereiro, e abraçou o nome do deputado Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba, com quem também tem relação de amizade.
A ação de Lira, como de costume, foi motivada por pragmatismo. Ao perceber que Nascimento dificilmente conseguiria os apoios necessários para vencer a disputa, Lira passou a trabalhar por Motta, que, segundo deputados de diferentes legendas, têm mais condições de construir consensos e unir a Casa. O presidente da Câmara ainda não anunciou oficialmente seu apoio a Motta, mas posou para uma foto com ele e outros líderes partidários, a fim de indicar a sua nova opção e fortalecê-la. Nascimento, obviamente, não participou do encontro.
Presidente da Câmara é acusado de traição
O líder do União Brasil se sentiu traído por Lira e, mesmo com o revés, não desistiu do páreo. Crítico ferrenho de Lula na última campanha presidencial, Nascimento foi ao Palácio do Planalto para tentar se manter vivo na disputa. Primeiro, conversou com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, um desafeto público e notório do presidente da Câmara. Uma foto dessa reunião também foi divulgada, fomentando a guerra de imagens.
No dia seguinte, Nascimento conversou com o próprio Lula. Mais uma vez, ouviu que não há veto por parte do governo à candidatura dele à chefia da Câmara. Nas audiências com ministro e o presidente, o deputado declarou que o seu plano é — juntamente com o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito, também postulante ao cargo — reunir siglas governistas em torno de uma candidatura única para enfrentar Hugo Motta, que deve receber o apoio formal do PL de Jair Bolsonaro.
Jogando parado, mas nem tanto
Em manifestações públicas, Lula já declarou que Lira tem o direito de trabalhar para fazer o sucessor e que o governo não interferirá na disputa na Câmara, um assunto da alçada do Legislativo. O presidente, por enquanto, só tem uma prioridade definida: não comprar briga com nenhum dos candidatos ao cargo, para não concorrer o risco de ver reeditada, em seu terceiro mandato, a tormentosa relação entre Eduardo Cunha e Dilma Rousseff, que custou os respectivos cargos aos dois.
Se Lira mexe as peças para tentar consolidar o nome de Hugo Motta o mais rápido possível, Lula e o PT jogam com o tempo e pretendem definir sua posição no caso só bem perto do dia da eleição. Na prática, torcem para que, até lá, um dos concorrentes se torne tão favorito a ponto de nem haver disputa pelo cargo. Esse seria o melhor dos mundos para o governo, que passaria pelo processo sem o desgaste que Lira está sofrendo no momento.