Segundo Taís Hirata, do jornal Valor, a Alcoa deverá iniciar uma operação de cabotagem própria no Brasil, na qual está investindo US$ 200 milhões (o equivalente a R$ 1,1 bilhão, na cotação atual). A movimentação verticalizada deverá ter início entre o fim deste ano e o primeiro trimestre de 2025, segundo Mateus Tiraboschi, vice-presidente global de compras e logística do grupo.
O objetivo é transportar aproximadamente 6 milhões de toneladas de bauxita por ano, entre a mina de Juruti (PA) e a refinaria da Alumar, no Maranhão, que produz a alumina e o alumínio cerca de 1,5 mil quilômetros distante. Hoje essa movimentação já é realizada por cabotagem, mas por meio de serviço prestado por terceiros. O trajeto, que dura quatro dias, percorre parte do rio Amazonas até a costa, por onde segue até São Luís.
“Tratam-se de dois ativos operacionais [a mina e a refinaria] que são considerados estratégicos e de longo prazo para o grupo, então nada mais natural do que tratar o meio como também estratégico”, disse o executivo em conversa com o Valor.
A operação de cabotagem deverá ser suficiente para atender 100% da demanda da Alcoa
“Tendo o controle dos navios, teremos gestão direta e ativa dos custos. Há uma expectativa de menor consumo do combustível”, afirmou. Os ganhos de eficiência decorrem do menor consumo pelas embarcações novas, e devem ficar entre 30% e 40%, segundo testes feitos no trajeto.
“Ter sua mina de bauxita próximo à refinaria de alumínio, que na cadeia é a próxima etapa da produção, e ainda ter essa logística próxima e controlada por você gera uma vantagem competitiva muito grande com o mercado”, disse ele, que também destaca os ganhos ambientais. “Como consequência, há expectativa de redução de cerca de 30% de emissão de gases de efeito estufa.”
A mina de Juruti tem uma reserva potencial aproximada de 700 milhões de toneladas. A produção é encaminhada à refinaria, que é controlada pela Alcoa e tem como sócios South32 e Rio Tinto.
A operação de cabotagem deverá ser suficiente para atender 100% da demanda da Alcoa. Tiraboschi informou que a ideia do negócio é atender apenas as necessidades internas do grupo.
Entre os quatro novos navios, encomendados em um estaleiro no Japão, dois já chegaram ao Brasil – o primeiro em julho e o segundo em agosto. Os demais deverão ser entregues entre novembro e janeiro de 2025.
A companhia também já obteve aval da agência reguladora em agosto para operar os navios, e agora aguarda o registro da Marinha, segundo o executivo. “A expectativa é que [a operação] possa começar já a partir do último trimestre, ou até começo do ano que vem”, afirmou.
O trajeto entre a mina e a refinaria atravessa parte do rio Amazonas, mas em um trecho que não é o mais crítico nos períodos de seca – portanto, na última estiagem, o fluxo não chegou a ser interrompido totalmente, como em outras partes do rio. No entanto, a grave crise hídrica na região, que na visão de especialistas pode se tornar cada vez mais recorrente, é motivo de preocupação para a Alcoa. Com o calado menor, a capacidade de transporte é reduzida, o que diminui a eficiência, gera mais custos e reduz a segurança da navegação.
Porém, a empresa destacou que a questão não foi um fator central para a decisão de verticalizar a cabotagem. Apesar dos desafios, Tiraboschi destaca que o transporte marítimo na região é sem dúvidas a melhor opção. “Hoje é o modal mais eficiente. Não tem ferrovia que faça essa conexão”, afirma o executivo.